Quando dias depois da terrível apresentação do informe anual sobre o Estado Geral da Nação-2023 pelo Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, na Assembleia da República (AR) devido aos cânticos e vaias da bancada parlamentar da RENAMO, o Secretário-Geral do Partido Frelimo, Roque Silva apareceu na imprensa anunciando que um dos “grandes objectivos do partido Frelimo” para as eleições legislativas de 09 de outubro do presente ano é ganhar todos os mandatos na Assembleia da República (AR), como forma de evitar futuras situações similares do inesquecível dia 20 de dezembro de 2023.
Entretanto, este objectivo parece não ser inocente, apesar do mesmo circunscrever-se apenas aos actuais patronos do Partido Frelimo e não dos legítimos pensadores partidários do presente e futuro do País. Conforme apuramos de fontes internas da Frelimo, a decisão de subverter a vontade popular nas eleições autárquicas de 11 de outubro e 10 de dezembro de 2023 foi de todos os chefes das brigadas centrais, uma vez que vencendo as eleições nas autarquias que garantiam assistência, passariam a ter um grande triunfo para serem eleitos a candidato à presidência da República e consequentemente do partido.
Portanto, no meio de todos estes planos e objectivos políticos que acabaram manchando o processo eleitoral e beliscando a imagem do País, uma nova grande ideia emergiu – montar um novo cenário no Parlamento, onde o grande derrotado será o Partido RENAMO, a maior ameaça política da Frelimo, caso decida apostar no sangue novo e intelectual do Partido RENAMO. Para fazer face a este desiderato, a Frelimo desenhou um novo cenário que vai lhe permitir vender a ideia de que em Moçambique existe democracia, e que tudo que aconteceu nas eleições autárquicas e virá acontecer nas gerais, legislativas e provinciais são meros erros do processo e “falhas de uma jovem democracia”, conforme afirmou recentemente o Presidente da República, Filipe Nyusi, durante o discurso de recepção das cartas credenciais de 12 novos embaixadores de diferentes países.
A Frelimo está a preparar um novo cenário parlamentar em que irá aumentar o número de deputados para si e desmembrar o número de deputados que a RENAMO tem actualmente, ou seja, dos 250 deputados existentes, a Frelimo pretende garantir 190 para si, deixar 30 para a RENAMO, 18 para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e 12 mandatos para novos actores, que podem vir a ser movimentos cívicos ou partidos políticos que posteriormente à imprensa, os observadores, comunidade internacional, as organizações não-governamentais dirão que o processo foi bem equilibrado e que a democracia sai a ganhar porque passamos a ter um parlamento misto e com vários intervenientes.
O projecto no final de tudo, visa transmitir a ideia de que a nossa democracia evoluiu e que tudo que aconteceu nas eleições autárquicas foram meramente erros do processo de crescimento. A ideia no fundo é dar espaço a novos actores políticos e tentar passar a mensagem para os parceiros internacionais que o País é democrático e não existe nenhuma vontade de retroceder neste desiderato. Mas no fundo, o plano visa arrancar os dentes a RENAMO que se sentirá mais fragilizada e com uma difícil crise interna por resolver, porque será a maior derrotada legislativa sofrida pelo Partido desde 1994.
Este plano vai desestruturar a RENAMO em todos os aspectos e dar o pleno controlo de tudo à Frelimo, uma vez que mesmo juntando o voto de todos estes partidos, em nada decidirão com a ditadura do voto. O acordo já foi estabelecido, mas a única forma de o mesmo não ser materializado é a unificação dos partidos políticos e as organizações da sociedade civil lideradas por um único candidato presidencial e a mesma lista para a AR e provinciais.
No entanto, enquanto a oposição não se reorganiza, em concreto a RENAMO se não optar por uma estratégia consentânea com o actual cenário, onde até agosto do presente, segundo estudos especializados em demografia, o País passará a contar com mais de três milhões de jovens em idade eleitoral que devidamente acompanhados poderiam ser de mais valia para candidatos aparentemente jovens ou adaptados aos moldes actuais de fazer política e com uma abordagem discursiva próxima ao eleitorado jovem que nas eleições autárquicas demonstraram estarem atrás de um “novo sonho e uma perspectiva de vida diferente.” (Omardine Omar)
INTEGRITY – 01.03.2024