EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (186)
Como ave terrestre, a avestruz possui um estômago capaz de digerir todo tipo de porcaria. Mas não será tão fácil deglutir as esfarrapadas desculpas dadas pela Fundação Alberto Chipande sobre as suas “ligações” com alguns indivíduos que tentaram dar golpe de Estado na RDCongo, no domingo passado.
A tentativa de golpe de Estado na RDCongo é um bom momento para avaliar até onde vai a capacidade de engolir camelos dos camaradas. O que estará a pensar do líder da Frelimo, por exemplo, a vasta metade do País que votou nele para governar de forma decente este Moçambique?
A Frelimo pode ter tido sucesso em livrar-se em vários escândalos em que se meteu, mas parece que esse sucesso só esgotou a capacidade dos camaradas de ver criticamente o novo mundo que vai emergindo.
Tudo isto é extremamente preocupante, é para aqui que os camaradas- e não só, evidentemente - deviam olhar, em vez de fazerem uma vez mais prova de, nos momentos decisivos, meterem a cabeça na areia.
Esta semana, por exemplo, a Comissão Política da Frelimo esteve reunida, em 27ᶛ Sessão Ordinária, para analisar a actual situação política, económica e sócio- cultural do País. E, segundo o comunicado distribuído depois do evento, não se falou nada sobre os “amigos” do General Chipande que tentavam dar golpe de Estado na RDCongo. Nenhuma linha sobre Cabo Delgado. Nada sobre a greve dos profissionais de saúde. E os juízes ameaçam entrar em greve nos próximos dias.
O assunto que envolve o General Chipande é bastante grave. E é devido a esse silêncio ensurdecedor que as pessoas vão especulando nas redes sociais.
A Frelimo não aprendeu ainda a se comunicar com o povo. Fecha-se em copas. É muda- ou finge demência- em horas essenciais, e grita quando todo mundo prefere o silêncio. A Frelimo tem quase 50 anos no poder. Portanto, tem idade suficiente- de governação para ter aprendido que a política de avestruz nunca ajudou. A Frelimo devia abrir-se mais. Não devia ter nenhuma hesitação em identificar o que é retrógrado por mais que surja enfeitado de moderno. Devia combater sem tréguas tudo o que faz mal à saúde do povo. Denunciar sem tibiezas todas as políticas más, combater as injustiças gritantes, as desigualdades e a pobreza, em particular à pobreza infantil.
DN – 24.05.2024