EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (187)
De vez em quando, como que a fazer prova periódica de vida, após prolongado silêncio, alguns governantes da Frelimo vêm a público dizer disparates. Desta vez, coube ao ministro Carlos Mesquita abrir a boca para tirar bacoradas que terá que fazer um exercício gigantesco para a sua correcção.
O governante, para defender a péssima qualidade das estradas do País- e quiçá a sua incompetência como ministro da tutela-, atirou a culpa às viaturas usadas que o povo importa de vários países estrangeiros, nomeadamente o Japão.
Para o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, são essas viaturas usadas, as responsáveis pela degradação das estradas moçambicanas, esquivando-se assim, à evidência de que tal acontece em virtude da péssima qualidade das obras, executadas por empreiteiros obscuros, os mesmos que amiúde, sem nenhum esforço, ganham os concursos de adjudicação das empreitadas ou lhes são atribuídas em esquemas habituais de adjudicação directa.
Bom: consideremos a hipótese de que o senhor ministro tem razão. Que alternativa teria o povo se não recorresse a essas viaturas usadas, uma vez que o Governo, de que o tal ministro faz parte, não é competente o suficiente para colocar, à disposição do povo, transporte público adequa - do e em fartura, para este se poder transportar?
Devia ser vergonhoso, para o próprio ministro, dizer o que disse em público sabendo que a principal falha está no Governo de que ele faz parte. Portanto, Carlos Mesquita não só é mau político, como, igualmente, é péssimo a escolher o timing e o que se pode dizer em público. As declarações de Carlos Mesquita acontecem numa altura em que o povo anda descontente devido ao aumento no preço da internet.
Os profissionais da saúde estão em greve. A dos médicos e dos juízes está em estado latente. E, acima de tudo, trata-se de um ano eleitoral em que o próprio ministro fará parte dos que irão mendigar o voto, ao povo que ele hoje insulta, em nome do seu partido e do “sortudo” candidato da Frelimo.
Em resumo: as estradas moçambicanas estão degradadas porque de péssima qualidade. Fala-se de muito investimento mas, na verdade, a maior parte do bolo é distribuído entre os governantes e lobistas de ocasião.
Escrevi esta carta para si, Presidente, e não para o Carlos Mesquita, porque sou obrigado a acreditar que ele só disse o que todo o Governo da Frelimo pensa. E quem é o chefe desse Governo?
DN – 31.05.2024