Segundo o porta-voz do partido, não há previsão para a realização do Congresso da RENAMO. Em entrevista à DW, José Manteigas diz que "haverá condições para qualquer membro apresentar a sua pretensão" à liderança.
O mandato de Ossufo Momade na liderança da RENAMO chega ao fim em poucos dias, mas isso não deve ser motivo de preocupação para o partido, segundo o porta-voz José Manteigas. O responsável afirma que não há previsão para a realização do Congresso, mas que, "em sede do evento, haverá condições para qualquer membro apresentar a sua pretensão" à liderança.
No entanto, em entrevista à DW, Manteigas admite que a RENAMO foi surpreendida por Venâncio Mondlane, que não descartou a sua candidatura à liderança do maior partido da oposição moçambicana.
DW África: O mandato de Ossufo Momade à frente da RENAMO chega ao fim no próximo dia 17. Para quando o Congresso para a eleição do novo líder do partido? Já existe alguma data?
José Manteigas (JM): Neste momento, não temos uma data exata. Estamos a sair das eleições agora e estamos num processo de reivindicação. Mas o que é facto é que, em termos estatutários, o Conselho Nacional que tem que reunir para marcar o congresso, um evento estatutário. Por isso mesmo, o partido, assim que as condições forem criadas, irá convocar o congresso.
DW África: Como é que a RENAMO reage às críticas que falam em divisões internas no partido e alguma crispação?
JM: Não, a RENAMO não está dividida. O que está a acontecer é que há um debate interno que transbordou para fora do partido por conta de algumas pretensões internas relativas à candidatura do presidente do partido. Mas não estamos divididos. Estamos num pleno exercício democrático interno que está a resvalar para fora das portas do partido.
DW África: Mas para o líder do Partido Independente de Moçambique (PIMO), por exemplo, essa possível desorganização pode fortalecer a FRELIMO e, por outro lado, enfraquecer a oposição. A RENAMO não teme isso?
JM: Não. Nós somos pela democracia. Aliás, a RENAMO lutou pela democracia. E um dos pressupostos da democracia é a liberdade de expressão. Portanto, dentro do partido, ninguém é cortado de exprimir o seu pensamento e a sua vontade. Mas isso não significa a divisão do partido.
DW África: Anunciou, há dias, que Momade seria o candidato da RENAMO nas eleições gerais. No entanto, essa decisão foi contestada até mesmo por membros do partido como Manuel de Araújo.
JM: Eu não disse que o presidente Ossufo Momade seria o único candidato. O que eu disse é que Momade, neste momento, é o presidente do partido, é o nosso líder. É aquele que está a dirigir à altura dos desafios do país. Por essa via, o presidente Ossufo Momade é candidato. Enquanto não se realizar o congresso, não se realizar o conselho nacional.
Em sede destes dois eventos, qualquer membro do partido, haverá condições para qualquer membro apresentar a sua pretensão, as suas intenções.
DW África: Nesse sentido, a RENAMO não foi então supreendida pela possível intenção de Venâncio Mondlane....
JM: Aí ficamos surpreendidos, porque ele nunca tinha antes se pronunciado sobre isso. Foi na sequência do meu pronunciamento, porque nós temos um horizonte temporal, que são as eleições e o partido tem que estar claro. Já está decidido que vai concorrer. A RENAMO sempre concorreu e vai concorrer, mas não tínhamos a informação de que o colega Venâncio, efetivamente, era candidato ou pretendia ser candidato a presidente do partido. Na sequência dos meus pronunciamentos foi que ficamos a saber.
Mas, volto a referir, enquanto Ossufo Momade for presidente, ele é um potencial candidato quer à sua sucessão, quer à Presidência da República.
DW África: E, apesar da surpresa, Mondlane teria o apoio da RENAMO?
JM: Não tenho nem o mandato, nem tenho conhecimento. Como já disse, temos órgãos próprios. Portanto, esses órgãos é que vão legitimar quer a continuidade do presidente Ossufo Momade, quer a intenção de quaisquer outros quadros que queiram concorrer.
DW – 11.01.2024