Por Edwin Hounnou
Eduardo Namburete, um intelectual e político da oposição, muito competente, acabou de ser indicado para o cargo de embaixador plenipotenciário de Moçambique na Republica da Argelia, pelo Presidente da República (e presidente do partido Frelimo)
Eduardo Namburete já foi director do Gabinete de Comunicação da Reitoria da Universidade Eduardo Mondlane e director da Escola de Comunicação e Arte da mesma Universidade pública, de onde foi "corrido" dos dois postos logo que se juntou à Renamo, nos meados de 2004.
Ficou claro que ser militante ou demonstrar simpatia política por um partido da oposição, em Moçambique, é muito arriscado. É tornar-se tipo "inimigo" do partido Frelimo, a proprietária do nosso Estado e do destino dos moçambicanos.
A saga contra quem se simpatizasse com a oposição ou com ela fosse confundido, logo a seguir à introdução do sistema multipartidário, começou com a governação de Armando Guebuza (2005/2015) que, um por um, lançou para fora os membros da oposição colocados na administração pública pelo seu antecessor, Joaquim Chissano.
Estamos ainda bem recordados como os Correios de Moçambique como se haviam reerguidos no tempo do Dr. Benjamim Pequenino, membro da Renamo, mas competente, estudioso e muito trabalhador. Esses atributos de bom gestor da coisa pública nada lhe serviram perante o rancor dos frelimistas que julgam que a competência seja sinônimo de ser portador do cartão vermelho. Benjamim Pequenino foi, "girado" e os Correios voltaram à estaca ZERO. Hoje, as instalações dos Correios estão desertas, às moscas, como resultado da política da exclusão e intolerância da Frelimo.
Filipe Nyusi ao indicar Eduardo Namburete para o cargo de embaixador quis transmitir o sinal de inclusão política. Porém, quanto a nós, o maior sinal de inclusão política e econômica não se circunscreve em indicar nomes sonantes da gente da oposição para um e outro cargo público de alguma visibilidade, como Nyusi está a tentar fazer. Nomeiou Raúl Domingos para embaixador de Moçambique junto à Santa Sé. Hoje, o seu PDD está moribundo. Já no final do mandato, quando faltam 11 meses para Nyusi ir à vida, indica Namburete para embaixador. Que se deixem enganar aqueles que assim o desejarem. A nós não nos enganação nunca!
Enquanto isso, não se conhece nenhum ministro, nenhum vice-ministro, nenhum director de qualquer coisa, secretário de estado, administrador de um distrito, director de uma instituição qualquer conheça ocupado por membro da oposição.
Se Filipe Nyusi fosse pela inclusão, tolerância, paz e desenvolvimento do país, a primeira coisa que deveria ter feito seria respeitar a vontade popular expressa nas urnas. Não foi isso o que se viu. O STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), a CNE (Comissão Nacional de Eleições) e o Conselho Constitucional jogaram contra a vontade do povo que votou pela mudança e contra a permanência do Partido Frelimo no poder, de forma ilegítima.
Como se isso não bastasse, Nyusi mandou a PRM (Polícia da República de Moçambique) perseguir, prender e matar a quem se mostrasse abertamente contrário às manobras dos órgãos eleitorais. O povo votou pela mudança. Votou contra a Frelimo. Os que se manifestavam pelas ruas das nem todos morrem de amores pela Renamo ou MDM, mas querem mudanças.
Inclusão é compreender que a vontade do povo. É sentir o palpitar do coração do povo que anda cansado de uma governação que arruína o país há cerca de 50 anos. Inclusão e tolerância não é o piscar de olho enquanto o país está ficando cada vez mais inviável, mais subdesenvolvido.
Inclusão e tolerância passa pela mudança. Inclusão e tolerância é termos estradas praticáveis, sem buracos nem crateras. Um sistema de saúde eficaz para curar as doenças que apoquentam o povo. Um sistema de educação para educar o homem de ver com olhos de ver o seu país e perceber para onde estão a levar Moçambique.
A educação de má qualidade vai permanecer e a produzir gente desprovida de espírito crítico. O sistema de transporte público não será reposto. O país não voltará a ter indústria para transformar a produção das nossas machambas. A agricultura de enxada curta não será ultrapassada. A importação de batata, arroz, cebola, tomate, alho, cenoura, banana, etc., vai continuar a abarrotar os bolsos dos comissões que inundam os ministérios.
Se as eleições não servem para escolher por quem se deseja ser governado, então, não servem para nada. Se as eleições não ajudam a mudar o destino do país, não vale a pena gastar dinheiro.
Os direitos humanos, que pressupõe o respeito da lei e da vontade popular, quando, na verdade, não passa de uma grande e mentira. A Frelimo não respeita a vontade do povo. Vivemos num sistema multipartidário aparente, mas, ao fim do dia, somos por sistema monoipartidário. A aceitação teórica do multipartidarismo não visa enganar. Nunca aceitou o pensar diferente.
Quem se deixa enganar com esses truques é a nossa oposição política que não se organiza para tomar o poder. No momento crucial de luta, a oposição está a manter-se, a insultar-se e a proclamar-se candidato do partido e para as eleições presidenciais fora dos órgãos e contra os seus próprios estatutos por causa das migalhas que caem da mesa do poder.
A oposição não se lembra de lutar contra um regime podre e apodrecido, por ter a boca cheia. O povo precisa de gente com visão e capaz de pôr o país a correr. A Frelimo provou que não serve para as exigências do país.
Precisa-se de gente com capacidade de pensar bem. A oposição que temos persegue apenas "tacho", como bem se vê o que está a acontecer no seio da Renamo. Bate-se pelas as migalhas que caem da mesa do poder e é cúmplice da Frelimo. A oposição não luta para chegar ao poder. Agora que devia no terreno a mobilizar os potenciais eleitores, mas tudo em silêncio.
Desejamos sucessos a Namburete no cargo de embaixador e lembrar-lhe que a sua nomeação não vai ressarcir os prejuízos acumulados pela intolerância política e exclusão que o partido no poder vem praticando contra aqueles que pensam diferente.
A luta por um Moçambique inclusivo não vai esmorecer por causa de migalhinhas que caiem da mesa do poder de modo quase secreto que até apanhou de surpresa a própria direcção da Renamo. O que há para tanto secretismo? - Nada de especial.
VISÂO ABERTA – 12.02.2024