Por Edwin Hounnou
Os raptos estão imparáveis, nas principais cidades do país e as autoridades pouco fazem para pôr termo a este mal que vem afectando, de forma grave, a economia nacional e cria instabilidade nas famílias. Raptar é um negócio chorudo que tem golpeado a economia, afugenta potenciais investidores económicos por temerem que possam ser as próximas vítimas dos malfeitores.
Ninguém sabe quem vai cair na próxima cilada dos criminosos, porém, é certo que será um agente econômico, com realce para empresários e comerciantes de origem indiana ou paquistanesa e, raramente, de outras nacionalidades. Há, de quando vez, notícias de raptos de empresários de origem portuguesa.
Os raptos abalam, tremendamente, as comunidades e a classe empresarial. Empresas fecham as portas e alguns empresários preferem dirigir ou monitorar os seus negócios a partir do além-fronteiras.
Os raptos ocorrem a toda a hora e em qualquer lugar. Há raptos durante a noite, de manhã ou a tarde. Em casa, na empresa, junto à porta da saída do colégio ou na rua. Nas proximidades das esquadras policiais ou à saída das residências das vítimas ou ainda nos locais de trabalho e nos cafés, etc.
Até grupos de policiais armados se escondem quando iniciam tiros dos raptores. Tudo acontece com toda a naturalidade como estivéssemos numa grande floresta onde não há ordem nem lei.
Grupos de patrulhas compostos por três, quatro ou mais agentes da polícia não servem de persuasão aos raptores. Ainda não há qualquer registo que um rapto tenha sido abortado pela intervenção rápida da polícia.
A polícia não socorre a quem estiver a pedir socorro. Aparece mais tarde para cercar o espaço por um tempo e depois desaparece. Tudo termina por aí. O porta-voz da polícia vem com a ladainha de que "a polícia está no encalço dos criminosos a monte". Não se sabe de que monte se refere.
O resgate é tarefa dos familiares. O valor pode oscilar dependendo a emoção dos familiares e da exigência dos raptores. Os familiares dos raptados não aceitam falar à polícia por desconfiarem que informação chegue aos raptores. Desconfiam de que a polícia seja parte dos raptores ou esteja em estreita colaboração com os malfeitores. Preferem não abrir a boca, pois, pela boca fechada não entra nem sai mosca alguma.
Quando se tem um familiar no cativeiro, os parentes preferem negociar o pagamento do resgate em segredo. Todo o cuidado ê pouco, pois até as paredes ouvem. Nenhuma informação é facultada à polícia e isso resulta da percepção de que há operativos da polícia que participam nos raptos e nos dividendos. Diz-se que o homem prevenido vale por dois. É melhor não abrir a boca, nem para a polícia nem para a imprensa.
O governo de Moçambique nunca aceitou a colaboração de outros países que propõem a ajudar a combater os raptos. Estamos recordados da oferta da Polícia Judiciária Portuguesa, quando o empresário luso, Américo Sebastião, foi raptado, a 19 de Maio de 2016, em Nhamapaza, distrito de Maringue, na província de Sofala, desapareceu até aos dias de hoje. Existem informações que de ofertas de serviços de outros países, mas o governo de Moçambique nunca abriu a mão. No entanto, os raptos prosseguem.
A única vez que a polícia entrou em acção para libertar um raptado foi quando pegaram num empresário indiano, proprietário dos supermercados RECHEIO. O primeiro-ministro da Índia pediu ao presidente Filipe Nyusi para que ajudasse na libertação do seu amigo, sob o risco de perder investimentos. A polícia empenhou-se até à sua libertação.
Os raptados que não tem tal privilégio, lutam por si, juntam o valor do resgate, depois são soltos e voltam ao seio familiar. Uns continuam no país, continuando com seus negócios, enquanto outros optaram por procurar por países que oferecem segurança.
Porquê as autoridades não se empenham no combate aos raptos? Será por insuficiência de pistas que os raptores agem impunemente?
Os pagamentos do resgate são feitos por transferências bancárias e isso poderia ser uma pista privilegiada para se saber quem foi o emissor e o receptor do dinheiro transferido. Mas nada disso acontece.
Os raptores recebem informações privilegiadas da situação financeira dos seus alvos a partir dos respectivos bancos, a partir se poderia detectar o circuito. Existem caminhos que podem ajudar a esclarecer o circuito do crime, porém, não convém a algumas pessoas. Por isso, Existe uma percepção generalizada de que os raptores são protegidos pelo Estado. Eles usam armas (AKM) e munições do Estado. A polícia que não os persegue, é do Estado. Há graúdos metidos nesta empreitada criminosa.
O rapto é um crime que se pode combater, todavia, convém a um grupo específico que tira proveitos desse crime. Os raptos abarrotam contas bancárias de muitos que tentam passar por gente de bem enquanto são criminosos de colarinho branco. Os raptores são acarinhados por alimentarem gente importante, por isso, ninguém mexe a palha para combater este tipo de crime.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 31.01.2024