A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) convocou uma conferência de imprensa nesta quinta-feira (14.12) para expressar a sua rejeição e não reconhecimento dos resultados provenientes da repetição das eleições autárquicas nos municípios de Nacala Porto, Milange, Gurué e Marromeu, que dão vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), força no poder. O Conselho Constitucional (CC) tinha deliberado no final de novembro a repetição do pleito devido à ocorrência de irregularidades na votação de 11 de outubro.
Clementina Bomba, secretária-geral do maior partido de oposição em Moçambique, afirma que tais irregularidades voltaram a repetir-se e representam uma ameaça à democracia, à paz, à reconciliação nacional e à alternância governativa.
"Estes crimes representam um autêntico golpe de Estado à soberania dos moçambicanos. Pelo exposto acima, a RENAMO condena todas as arbitrariedades cometidas nesse processo eleitoral e, por conseguinte, não aceita nem reconhece os resultados da repetição das eleições de 10 de dezembro", advertiu.
Responsabilização pelos incidentes
Clementina Bomba atribuiu ainda à polícia a responsabilidade por vários incidentesdurante o processo eleitoral, alegadamente agindo sob ordens do partido no poder.
"A polícia infligiu maus-tratos e deteve, sem culpa formada, vários delegados de candidatura da RENAMO, desviou urnas para impedir a transparência eleitoral e a produção de atas e editais. Na mesma autarquia, a polícia voltou a demonstrar o seu caráter assassino ao disparar gás lacrimogéneo e balas reais contra cidadãos civis indefesos que marchavam pacificamente, causando ferimentos graves e a morte de um concidadão", comentou.
À semelhança da RENAMO, o analista político Dércio Alfazema ressalta que os resultados das eleições são duvidosos devido a várias irregularidades durante o processo.
"Vimos situações em que boletins de votos circulavam fora do circuito normal, presidentes que se recusaram a assinar atas, detenções de delegados e até de eleitores, impedimento de observação, paragens ilegais durante o processo de apuramento, atas com assinaturas incompletas, contribuindo para alguns resultados que consideramos duvidosos", enumerou.
Morte de João Chamusse
A RENAMO também reagiu às suspeitas de assassinato do comentarista televisivo e jornalista moçambicano João Chamusse, ocorrido na madrugada desta quinta-feira (14.12).
Clementina Bomba classificou o ato como "a confirmação da captura do Estado".
"É uma tentativa de silenciar todas as vozes que lutam pelo respeito de um Estado de Direito democrático e pelos direitos e liberdades fundamentais. Aqui e agora, condenamos este assassinato e exigimos a responsabilização dos seus autores", frisou.
A secretária-geral da RENAMO condenou ainda o cerco policial à residência do cabeça de lista na cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, e a prisão domiciliária do presidente do município de Nacala-Porto, Raúl Novinte, ordenada por um tribunal local na quarta-feira (13.12).
DW - 14.12.2023