Por Edwin Hounnou
Não se conhece bem de que lado, de entre as várias facções, se encontra Daniel Francisco Chapo (DFC), o candidato às presidênciais da Frelimo às eleições de 09 de Outubro. As notícias que nos chegam não sugerem que DFC esteja metido em actos de corrupção, o que, à partida, pode ser um bom sinal.
A Frelimo cria ambiente para o surgimento da corrupção. Ninguém nasce corrupto. O sistema político instaurado pelo partido Frelimo vira pessoas corruptas e clientelistas.
A condição para se ser corrupto é ter acesso ao poder em excesso. Quando o poder for absoluto, como é no nosso país, corrompe absolutamente. DFC vai ter uma longa fila de clientes políticos a satisfazer por favores a ele prestados. Será difícil resistir às solicitações daqueles que lhe deram um empurrão atingir o poder. Vai dando aqui um pouco e acolá um. Vai-se aperceber quando estiver atolado até pescoço.
Esse caminho da corrupção levou o país ao descalabro. A solução é afastar a Frelimo do poder. Foi assim que os seus antecessores se perderam e DFC não será excepção.
Aqueles que, na sessão extraordinária do Comité Central, torceram por DFC e dispararam contra as vagarices e distorções de Filipe Nyusi e do seu delfim, Roque Silva (RS), estarão à espera para receber o seu quinhão como recompensa.
Os "madalas" que o encorajaram a continuar firme na pista de corrida, queriam, também, se livrar da dupla que corroeu o já bastante podre partido Frelimo. DFC vai entrar limpo mas de onde sairá sujo, emporcalhado com contratos secretos e obscuros.
Não é pela competência que se torna candidato da Frelimo. É para servir os interesses do seu partido e dos camaradas graúdos. É para distribuir favores pela turma toda. Pode DFC ter as mãos limpas, sem máculas, acreditamos, mas acabará se deixando, mais cedo ou mais tarde, na teia da corrupção e esquemas da máfia, como seus antecessores fizeram quando chegaram ao poder. Mais depressa ainda se torna corrupto quando se chega ao poder sem mérito, através de manobras. Filipe Nyusi queria o seu delfim, o prepotente RS para que o defenda quando a situação estiver preta.
Não se vai ao rio com uma sede ardente porque a água não será suficiente. DFC não terá água que chegue para todos os que lhe deram o empurrão. Antes, ouvíamos de outros que "eu estou disponível", mas de DFC nem sequer uma palavra, porém, saiu do conclave candidato para as eleições de 09 de Outubro.
DFC foi apanhado na curva, ou seja, foi vítima do voto de rejeição de tantos que se tinham predispostos, todavia, como tinham requisitos requeridos, tais como servir, de forma fiel e à risca os interesses do grupo que detém o poder, acabaram sendo encostados às margens do grande rio.
O principal requisito é o de parecer maleável à grande máfia e não o de estar disponível para servir os interesses do povo que há muito tempo deixou de existir como ente no horizonte dos que dizem que, pelo povo, poderiam derramar o seu sangue. Isso é do passado.
A disputa hoje circunscre-se na aquisição fácil de bens como casas e viaturas do Estado, facilidades de acesso aos recursos naturais e aceder a contratos de empreitadas públicas. Já chegámos ao ponto de os papás e mamãs contratarem seus filhos e filhas para prestarem serviços ao Estado. É para isso que serve o poder?
O poder, na Frelimo dos últimos tempos, deixou de servir o povo nem a pôr o país a crescer. Passou a servir os interesses das elites político-económicas ligadas ao partido no poder. Por isso, há tantos projectos que não contribuem para o desenvolvimento de Moçambique.
Apostamos que nos mostrem qual é o contributo dos grandes projectos como areias pesadas de Chibuto e de Moma. Da exploração do gás de Temane e o do Rovuma, de grafite de Ancuabe que sai em bruto. Quem mata as nossas florestas? Quem anda colado às empresas dos chineses de exportação da madeira em bruto, criando um deserto e contribuindo para as catastróficas mudanças climáticas?
Quem se enriquece com a "nossa" Cahora Bassa? - Não é o povo. Quem anda metido nos corredores de desenvolvimento? - São as elites que se dizem que lutaram pelo povo. Quem se beneficia dos rubis de Namanhumbir de Montepuez e de ouro de Manica? - Não é o povo. Não temos dúvidas de indicar para quem come com uma colher grande.
Quem come na MOZAL? - Não respondemos por ser demasiado trivial. Os nossos recursos naturais servem para encher a vista do povo. Beneficiam, apenas, as multinacionais e as elites ligadas à Frelimo. Aqui reside a razão da nossa pobreza. DFC estará disponível para levar o nosso barco a bom porto? Não basta ser elevado ao pedestal do poder e cantarem para si as lengalengas e hossanas para distrair o público.
Nada temos contra DFC, porém, achamos que não sobreviverá ao clientelismo dos seus camaradas que vêm na ajuda que deram uma oportunidade para continuarem a comer com uma colher grande. A bola está do lado DFC a partir de Janeiro de 2025. Muitos alimentam esperança nele que venha a levar o barco a bom porto e não seja como o outro que desiludiu o povo desiludido e jogou o país ao abismo sem precedente.
Quando o outro chegou ao poder, muitos pensaram que havia chegado o momento da dos jovens que não participaram da luta de libertação, porém, tudo não passou de uma mentira. Hoje, nadam no mar da desilusão. Muito desejaríamos que DFC não trilhasse o mesmo caminho das trevas e da violência contra seus compatriotas que pecam por pensar diferente e, apenas por isso, caiem em emboscadas e assassinados.
Gostaríamos de frisar que se enganam os que pensa que será desta que o poder vai passar para o Centro. O poder não virá para o Centro. O poder continuará no eixo Norte-Sul.
DFC foi, apenas, "vítima" do voto de rejeição. Ele não era a primeira nem a segunda nem mesma a terceira opção. Nunca havia sido antes cogitado para candidato e mais ainda, o tal "Centro" em nenhuma ocasião foi ouvido. DFC foi apenas produto do acaso.
É fundamental ter em conta que Sofala e, em particular, a Beira, sempre foi considerada, pela Frelimo, o "centro da reacção". Por conta disso, houve vítimas de sangue e alguns dos seus melhores filhos foram assassinados durante a luta de libertação e mesmo depois da independência. O tal pensamento já está ultrapassado? - Parece que ainda não!