EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (181)
Presidente: estou muito indignado e angustiado. E como forma de lavar a alma, lhe vou perguntar isto sem rodeios.
O que faz com que o Governo da Frelimo ordene os seus deputados na Assembleia da República para que apoiem, em massa, a ractificação do acordo de extradição com o Ruanda? Que elemento novo surgiu no cenário político nacional que aconselha com que Maputo tenha acordos de extradição com Kigali?
Seja qual for a justificação que o Presidente tiver, a mesma será insuficiente para convencer os moçambicanos- e todo o mundo que nos assiste- que isto é para o bem do País.
Eu acho que o norte de nossa política externa deve ser o interesse nacional. É o caso de perguntarmos o que nos acrescenta esse acordo de extradição com o Ruanda?
Há muito que o palanque para o senhor Paul Kagame está montado em Maputo. Ele diz e fala o que lhe aprouver. Moçambique é a casa de férias do senhor Paul Kagame! Moçambique deve cultivar relações positivas, não excludentes, e pautadas pela reciprocidade com o Ruanda, o que é muito diferente de vassalagem a Paul Kagame.
O que Paul Kagame faz de Moçambique, só é possível num Governo que se mostra explicitamente um vassalo de Kigali. O Presidente aceita a intromissão do senhor Kagame nos assuntos internos de Moçambique com o claro objectivo de submeter o País aos ditames de Kigali.
O Presidente está abertamente a apoiar as políticas de Kagame, fazendo de Moçambique um mero joguete da sua busca pela permanência no poder. E o faz aceitando que homens de Kagame entrem no País, persigam exilados ruandeses opositores políticos de Kagame-, raptando-os ou matando-os. São indivíduos que procuram o nosso País para viverem em sossego. Quer dizer, eles fogem da tirania de Kagame e o Presidente os entrega de bandeja ao seu ídolo Paul!?
Está a dar a Paul Kagame uma espécie de licença para matar! O País precisa de uma política externa que preze a sua soberania, diversificando os seus parceiros para tirar proveito do que de melhor o mundo tem.
Subordinar os seus interesses aos ditames ruandeses é uma vassalagem que acarreta grandes prejuízos a Moçambique. O argumento de que Kagame persegue inimigos de Kigali é uma balela infantil e só um ingénuo, como o Presidente, aceitaria, sem desconfiança, os argumentos do chefe do Estado ruandês.
DN – 22.03.2024