Por: Jorge Eurico - Jornalista, escritor e influencer angolano
Venâncio Mondlane é um intelectual e político moçambicano filiado à RENAMO por quem os sinos se têm dobrado nos últimos tempos do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo. Há, por isso, muitos patrícios seus emulados por causa do prestígio social e protagonismo político do “menino da cidade” seduzido pela causa de um partido opositor que se bate contra establishment moçambicano.
Os seus camaradas mordem-lhe os calcanhares e respiram na sua nuca com o indisfarçável propósito de destruí-lo. É uma forma politicamente jumenta que a RENAMO encontrou de se autoflagelar. É um tresloucado processo autofágico que só dá trunfos à FRELIMO. A oposição está a combater a “revelação política” dos últimos anos da Pátria-Natal de José Craveirinha. Um combate que se esperava do partido no poder. Mas não. A própria RENAMO está a tentar ofuscar o brilho da mais recente estrela política moçambicana: Venâncio Mondlane. É uma espécie de RENAMO contra RENAMO.
A RENAMO transformou Venâncio Mondlane num inimigo a abater. A FRELIMO diverte-se à beça por ver os membros do partido fundado por André Mantsangaissa a partirem-se os dentes e a furarem-se os olhos. Não se incomodam se vão todos acabar desdentados ou sem olhos. O partido no poder em Moçambique, enquanto isso, conta espingardas e prepara o dia seguinte. Vesga, a oposição degladia-se internamente. É uma forma de facilitar o trabalho da FRELIMO e deixá-la mais forte ainda.
Venâncio Mondlane está, hoje, num trapézio sem rede. Mas foi ele quem colocou a RENAMO na mó de cima. Foi ele quem derrotou a FRELIMO em Maputo e prestigiou a RENAMO na Assembleia da República. Conhece o Sistema e é um rapaz da cidade. Depois de ter emprestado um ar mais urbano à RENAMO, agora, esta, quer desfazer-se dele. Quer humilhá-lo. Tem razão. Venâncio Mondlane nunca esteve nas colinas de Gorongosa e muito menos na Casa Banana. O seu ar urbano incomoda. Logo, não é muito bem aceite. O seu sucesso político faz confusão até ao próprio presidente da RENAMO e sobretudo aos mais radicais e aos menos capazes que lidam mal com os predicados do “menino da cidade”.
Espero, pois, que a RENAMO saiba o que está a fazer. Caso Venâncio Mondlane decida, nos próximos tempos, criar um partido político, de uma coisa pode-se ter a certeza: ele arrastará a “fina flor” da RENAMO consigo. É bom que a RENAMO reflicta profundamente sobre a injustiça que está a cometer contra Venâncio Mondlane. Seria sensato se a RENAMO pusesse a mão na consciência e pensasse no erro fatal que está a lavrar. Ainda vai a tempo de corrigir o tiro para que (não) possamos dizer que do Índico apenas vêm maus ventos e má marrabenta. Pois!