Por Edwin Hounnou
Gostaríamos de perceber as razões que levam agentes da PRM (Polícia da República de Moçambique) a disparar contra pessoas indefesas por motivos infundados e até mesquinhos. Está pegando moda agentes da PRM não ensaiarem as suas armas de guerra quando se encontram diante de pessoas. Matam manifestantes indefesos que apoiam partidos políticos, atiram contra os indocumentados, atiram contra tudo e todos.
O que se passa, afinal? Estarão os agentes da PRM mal preparados ou aprenderam que a vida do povo pesa menos que uma pena de uma andorinha? Aos assassinos em farda da polícia nada lhes acontece depois de matarem. Quando muito, simula-se uma detenção e depois são transferidos, assim, o assunto fica, definitivamente, enterrado, esquecido. Não há responsabilização criminal.
A PRM desculpa-se dizendo que tiveram que atirar pelo facto de o finado ter tentado apoderar-se da arma. Isso é uma grande mentira. Outros dizem que mandaram parar o moto-taxista e não parou, por isso, tiveram que o matar. Não há nada que possa justificar matar alguém. Não há motivo que justifique a interrupção voluntária da vida de quem quer que seja, pois, ela está acima de todos os motivos evocados pela polícia.
A polícia, por ser portadora de armas, não tem a prerrogativas de matar. Em Moçambique, a pena de morte já foi abolida. Nem que nao tivesse sido abolida, a sua execução não caberia a um polícia qualquer na rua ou numa esquina, tal como tem acontecido. A gente tem medo de se aproximar de um polícia porque não se sabe em que circunstâncias ele vai manejar a arma para matar.
A polícia está mal preparada para agir de tal modo? - Não acreditamos. Trata-se de um simples acto de indisciplina? - Não. Se o fosse os seus autores teriam sido presos e julgados. pois estes nem sequer são processados nem levados à barra da justiça. Essa é a razão fundamental por que os assassinatos perpetrados pela polícia persistem.
Os assassinos pensam que matar um cidadão seja um acto tão normal que não acarreta nenhuma consequência na vida. Os momentos eleitorais - recenseamento, campanha e votação - são propícios que a polícia se aproveita para matar à vontade e sem responder pelo crime algum. É como se matasse bichos selvagens. Até mesmo o abate do gado de corte obedece a regras. Ninguém aparece a explicar por que razão a polícia mata gente pacífica e indefesa.
O ministro do Interior tem que explicar ao povo, o mais urgente possível sobre as razões de tantos assassinatos levados a cabo pela polícia.
O Comandante-geral da PRM, homem da lábia, tem que convocar uma conferência de imprensa para explicar o que está a acontecer à polícia para não pensar duas vezes quando quer matar. Esses dois dirigentes não podem continuar em silêncio como se tudo estivesse bem.
Há assassinos infiltrados na PRM que se servem do fardamento e da arma para andarem a matar pessoas. Acreditamos nesta versão até nos provarem que os agentes não estão sendo treinados para matar nem existem ordens superiores para assassinar seja a quem for.
O silêncio do comando tanto local como ao seu nível mais alto, permite concluir de que matar cidadão seja um acto tolerável e nada acontece aos seus praticantes. Desafiamos ao Comando-Geral a dar um só exemplo de polícia preso, julgado e expulso da corporação por ter matado cidadãos indefesos.
Equivocamo-nos quando pensámos que o aumento dos efectivos policiais, que podem ser vistos por todo o lado em grupo de 3 ou 4 ou até mais, seria um reforço de segurança pública. Nada disso. A insegurança aumentou.
A polícia está mais preocupada em vasculhar pastas, embrulhos e bagagens dos transeuntes. Está mais preocupada em exigir BI, em saber de onde e para onde vai com o pato na mão, cabrito ou uma maleta na mão.
A segurança pública não se limita a vasculhar os bolsos dos transeuntes. Não estamos para dar lições operativas à polícia, mas o que se vê é de gente desocupada, sem uma tarefa concreta a executar na rua ou durante o patrulhamento. A arte de extorquir, entra, também, contaminou agentes da polícia municipal que actuam como vespas enlouquecidas.
Qualquer cidadão atento pode se aperceber que o aumento da polícia não significou, de modo algum, o reforço da segurança pública, porém, os problemas se multiplicaram muitas vezes e a situação vai de mal a pior.
Pela nossa própria experiência, é mais fácil e sem incômodo, viajar lá fora que no nosso país. No estrangeiro, viajamos à vontade, tanto de carro como a pé pelas cidades. Não há polícia que nos interpela em cada esquina para exigir documentos de identificação ou recibo de qualquer que levamos nas mãos. Qualquer dificuldade que tenhamos, a polícia é a melhor ajuda segura e confiável.
Diferentemente do que se passa entre nós em que o maior "atrapalhador" do transeunte/viajante é o agente da polícia.
É um sério risco dirigir-se à polícia na rua para perguntar seja o que for como a localização de edifício, loja ou restaurante porque a primeira coisa que o polícia pergunta é, invariavelmente, de onde vem e pede para mostrar documentos. É como se fosse para a boca de um crocodilo faminto. A nossa polícia não sabe ser hospitaleira, não ajuda tão-pouco aos necessitados na via pública ou em outras circunstâncias.
No estrangeiro, por onde os nossos dirigentes passam um bom tempo, a polícia não é temida pela população, mas é respeitada. É a ela que as pessoas se dirigem quando têm alguma dificuldade.
A polícia não é vista como grupos de malfeitores. Os que viajam de machimbombos, como nós o temos feito com frequência, sabem que a polícia de trânsito tem protagonizado um verdadeiro banditismo contra automobilistas. É raro o motorista ser mandado parar sem dar uma nota de 100 meticais para o lanche. Mandam para meter a mão pela janela do motorista a fim de sacar dinheiro.
É um espectâculo de gatunagem que a polícia de trânsito, e não só, tem oferecido para quem viaja por terra, em particular, de machimbombo.
O Ministro do Interior e o Comandante-geral da PRM não terão conhecimento dessa postura dos seus homens?
VISÃO ABERTA – 29.12.2023