Por Edwin Hounnou
Em Moçambique está, aparentemente, quase impossível a Oposição política vencer as eleições e a situação tende a agravar-se cada vez mais na medida em que o tempo vai passando.
É, totalmente, falsa a ideia da "invencibilidade" do partido no poder. Nas mentes de muita gente gira a imagem de um partido que veio para governar o país e os moçambicanos pelo resto do tempo.
Esse pensamento é consolidado pela inacção dos partidos que se deveriam preparar para os embates eleitorais e não o fazem, apesar de todos os avisos e alertas que chegam dos quatro cantos do mundo. A Frelimo se fosse forte, não se socorreria de fraudes e da violência policial.
A Oposição política do nosso país não quer aprender com os sinais dos tempos. Anda entretida com outras coisas mais interessantes para si e não pelo poder. Quer permanecer comendo num canto da cozinha e não participando da grande mesa.
Nenhum partido, em todo o mundo, entrega o poder de bandeja ao seu adversário pelo cansaço devido ao facto de estar no poder há várias décadas. O poder não cairá, só por si, como uma fruta que se desprende da árvore por estar demasiado madura.
Enganam-se os partidos da Oposição que ficam na sombra à espera do convite para, também, integrarem as instituições publicas. Esse momento nunca vai chegar.
Alguém ensinava que "O poder conquista-se. O poder não se oferece". Ninguém oferece o poder a ninguém. Uma oposição que se digladia debaixo da majestosa mesa do governo de onde caem as migalhas, assuste-se quando lhe disser que é possível ela se sentar à mesa.
A nossa Oposição é demasiado preguiçosa e muito conformada. Não trabalha o suficiente para conquistar o poder. Não tem vocação para governar o país.
Na nossa óptica, existem três importantes frentes para se chegar ao poder e o resto que temos vindo a assistir como declarar -se candidato antes dos órgãos tomarem qualquer decisão ou fechar-se em gabinetes pensando que vai vencer as as eleições porque o povo está descontente com o partido governamental chama-se passatempo ou entretenimento.
Pensamos nós que enquanto persistir o actual modelo dos órgãos eleitorais - partidarizado e dominado pelo partido no poder - é quase impossível a Oposição chegar ao poder. Qualquer jogo ou competição em que se é ao mesmo tempo jogar e atleta, domina a fraude.
As nossas eleições, desde 1994, têm-no demonstrado com toda a nitidez e a Oposição nunca colocou esse modelo em causa.
O segundo factor que concorre para a Oposição "desconseguir" remover o partido governamental do poder é a falta de unidade. A Oposição vai às eleições de forma dispersa e metida numa luta de inimigos.
Ninguém aplica um KO ao adversário sem cerrar os punhos. Cada partido da Oposição acha que seja capaz de derrotar o partido no poder. As portas da Oposição estão encerradas quanto à ideia ou proposta de uma frente única eleitoral.
Os partidos da oposição acham que a unidade seja uma ideia de fracos e sem inserção no seio do povo e os resultados catastróficos que tem vindo a obter desmentem esse modo de pensar.
Só a frente única eleitoral pode levar à vitória. Os que se recusam a integrar a frente única eleitoral encobrem outros interesses estranhos à remoção do partido no poder e erro se repete de eleição em eleição.
Concorre, também, para a descaracterização da Oposição o seu desaparecimento das bases. A nossa Oposição tira férias graciosas no intervalo entre uma eleição é outra. É um fenómeno inédito que apoquenta a Oposição.
A Oposição compara-se àquele pai que vai trabalhar para as minas do "John" de onde regressa só quando tiver férias ou pelas festas do Natal ou Fim do Ano. Quando volta à casa encontra os filhos menores já bem crescidos. Alguns não o reconhecem de quem se trata e até lhe perguntam de quem está à procura.
A nossa Oposição está satisfeita por ser uma eterna oposição sem ideias nem perspectivas do futuro. Temos uma Oposição sonolenta. Qual é o atleta que se orgulha que não se cansa de aquecer o banco de suplente? - Só um atleta inútil.
A nossa Oposição não tem orgulho próprio nem visao. Ela contribui para a aparente invencibilidade do partido Frelimo devido ao seu amorfismo e apatia pelo poder. Alguns fingem fazer política para continuarem a amealhar os trocos lançados pelo poder pelo qual se batem sem trégua.
As lutas que desenrolam no seio da Oposição são mais pelo tacho que pela governação do país. Não visam o alcance do poder político mas abastecer estômago de políticos de brincadeiras com dinheiro dos nossos impostos.
Se o actual modelo da seleção e funcionamento dos órgãos eleitorais não for afastado e a Oposição não apostar numa frente comum e num trabalho de base sério, será, mais uma vez, vandalizada. A Oposição tem facilitado bastante as manobras da Frelimo.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 17.04.2024