Por Edwin Hounnou
Como diz Lil Wayne, artista musical de Nampula que tem feito muitos lives, agora é "vez vez", querendo com isso expressar a ideia segundo a qual é preciso alternância à mesa do banquete de Estado. Hoje, comem uns, amanhã, comem outros. Não é bom que seja o mesmo grupo pela eternidade, enchendo seus bolsos, a engordar as suas contas bancárias, acumulando bens como mansões, palacetes, viaturas de luxo, empresas de lavagem de dinheiro enquanto outros continuam roendo as unhas de tanta pobreza.
Ninguém tem o direito de se beneficiar sozinho das potencialidades do país e, mais grave ainda, sem justiça eleitoral, onde os órgãos eleitorais estão cada vez mais aprisionados ao poder político. As possibilidades que o país oferece não são dádivas para privilegiados. Os recursos naturais e financeiros pertencem ao país e ao povo, devem chegar a todos.
Apoiamos a ideia do vez vez por ser uma necessidade histórica para manter o equilíbrio. Os problemas do país nunca se resolvem através de eleições, como acontece nas sociedades democráticas. Aqui as eleições são para inglês ver. Não resolvem os problemas como alternância ao poder. Em democracia, só governa quem for eleito. Para ganhar uma eleição tem que dominar os órgãos eleitorais, a polícia e os tribunais.
A partidarização da polícia, dos órgãos eleitoral, a exclusão e a intolerância são a fonte dos nossos grandes problemas. Esperar pelo da mudança do status quo através é uma miragem porque esse dia nunca chega enquanto se apostar em processos eleitorais. Em Moçambique não há democracia que sustente a paz e liberdade. É tudo aldrabice. É tudo mentira. Aqui só ganha que tiver a polícia e os órgãos eleitorais do seu lado.
Num país onde as eleições sejam um passatempo de adultos que se aldrabam e os resultados anunciados não correspondem à vontade popular expressa nas urnas, não pode haver paz. A paz é um investimento muito sério. Custa a inclusão e tolerância. Custa a partilha dos recursos naturais e financeiros. A paz é uma cedência mútua. Para haver paz, ninguém deve ganhar tudo e ninguém deve perder tudo, como acontece.
Na nossa terra, quem ganha uma eleição, fica com tudo e quem perde é considerado como um grupo sem qualquer importância na sociedade. Até poderíamos concordar com o princípio do "vez vez", atendendo que a oposição não está preocupada em se tornar poder, sobretudo a Renamo que tem tudo para vencer as eleições, mas a Renamo tem outras prioridades. A tomada do poder não consta na sua agenda política. Quer continuar a miar debaixo da mesa do poder, apanhando migalhas.
Os que votaram na Renamo foi evidente, nas eleições autárquicas de 2023, que nem todos eram da Renamo. Os que marchavam e cantavam nem todos eram da Renamo. Era gente descontente e desiludida com o regime. Eram os que esperavam ver a sua situação de vida e do país a mudar para o melhor, porém, se aperceberam de que estavam a incubar ovos apodrecidos. Assim, confiaram o seu voto na Renamo, mas esta não está disponível para esse tipo de brincadeiras.
A Renamo quer curtir as "ma-regalias" de que recebe do governo. O presidente da Renamo deseja, tão-somente, ser o segundo mais votado a fim de se beneficiar das benesses que o rodeiam. Não se bate para ser Presidente da República. Os que esperavam que assim fosse, terão que esperar por muito tempo. Que tirem o cavalinho da chuva. A Renamo não tem vocação nem vontade para ser poder. Só quer comer e disfrutar dos privilégios de que se deixa rodear. A Renamo compara-se a uma viatura sem combustível. Não sairá da oposição.
Vale a pena pugnar pela vez vez porque a oposição nem está aí. Basta olhar para o cenário político que constatará que a oposição está a dormir. A líder da Renamo nunca acompanhou os manifestantes.
Ninguém está no terreno a mobilizar para que nas próximas eleições seja a preferência do eleitorado. Uns acham que têm muito tempo para despertar, outros nem se lembram que este ano é eleitoral, outros nem se lembram de que para ganhar uma eleição é preciso djimar e transpirar bastante.
A Frelimo não é um partido que tem a polícia, os órgãos eleitorais, como o STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), a CNE(Comissão Nacional de Eleições) e o Conselho Constitucional do seu lado. Para vencer este monstro, a oposição tem que trabalhar 100 vezes mais do que o tem feito até agora.
Os que dizem que a Frelimo seja invencível não explicam as razões da sua invencibilidade. Só transmitem a ideia de ser um partido forte e organizado. Isso é uma ideia distorcida. A Frelimo é invencível porque faz enchimento de urnas com votos falsos e conta com o apoio da polícia e dos órgãos eleitorais. O Estado está capturado por criminosos que sobrepõem a sua agenda à de todos os moçambicanos.
Ouvimos as lamentações dos professores que apoiaram a oposição. Muitos foram transferidos para escolas bem distantes, que é para saberem em quem apoiar. Dizem que aquele que apoiar mal terá consequências graves na sua vida, para além de serem mandados beber água, como os tem ridicularizado o Presidente Filipe Nyusi.
Já estiveram no poder Samora Machel, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, todos da região Sul. Agora temos Filipe Nyusi, um corta-fitas por excelência, é da região Norte. A região Centro nunca teve nenhum filho seu na presidência do país. O argumento em voga sobre a capacidade de gestão é um regionalismo camuflado que desponta. Há capacidade no Norte, no Centro e no Sul.
Há pessoss capazes do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo, segundo um conhecido slogan político em voga. O argumento de que se procura capacidade é falso. Serve para distrair para que o poder caia no Centro. Não há região com gente sem capacidade para dirigir o país.
Gente capaz existe em todo o país e a maior capacidade que se deve procurar é a integridade moral e a de mobilizar todas as forças para reconstruir o país. O resto é resto. É para fazer o boi dormir. Todos cabemos no nosso Moçambique. Não há região de onde nascem bons dirigentes e outra de indivíduos para, apenas, serem dirigidos.
VISÃO ABERTA – 01.03.2024