Por Edwin Hounnou
João Chamusse (JC), editor do jornal electrónico Ponto por Ponto, foi encontrado morto, na madrugada de 14 do corrente mês de Dezembro, na sua casa, no Distrito de Ka-Tembe, com sinais de ter sido golpeado por indivíduos até agora desconhecidos.
Antes de trabalhar para Ponto por Ponto, JC foi editor do Mediafax e mais tarde do então fogoso semanário Zambeze.
JC era jornalista de voz autorizada, vertical que se impunha pela sua visão crítica sobre os graves problemas políticos, económicos e por que o nosso país vem passando. JC era um analista multifacetado, corajoso e bastante perspicaz, por isso, tinha que arranjar mais inimigos que aimigos.
E na nossa sociedade, basta falar a verdade para ter inimigos e JC sabia muito bem disso.
JC, nas suas análises, era muito picante e didático e orgulhoso, no sentido de bom nacionalista. Ainda nos recordamos quando disse, na TV SUCESSO, que alguém que põe "bikini de segunda mão" não tem motivos para se orgulhar nem se intitular como soberano.
Se chega ao ponto de andar a vasculhar fardos de roupa velha à procura de um bikini de segunda mão, não pode evocar soberania porque, segundo ele, a soberania parte do bikini que usamos.
O bikini de que JC se referia é, exactamente, o que se passa connosco. Somos um país que não produz, vive de endividamentos, com a indústria destruída e agricultura em agonia.
Assim, não podemos ser soberanos. Um soberano anda de mão estendida a pedir o mais básico da vida? Um faminto não tem como ser soberano.
Nunca se é soberano quando não produz nem para se alimentar a si mesmo. A soberania reside no estomago a boca. Muito trabalhador e um bom amigo dos seus amigos. Um exímio cronista. Escrevia com Muito gosto e tinha limpeza na linguagem. Não era difícil perceber o alcance do que pretendia transmitir. Era sempre com grande prazer ler as suas picantes crónicas.
Ensinava, com entusiasmo, aos principiantes a arte de bem escrever. Lá da Ka Tembe, onde vivia, os vizinhos afirmam que JC era um bom homem e mantinha um bom relacionamento com os seus próximos.
Bebia um pouco para alegrar a alma, como se diz, mas sem perder a noção de si nem perdia respeito pelos seus vizinhos.
Perguntamos nós : quem o assassinou e porquê? - eis algumas perguntas que vão perdurar pelos tempos.
Casos antigos de assassinatos ainda não foram esclarecidos. O caso de Raúl Zunguza há mais de 30 anos apodrecendo nas gavetas. O de Siba-Siba Macuácua nem se fala mais nele. Os familiares e amigos recordam-se e depositam flores no chão do banco para onde foi jogado por indivíduos que iam ficando ricos com o dinheiro que sacavam do banco.
O caso de Carlos Cardoso ficou, parcialmente, esclarecido devido à pressão de tanto amigos que tinha e do país de origem da sua mulher. Alguém voltou a ouvir falar do caso do professor franco-moçambicano, Gilles Cistac? - Nem mais uma palavra.
Admiravelmente, no caso JC já há um suspeito e sob custódia policial, em 24 horas apenas. Trata-se de um vizinho que havia dito que o malogrado era uma boa pessoa e não fazia mal a ninguém. A família refuta a pretensão da polícia de culpar um inocente.
A polícia já mudou a sua postura de mentir e de, em momentos difíceis, estar do lado mal e dos opressores? Estamos habituados a ver a polícia a mentir ao povo e, agora, nos custa bastante acreditar que o ora suspeito seja, de facto, o verdadeiro autor do homicídio.
A voz de João Chamusse não incomodava os pobres, os espoliados e os empobrecidos pelas políticas erradas que o país vem seguindo desde que nos tornamos independentes.
A voz crítica e vertical de JC só podia incomodar o poder. A pressa com que a polícia tenta esclarecer este assassinato está a levantar imensas suspeitas. A suposta poluição sonora que JC provocava quando estivesse um pouco mais alegre, não pode constituir motivo bastante para o assassinarem. Que encontrem outros motivos para convencer as pessoas. Esta música não cola tão-pouco.
A polícia têm alguma coisa a esconder? - Parece que sim, está a tentar ocultar alguma coisa. Em apenas 24 horas depois do assassinato do JC a policia aparece a dizer que já sabe quem foi o assassino.
Desejaríamos que tivéssemos uma polícia capaz e eficiente, mas, não temos. A polícia está ligada ao partido no poder e isso é mais evidente em momentos eleitorais. Ela é forte com os fracos e fraca com os fortes.
Até prova em contrário, as nossas suspeitas sobre o verdadeiro autor da morte de JC ainda se mantêm. Estamos convencidos de que a polícia esteja a faltar a verdade sobre a quem apresentou como o suspeito. Pretende a polícia ludibriar a opinião pública a fim de esconder os verdadeiros mandantes e assassinos?
Estamos, neste canto, de olho aberto para vermos qual vai ser o desfecho desta novela de longa metragem.