Por Edwin Hounnou
“Criou bases sólidas para o país crescer nos anos que se seguem como sustentável, competitivo, e inclusivo”. É assim como termina o Informe do Presidente da República, Filipe Nyusi, apresentado à Assembleia da República, no dia 20 de Dezembro de 2023.
Não custa, para quem vive em Moçambique, concluir de que isso é uma grosseira propaganda para tentar esconder as grandes asneiras que o seu governo vem cometendo.
O país não tem bases para iniciar a marcha com os pés próprios. O pouco que tinha foi destruído. O saque de seus recursos continuam. A incompetência governativa e a corrupção dominam toda a máquina administrativa do Estado.
Um país dividido e sem controlo. Na nossa terra - Pátria Amada -, rouba-se bem e para valer. Cada um leva para casa. Já não se rouba, leva-se, sem temer represálias nem da polícia nem dos tribunais.
O temor e respeito pelo bem comum é coisa do passado. Hoje, o bem comum é algo perdido que qualquer um pode levar como e quando bem o entender. As dividas ocultas são o exemplo vivo de roubo.
A coisa do povo virou coisa de ninguém. A ética e moral governativas já não dizem nada. Deixaram de existir nas mentes de muita gente do nosso país, por isso mesmo, tudo anda à deriva. Não constitui verdade dizer que estão criadas as bases para o país crescer nos anos que se seguem como sustentável, competitivo e inclusivo. O presidente da República deve estar a sonhar acordado ou, então, gosta de ser enganado pelo seu pelotão de lambe-botas.
A base de desenvolvimento de qualquer país é a educação e saúde. Um povo não educado não levanta nenhum voo. Um povo que percorre longas distâncias para chegar a uma unidade sanitária, está doente e, assim, não pode produzir para si e muito menos para os outros.
Não temos nem manuais de educação correctamente redigidos e até já trocaram a localização do país da África Austral para África do Norte e ninguém foi responsabilizado por tal invenção. Vimos funcionários menores a serem suspensos. Não se deu mais nenhum passo para.
A educação foi jogada para a caixa de lixo. Um finalista da 12. Classe não sabe interpretar um texto. Mal sabe ler. Mal sabe escrever.
Nós vivemos em mundos diferentes ou até opostos. Por isso, as nossas visões são divergentes. O povo vive na pobreza, ainda que digam que esta esteja a ser fustigada.
Continua a haver milhares de famílias que não sabem quando terão a próxima refeição. Aquilo que se diz de três refeições por dia não passa de uma mentira adocicada. A agricultura é periclitante. O badalado programa SUSTENTA é uma mera propaganda política enganosa para manter as elites cheias de dinheiro fácil. É uma forma que encontraram para enganar e endividar o país sem nenhum proveito.
O SUSTENTA não trouxe nem vai trazer qualquer mais-valia ao país. É uma fonte para amealhar dinheiro para os bolsos de algumas figuras ligadas ao poder que se fazem de salvadores do país.
É prática do governo incentivar importações para se aproveitarem das chorudas comissões. Moçambique já foi um dos países mais industrializados da África em metalomecânica, têxtil, indústria de calçados e uma referência da indústria de descasque da amêndoa de caju, porém, devagar, fomos descendo até ao nível de o povo ter que comprar sapatos e bikinis de segunda mão em fardos, como ironiza o falecido jornalista João Chamusse. Hoje, o país não produz nem agulha para pregar botão nas nossas camisas produzimos. Há motivos para se morrer de vergonha pela incapacidade generosidade de voltar a pôr o país nos carris de desenvolvimento.
É rato haver um país sem uma única estrada nacional praticável. Somos dos poucos que temos cerca de 700 quilômetros de estrada nacional intransitável por causa de crateras ao longo da via. O nosso país vai levantar o propalado voo?
Um país sem estradas é descontinuado. Se até as cidades se encontram em estado lastimoso, com ruas esburacadas e resíduos sólidos não regularmente recolhidos, é fácil imaginar como o país se encontra. A questão de transporte público é um problema grave. Nos últimos tempos, nota-se esforço notável para melhorar o sector de transporte público. Aplaudimos as iniciativas que surgem tanto ferroviário, como rodoviário e aéreo.
Regredimos no capítulo das liberdades democráticas. Não deixam o povo fazer as escolhas que achar melhores para si. Os enchimentos de urnas com votos falsos, a violência policial contra manifestantes e apoiantes das forças oposicionistas, a subversão dos resultados pelos órgãos eleitorais distorcem o sentido de uma eleição. Assim, não vale a pena perder rios de dinheiro por eleições de fantochadas.
O Ministério Público e os tribunais entram, também, na jogada política, intimidando e prendendo os edis da oposição, como está a acontecer com Raúl Novinte, da cidade de Nacala-Porto, e Paulo Vahanle, da Cidade de Nampula. A campanha política é considerada crime e seus autores encaminhados aos tribunais. Isso é uma grande burla!
O Conselho Constitucional é a vergonha das vergonhas. Tem a prerrogativa de subtrair, somar os números como achar. A lei eleitoral não lhe dá tais prerrogativas. A política entrou pelo judiciário adentro e a justiça saiu pelas portas traseiras. Ficou o que vemos - os tribunais a saírem em socorro do partido governamental. Juízes, de topo à base, tudo fazem para não desagradarem o partido no poder. O partido no poder é patrão dos tribunais, da polícia e dos órgãos eleitorais e até do Conselho Constitucional.
Em democracia isso não é comum, mas, está a acontecer para que todos vejam que a democracia já morreu e a gente da Frelimo, nomeadamente Filipe Nyusi, Celso Correia e Roque Silva se encarregaram do seu funeral nas eleições de 11 de Outubro passado..
Isso não é bom para a democracia nem para o país. O informe do Estado da Nação não tem glória. É vazio e descritivo. Não mostra o caminho a seguir. Deveria ter sido lido na Escola Central da Frelimo, por ser apenas um panfleto propagandístico e não um informe de Estado da Nação. Moçambique é um país proibido de crescer pelas nefastas políticas frelimistas. O povo não tem medo de lutar contra injustiças.