EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (175)
Muitos já o disseram. Retomo a questão. Moçambique é um Estado falhado. Aqui a democracia é uma farsa. As eleições não passam de um ritual para a Frelimo se perpetuar no poder.
Os raptores estão entranhados no âmago do poder político. Assim se compreende, de certa forma, o comportamento passivo e de negação de pedir ajuda internacional para o combate aos raptos, pois o Governo da Frelimo é o principal agente da captura do Estado.
Ontem, na abertura do ano judicial- e o Presidente estava presente-, a Procuradora-Geral da República (PGR) pediu apoio no combate ao tráfico de droga, face às “teias” que este tipo de criminalidade já tem “nas instituições públicas” do País, da Polícia à política.
Ora, a situação descrita ontem pela PGR, que resulta da captura orquestrada pelos agentes do partido Frelimo, não é nova, mas agravou-se nos últimos anos. A captura foi feita de uma forma dissimulada por governantes bem conhecidos que a magistrada, muito provavelmente, tem omitido os seus nomes dada a sensibilidade do assunto.
Estes grupos de interesses específicos formados por ministros, governadores, secretários permanentes, assessores, chefes da Polícia e outros apoiam a permanência no poder do partido Frelimo na esperança de vir a beneficiar da captura do Estado.
A pratica mostra que isto acontece enquanto houver convergência entre os interesses do partido Frelimo e os interesses individuais de cada um dos potenciais beneficiários. Aqui a sociedade civil é fraca, o Parlamento e o sistema judicial estão debaixo da mão da Frelimo e a imprensa é, em grande parte, controlada pelo Governo ou totalmente intimidada.
Como é que podemos dizer que estamos a construir um País decente? Quando a Frelimo é acusada, por exemplo, de roubo nas eleições, é o próprio Governo da Frelimo que coloca indivíduos do partido para investigarem se efectivamente houve fraude ou não.
Quer dizer, é a Frelimo que se está a investigar a si própria e essas tácticas foram usadas sempre para a Frelimo assegurar que vence as eleições.
Há muito que se pode dizer sobre este empobrecido País. E as constantes denúncias da PGR já não passam disso.
Nada, aparentemente, a impede de tratar esses bandidos como manda a lei, a não ser que ela também faça parte do grupo. Os queixumes da PGR são como se fosse prova de vida. De quando em vez tem que vir a público provar que ela existe.
DN – 02.02.2024