Depois de três desmentidos públicos, MTC começa a desconfiar de Sérgio Matos
Após receber relatório duvidoso, MTC ligou para os fornecedores para confirmar
A Fly Modern Ark vive um dos momentos mais nebulosos desde que chegou a Moçambique com a missão de salvar a LAM. Em menos de uma semana, a empresa, que tem apostado numa estratégia mediática para se promover enquanto esconde as suas fragilidades, teve três desmentidos em praça públicas, apenas uma semana depois do próprio ministério dos Transportes e Comunicações (MTC) ter iniciado um trabalho nos bastidores, visando esclarecer o saldo real das dívidas da companhia de bandeira. É que, para esconder a situação calamitosa de uma companhia em derrapagem em plena reestruturação, a FMA, que actualmente controla as finanças, tem apostado numa estratégia de maquiar os números, anunciando um valor de dívida com fornecedores inferior ao montante real. Desconfiado, o MTC tem estado a ligar sorrateiramente aos fornecedores a confrontar as informações.
Com o contrato a expirar em Abril e com renovação pendente, a Fly Modern Ark tenta de tudo para poder garantir uma reputação favorável, mas os seus resultados operacionais ao fim de mais de 10 meses de intervenção na LAM deixam muito ainda a desejar.
A companhia de bandeira, longe dos concorridos banhos de media nos quais Sergio Matos esconde as fragilidades de uma gestão questionável, atrás de acusações a outros, continua de rastros, com uma dívida cada vez mais crescente, problemas de combustíveis, atrasos constantes dos voos, avarias regulares e uma frota deficiente.
As contas, essas, continuam no vermelho com tendência a agravarem-se devido a decisões operacionais desastrosas, como é o caso da abertura de novas rotas, na sua maioria internacionais, sem antes consolidar as domésticas, que pressionam sobremaneira as finanças.
O politizado voo Maputo-Lisboa é disso um exemplo. Tal como o Evidências revelou, há dias, a companhia de bandeira, numa operação liderada pela FMA, deve pouco mais de 1.3 milhões de euros ao fornecedor da aeronave. Por essa razão, a FMA já tem sob sua mesa um ultimato para um pagamento do valor, caso não haja rescisão do contrato.
Pela mesma operação, a LAM soma outros milhões em dívidas de combustível só com a Petromoc, o que terá recentemente condicionado o fornecimento do jet para os aviões, deixando centenas de passageiros por terra.
Estas e outras dívidas têm sido ocultadas pela Fly Modern Ark ao governo e ao povo moçambicano. Aproveitando-se da sua penetração fácil nos medias, a FMA vai usando a táctica de esconder a cabeça e entregar o corpo, ou seja, quando se vê encurralada, abre a fossa para libertar o cheiro da podridão provocada pelas sucessivas gestões danosas da LAM.
Na sua mais recente empreitada, a FMA entregou ao ministério um relatório sobre a situação dívida da LAM, cheia de “martelanços” que fizeram até os burocratas da baixa desconfiarem.
É que, segundo apurou o Evidências, a FMA apresentou estatísticas que apontam para uma redução drástica das dívidas da LAM com fornecedores, numa altura em que a tesouraria regista um défice e as operações das novas rotas estão a gerar prejuízos.
Desconfiado, o ministério liderado por Mateus Magala ligou para uma dúzia de fornecedores para apurar o valor real da dívida, tendo constatado discrepâncias insanáveis entre o volume real e o que vem sendo expresso pela FMA.
Da confrontação, descobriu-se que, afinal, a firma sul-africana, cuja experiência ainda não foi devidamente comprovada, maquiava os números para dar a entender que o volume da dívida estava a decrescer, quando na verdade está numa tendência ascendente.
Dos três desmentidos à entrada da PGR e SERNIC em cena
Na semana passada, para sacudir a pressão, o diretor de reestruturação das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), Sérgio Matos, abriu a fossa e espalhou o cheiro pela aldeia, denunciando um alegado esquema de desvio de dinheiro que lesou a companhia de bandeira na ordem de três milhões de meticais através de máquinas dos terminais de pagamento automático (POS) que não são da companhia.
Igualmente, acusou as gasolineiras, sobretudo a Petromoc, de terem sido responsáveis pelos atrasos e cancelamentos de voos devido à falta de combustíveis.
Tanto a informação sobre alegada existência de um esquema de desvio através de POS, assim como a informação sobre a falta de combustíveis foram prontamente desmentidas.
A Petromoc foi a primeira a aparecer a negar que tenha registado ruptura de stock. Aliás, esclareceu que no dia em que foram registados os atrasos dos voos tinha combustível, mas evocou ética contratual para não avançar as razões que a levaram a suspender o abastecimento dos aviões.
Por sua vez, a direcção-geral das Linhas Aéreas de Moçambique, através de uma carta enviada ao ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, distanciou-se das declarações de Sérgio Matos.
“A Direcção da LAM – Linhas Aéreas de Moçambique SA, reunida em colectivo de emergência, distancia-se dos pronunciamentos feitos pela FMA, na conferência de imprensa decorrida no dia 12 de Fevereiro, na sala de reuniões do Conselho de Administração da LAM (…) Esta informação não foi previamente partilhada com a Direcção-Geral da LAM, tendo sido esta colhida de surpresa quando a informação foi veiculada pelos órgãos de informação”, refere a Direcção-geral da LAM.
Já por sua vez, o sindicato dos trabalhadores da LAM distanciou-se dos pronunciamentos e da forma como a informação foi publicada, adiantando que mancha a reputação dos trabalhadores honestos. Entretanto, instou as autoridades a trabalharem para o esclarecimento e responsabilização de quem quer que seja.
Dito e feito, após a circulação de informações de alegada corrupção, a PGR e o SERNIC foram despachados para investigarem os rumores levantados por Sérgio Matos, mas também para passarem um pente fino nalgumas operações da FMA, incluindo os pagamentos mensais a uma empresa que disse no início que não iria receber nenhum tostão, senão partilha de lucros.
EVIDÊNCIAS – 20.02.2024