Por Edwin Hounnou
A definição do acordo de terrorismo é esta: um acto violento que visa alcançar uma meta política, econômica, religiosa ou social. O acto violento que inclui evidências de uma intenção de coagir, intimidar ou transmitir alguma outra mensagem a um público maior (ou público) que não as vítimas imediatas, segundo a Wikipédia. É o que temos visto na província de Cabo Delgado, desde cinco de Agosto de 2017 em que populações civis e indefesas são submetidas a actos de violência extrema como as decapitações e, por isso, obrigadas a refugiarem-se para zonas ou regiões que elas julgam que sejam mais seguras e abandonando as suas culturas, a deixarem as terras dos seus ancestrais e longe das escolas dos seus filhos. Outros ainda procuram se esconder em países vizinhos, de igual modo, a terem que passar fome, privados dos seus bens como machambas, animais e expostos a intempéries de toda a ordem.
Antes do primeiro ataque, contra a Vila da Mocímboa da Praia, o governo vinha sendo alertado de que algo de muito estranho estava a acontecer em algumas mesquitas de Pemba, tais como insultos a entidades públicas e treinos militares de ordem unida (marchas, rastejar, placar, camuflar, etc.).
O governo ainda na lama de más recordações dos confrontos ideológicos com igrejas e seitas religiosas, foi-se escondendo por detrás de um falso laicismo do Estado, deixando crescer as práticas terroristas. Quando despertou já era demasiado tarde. Mocímboa da Praia havia sido atacada e ocupada. As autoridades militares continuaram a não levar a sério a situação. Foram lançando ultimatos sem nexo para que, em sete dias, os atacantes se entregassem. Caso isso não fosse acatado, seriam perseguidos e aniquilados, porém, os terroristas não se deixaram intimidar. Reorganizaram-se e fortificaram-se cada vez mais.
As autoridades militares demonstraram a sua ignorância em relação ao fenômeno do terrorismo, limitando-se a pensar que se tratava de uma desordem de malandros e não de um problema grave com o qual, hoje, o país, e não só, se confronta. Nunca haviam pensado que se tratasse de terrorismo e, como tal, não procuraram perceber as suas origens, causas e a maneira como o combater com a devida eficácia tanto nos domínios militar quanto nos político-social.
O terrorismo, passados sete anos, vem corroendo Moçambique, virou câncer encravado no nosso corpo, impedindo o desenvolvimento do país e semeando mortes de crianças, mulheres e homens.
Depois da chegada das tropas estrangeiras, em partir das do Ruanda, a situação pareceu ter sido controlada e os terroristas terem sido confinados. A vida das populações parecia ter voltado à normalidade, mas era tudo falso. A tenda está a arder.
Desde Janeiro de 2024 até aos dias que correm, os ataques terroristas parecem ser uma erupção vulcânica. Há ataques constantes e mais distritos estão a ser fustigados pelo terrorismo. Estão presentes em 13 dos 17 distritos da província. A cidade de Pemba, a capital da província, vai ficando cada vez mais encurralada. Não há nada a esconder que, neste momento, os terroristas estão, evidentemente, na ofensiva.
É importante que a gente procure saber o que está a acontecer de errado no nosso seio? Quem alimenta o terrorismo? Porquê surgiu o terrorismo? O que os terroristas pretendem alcançar? Quem está por detrás dos terroristas? Quem lhes dá armas e os treina?
As perguntas são tantas quanto às inquietações que nos sufocam como país e nação. Há países que apoiam, equipam e alimentam os terroristas? Haverá, também, gente interna interessada no terrorismo? Quem são? Têm nomes e endereços?
Durante a luta de libertação nacional, a inteligência do regime colonial sabia que a FRELIMO (não partido Frelimo) era treinada e equipada por países comunistas e vizinhos, como a Tanzânia, Zâmbia, Argélia e outros tantos que não fazem fronteira com Moçambique.
Durante a luta pela democracia, sabíamos que os regimes da Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe, e o da África do África do Sul do Apartheid suportavam a guerra movida pela RENAMO. Não era segredo.
Hoje, a inteligência do governo moçambicano - Contra Inteligência Militar (CIM) e o SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) continuam a apalpar o terreno e não capazes de responder, satisfatoriamente as perguntas que formulamos. A CIM, dos tempos do General Lago Lidomo, estava mais ocupada em desestabilizar oficiais com intrigas. O SISE está até ao pescoço, metido em perseguições políticas e jogado no poço contratações de dívidas odiosas.
Ninguém tem tempo de estudar o inimigo, o que pensa daqui para frente, como desenhar a estratégia de combate para o colocar na defensiva ou mesmo aniquilá-lo. Falam em terrorismo, mas não dizem o que se fazer para o eliminar.
Podem não nos dizerem nada por ser segredo militar e isso pouco nos interessa, todavia, queremos ver o inimigo sufocado. Isso não está a acontecer, o que nos deixa muito preocupados. Mais preocupados ainda ficamos que vemos que os terroristas estão a avançar sem encontrar muita resistência.
Estávamos satisfeitos quando os terroristas haviam sido escorraçados dos locais que ocupavam e dizia-se, com pompas e circunstâncias, que os terroristas já não ocupam nenhuma porção do nosso território.
Com angústia e tristeza, voltamos a ver que, afinal, os terroristas voltaram a ocupar territórios e matam nossos concidadãos quase todos os dias. Serão as nossas forças de defesa e segurança assim tão ineficazes e incapazes que não conseguem defender a pátria? O que está mal entre nós?
Hoje, os terroristas passeiam a sua classe em Quissanga, Mucojo, Ilhas Quirimbas, etc. É pela força das armas ou consentimento de quem nos deve defender? A incapacidade é notória e há dirigentes que acusam jornalistas de cumplicidade com terroristas.
Quando o macaco não sabe dançar, diz que o chão está torto, diz um adágio popular. Os nossos recursos naturais - gás natural, grafite, areias pesadas, etc., viraram uma autêntica maldição. Só nos servem para nós digladiarmos, enquanto enchem os bolsos.
VISÃO ABERTA – 22.03.2024