Por Afonso Almeida Brandão
(Vamos ao circo...?)
Há mais de quarenta anos era este o apelo lançado pela icónica banda portuense, homónima da letra, ainda que a sigla se refira ao Grupo Novo Rock. Quatro décadas volvidas, às portas do centenário abrilense e face à evolução das forças de segurança, provavelmente carecia de actualização. Vem ser um PSP ou, preferencialmente, vem ser um PJ, seria um excelente mote de recrutamento para a investigação policial, substituindo, como se impõe, a expressão “uma farda e um boné”, por “viagens à Madeira”.
Ridículo todo o aparato criado à volta da detenção de TRÊS (sim, leu bem, três) indivíduos. Mais de uma centena de operacionais do continente, aviões fretados à Força Aérea, camionetas à espera da trupe e hotéis para o pessoal, para trazer TRÊS sujeitos à Capital. O Ministério Público mais parece uma agência de viagens e, contas feitas, o prejuízo que esses meliantes alegadamente terão dado, não deve dar para pagar os custos da investigação. Às viagens bem podia o MP juntar o pacote estadia (já só ficaria a faltar o aluguer de viatura), na medida em que, pelo menos, desde a detenção de Luís Filipe Vieira, se habituou a deixar os detidos nos calabouços por vários dias. Foi assim na Operação Influencer e (deve ser pacote premium!), assim o é com a malta da Madeira, detida há mais de uma semana. Há propostas de viagens às Caraíbas que duram menos tempo…
Mas o tempo aprimora a qualidade do serviço e, nesta operação, até curou de avisar os jornalistas de véspera para que pudessem fazer uma reportagem fotográfica completa. Parece aquelas cenas dos parques temáticos em que a malta está tranquila a andar na montanha russa e quando sai leva com um álbum de fotografias em que está sempre com cara de parvo!!!
Ora, com esta regra do primeiro detém-se e depois logo se vê, se Sócrates fosse detido hoje teria tempo para tirar o curso de Engenharia enquanto aguardava para ser ouvido pelo Juiz.
E se o Ministério Público foi de avião, Montenegro andou, mais uma vez, a ver balões… Deixar que fosse Miguel Albuquerque a gerir os timings do processo, é de amador. Teria, obviamente, de forma concertada com aquele, de ser o líder do partido, a “impor” as condições, brilhando no momento em que a decisão fosse anunciada. E, embora não releve, nem seja uma decorrência da condição de arguido, só lhe ficava bem “destituir” Albuquerque na Mesa do Conselho Nacional, já que nenhum deles capitaliza e o sinal dado seria inequívoco.
Não que exista paralelismo com a demissão do «Metralha» Costa — entendo que as circunstâncias são completamente diferentes e, reitero, aquele não se demitiu por estar a ser investigado num processo crime, mas pela descoberta de dezenas de milhar de euros num armário do seu chefe de gabinete — certo é que a mesma abriu um precedente grave que, a manter-se, levará a que os titulares de cargos políticos que sejam constituídos arguidos, se devam demitir. Coisa que o PS nunca praticou e ainda hoje não pratica. Fala, exige aos outros, mas nomeou Galamba para Ministro quando este era arguido e mantém a confiança política e Eduardo Vítor Rodrigues em funções na Câmara de Gaia, mesmo depois de este ter sido condenado… Rui Sinel de Cordes acaba por ser um menino no humor negro, quando comparado com Paulo Cafôfo. Este exige a demissão imediata de Miguel Albuquerque por ter sido constituído arguido e anuncia que está pronto para liderar o Governo da Madeira, apesar de ser arguido… Digam lá se não é brilhante? Ah!, Cambada!!!
Como vender banha da cobra ainda não constitui crime, Pedro Nuno Santos está, para já, a salvo! Prometer aumento do salário mínimo e médio para valores muito próximos dos que o Chega propõe, não é populismo, é governação responsável. Jurar que vai recuperar o tempo integral dos professores e, posteriormente, estender ao resto da função pública, não é populismo, é reposição de direitos. Assegurar que vai eliminar as portagens nas SCUTS no Algarve e no interior do país, meses depois de ter chumbado uma proposta do PSD para reduzir aquelas taxas, não é populismo, é coesão territorial. Garantir que vai resolver a questão dos médicos, das listas de espera e das urgências, não é populismo, é justiça social. Já só falta prometer a redução das gravidezes para seis meses, encontrar a Maddie Mccann e o Benfica campeão sul americano. Enfim, o céu é o limite, mas as perguntas difíceis têm sempre os mesmos destinatários e ao que parece o populismo só existe à direita…
Por último, Duas Notas
Nos Açores antecipa-se uma (nova) vitória de Bolieiro. Sem maioria que lhe permita governar, sem ser com o Chega, seja no Governo, seja com um acordo parlamentar. A solução contaminará, seguramente, as eleições legislativas. Montenegro não terá vida fácil para explicar o resultado. Houvesse um pingo de inteligência e argúcia política em quem o acompanha e aconselha e este viria ainda hoje (já ontem seria tarde!) garantir a total autonomia e independência aos governos regionais na composição dos elencos legislativos. É como ter apenas uma mísera folha de papel higiénico após uma diarreia. Não resolve, mas sempre ajuda…
Na Madeira a fava calhou a Marcelo. Fica em suspenso, por força constitucional, até Março, altura em que uma dissolução já pouco ou nenhum sentido fará! Mas, também ele, está refém da solução que preconizou…
Neste hospício que é a (des)governação em Portugal, vamos ao circo? Pode ser que o MP tenha algum pacote em conta…
Ah! Cambada!!!