Fui arrastado, como um fardo, para última fila. Para o lugar de invisibilidade. Na última fila, não há luzes, não há ribalta, não há honrarias e vaidade de ser um entre os primeiros. Na última fila já não vemos as enormes cortinas subirem e descerem para o espectáculo começar e encerrar. Na última fila somos invisíveis. Passamos de actores para espectadores. Na última fila somos objectos e não sujeitos. Na última fila se rasgou o manto das certezas e fomos cobertos pelo fino linho da humildade.
Na última fila, baixou salário. Na última fila, regalias e subsídios foram retirados. Na última fila, aquele que era a "Voz dos que não tem Voz", também ficou sem voz. Na última fila, ninguém vê as minhas costas, mas vejo as costas de muitos. Na última fila vejo, como um helicóptero, todo auditório. Na última fila descobri que há poesia.
Na última fila não há prosperidade material, financeira, brilho, mas na última fila ainda há honra, há convicções e ainda é possível ser escravo da consciência e não dos homens e das conveniências. Na última fila as câmaras das televisões que me buscavam com avidez, hoje usam a minha cabeça como tripé. Na última fila, a bancada antes adversária e inimiga me acena discretamente, lançam ao ar beijos e piscares de olhos. Na última fila descobri que há romantismo.
Na última fila está hibernada a reserva moral para a revolução e para ética de que todos falam, mas que ninguém pratica. Na última fila estão sendo fermentadas as palavras e as acções que darão ânimo aos jovens e adolescentes em agonia. Na última fila está o armazém do material de construção que será usado quando a muralha da intolerância desmoronar. Na última fila há gravidez: a verdadeira e genuína esperança virá ao mundo brevemente. Eis que a última fila dará a luz no meio das trevas e do conformismo. Na última fila há verdade. Na última fila há justiça. Na última fila....eis que tudo se fará novo.
Venâncio Mondlane - deputado da última fila