Por Edwin Hounnou
Arsênio Henriques (AH) e Emília Moiane (EM), respectivamente, adido de Imprensa do Presidente da República e directora do Gabinete de Informação, protagonizaram uma grande vergonha, na reunião da ACLLIN (Associação da Luta de Libertação Nacional), uma organização social do Partido Frelimo, havida no dia 04 de Abril, na Escola Central da Frelimo, ao agirem de maneira ditatorial, impedindo que o veterano Óscar Monteiro (OM) expressasse a sua opinião.
OM é uma figura de se lhe tirar o chapéu, não só na ACLLIN como também em qualquer parte de Moçambique. Ele merece nossa reverência. Quem não respeita pessoas como OM, não respeita mais ninguém na nossa terra.
Esta dupla com todas as caracteristicas de ser de malfeitores, logo no início da intervenção de OM, puseram-se em frente das câmaras, colocaram as mãos para tapar e distorcerem as imagens, numa atitude clara para que a voz dele não fosse audível o que ia sendo dito porque, na opinião desses tipos, OM estava a referir-se de um assunto tomado como fora da agenda, que o agendamento da discussão e indicação do presidente do partido e candidato às eleições presidenciais de 9 de Outubro próximo.
Essa atitude pouco comum na história recente da nossa imprensa, de censura à maneira antiga, visava defender o chefe maior para que não ficasse embaraçado.
Admiravelmente, essa censura é feita por indivíduos que, ontem, se batiam, nas redacções onde trabalhavam como jornalistas pela liberdade de imprensa e de expressão. Porém, hoje, marcham na vanguarda dos vampiros contra seus antigos colegas da reeducação, incitam a polícia para espancá-los pelo simples facto de estarem a gravar uma entrevista com o Chefe do Estado, como já aconteceu.
Filipe Nyusi deve ser um dos poucos chefes de estado cuja conversa ou conferência de imprensa não seja permitida pelos gendarmes. Já vimos Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da América, a ser entrevistada por uma jornalista angolana, em Washington, através de um telemóvel. A jornalista não foi repreendida, muito menos agredida por gorilas que protegem o presidente norte-americano.
O nosso amigo, Alfredo Júnior, um proeminente jornalista desportivo, teve sorte diferente. Foi, duramente, espancado e amachucado, o seu aparelho ficou todo destruído.
Tínhamos muita simpatia por Arsênio Henriques, quando era um jornalista pivô da STV, cativava audiência pela seriedade que fazia os seus trabalhos de investigação jornalística que ninguém pensava que, um dia, pudesse virar contra seus antigos colegas.
O dinheiro e o poder roubaram a alma generosa daquele Arsênio Henriques que conhecíamos quando estava na stv e virou um carrasco que faz negra à classe dos jornalistas.
Quanto à EM nada nos faz admirar que se comporte de tal modo. Quando era jornalista da "pravda" (o principal órgão de comunicação social do regime da antiga União Soviética), queríamos dizer TVM, ficava bastante empolgada e a transpirar por todos os poros, demonstrando, desse modo, a grande paixão que tinha pelo seu partido. Como recompensa do seu comportamento, foi agraciada pelo cargo de directora do GABINFO.
Trabalhei, lado a lado, com EM na intercalar de Quelimane. Não quis acreditar que fosse uma jornalista de peso, pela forma militante e fervorosa quando o candidato do seu partido, Lourenço Abubacar, perdia a favor de Manuel de Araújo, então candidato do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), em Outubro de 2011.
Agora investida de algum poder administrativo, EM não se preocupa em esconder nem camuflar o seu grande entusiasmo pelo partido Frelimo apesar de estar a receber o seu salário à partir dos impostos de todos os cidadãos moçambicanos - partidários ou não.
Se o seu salário fosse pago a partir das coletas dos militantes do seu partido, pouco teríamos que questioná-la, mas é esse o caso.
EM recebe salários dos nossos bolsos, incluindo daqueles que ela manda obstruir a sua imagem e voz.
A postura de EM nos levar a concluir de que recebeu um "saguate" pelo cargo que ocupa o que lhe permite maltratar os outros, incluindo retirar-lhes a palavra. Estamos a passar por momentos de vergonha por conta de algumas pessoas que se julgam poderosas oprimindo os outros.
AH e a sua comparsa EM nem respeitam as pessoas mais velhas, como Óscar Monteiro, uma reserva moral da sociedade, a quem humilharam em público e em pleno direito de uso de palavra, que a Constituição consagra como um direito inalienável. Eles se julgam investidos de tantos poderes que podem passar por cima de qualquer pessoa.
Uma das características de um estado falhado é a ausência da liberdade.
Vimos a imagem de um individuo da equipa da imprensa da Presidência da República a expulsar e escoltar Suzana Espada da sala, jornalista da TVM, como se fosse uma prisioneira de guerra, quando ainda entrevistava o veterano Alberto Chipande.
Metia muita pena e compaixão como a jornalista Suzana Espada era empurrada para fora da sala por aquele gorila. Era visível o seu desespero quando dizia que estava sendo escoltada para sair da sala. Isso é um ponto sem precedente da negação da liberdade e da falta de respeito pela imprensa.
Os autores desses atropelos julgam que estão ao serviço da pátria enquanto servem os apetites ditatoriais de um individuo ou grupo.
Se Filipe Nyusi se sente, assim, muito bem protegido quando manda tratar desse modo as pessoas. Vale-lhe, aqui, recordar de que, quando deixar o poder, será golpeado, também, de igual maneira pelos gorilas que ele próprio permite e ordena que agridam, desfoquem as imagens e sufoquem o som de voz das pessoas que pretendem expressar o seu pensamento e colocar a sua opinião.
A quem servem os gorilas que fazem vida difícil das pessoas? Estamos equivocados quando pensamos que estávamos a viver num regime democrático.
Filipe Nyusi está a semear minas no campo da democracia, o que representa um grande perigo. A ditadura quando chegar, dominar e sufocar a todos, incluindo os que, hoje, se beneficia dessa maneira de governar.
Esperamos por dias piores no virar da esquina se nada for feito para afastar o gangsterismo de estado que não respeita a liberdade de imprensa, a liberdade de pensamento, de opinião. Não tragam, de novo, a ditadura para a nossa pátria!
O poder anima e corrói muito mais às pessoas ocas por dentro e fracas de espirito.
VISÂO ABERTA – 09.04.2024