Terrorismo em Cabo Delgado: População da aldeia Nanjaba em Macomia rejeita instalação de uma unidade militar (2)
Por Francisco Nota Moisés
... "Fontes disseram que, quando a população se apercebeu que os militares queriam estabelecer uma posição, começou a sair, alegando receio de ser atacada pelos terroristas que advertiram que não podiam aceitar a presença das FDS. "Isso é verdade, a população pediu aos militares para se retirarem. Caso contrário, iria se instalar nas machambas, porque alega ter medo dos terroristas. No dia em que atacaram Macomia, uma parte destes estava em Nanjaba. Parte dos produtos que roubaram na sede deixaram em Nanjaba e depois foram a Mucojo. Avisaram que não podiam receber os militares que eles consideram ateus", contou Ayuba Salimo, residente da vila de Macomia." CARTA - 27.05.2024
A situação do camarada de guerra do norte continua a deteriorar-se para o camarada Frelimo. Isto me faz lembrar dum chefe sectorial desertor da Frelimo no Niassa oriental que em 1969 chegara como refugiado ao campo de refugiados de Rutamba no distrito de Lindi na região de Mtwara na Tanzânia para onde eu e outros rebeldes da Frelimo tínhamos sido exilados pelo governo de Tanzânia, marcando assim o fim da nossa luta de resistência contra os chefes terroristas da Frelimo em 1968. O camarada chefe sectorial da Frelimo no Niassa oriental chegou em Rutamba numa situação péssima, diga-se mesmo caótica com piolhos nos seus cabelos e na sua roupa rasgada por toda a parte.
Estive com o Costa Magiga, que morreu alguns anos atrás em Nairobi duma crise cardíaca.
Infelizmente, Magiga que tinha sido um grande amigo meu e companheiro de fuga de Rutamba para Nairobi em 1969 veio depois a ser identificado como o homem que veio a ser infiltrado pela Frelimo em Nairobi numa operação dos terroristas da Frelimo que veio a culminar com o rapto e extermínio em 1977 do padre Mateus Pinho Gwenjere que foi um dos maiores patriotas, heróis e nacionalistas moçambicanos.
O camarada antigo chefe sectorial do Niassa tinha fugido da guerra com os portugueses que ele não aguentava mais. Costa e eu perguntamos ao desmazelado como é que ia a guerra no interior. "Jicambaradas ji irmaus," respondeu," ji não perguntar como ji vai jiguerra. Jipergunta como jinimigu jiataca e jibombardea. Ji demacha de ji manha cedo voce ouvir jijiji. Jir ser o que? Ji ser aviau. Ji voce ouvir tatata tatata tatata, bum bum bum (sons de metralhadoras aeroportadas e bombas.)
"Ji irmau, ji você incorre e ji entra num buraco onde ji encontra jicamarada porco do mato. Ji porco do mato e jivoce ser iirmaus ansi," disse o homem, pressionando os seus dedos indicadores para enfasear a simpatia entre homens e animais durante uma guerra. "Ji porco do mato ji não ataca você. Ele ji entender o seu "tabu" (swahili para dize o seu problema)" antes de jiperguntar ji você: como ji vai jiguerra la fora?"
Costa e eu rebentamo-nos de rir por causa do pretogues que estivemos a ouvir, o que era quase o tipo de português que se ouvia na Frelimo. O homem não entendeu que nos riamos do seu pretoguês.
"Ji eu não poder mais aguentar com aquele situação. Jicuambucou o Rovuma (jicuambucou que ele disse vem da palavra do Nhanza e também do Sena " kwambuka" para dizer atravessar. Obviamente o homem não conhecia a palavra portuguesa atravessar.
Da maneira como os guerrilheiros da Frelimo e os porcos do mato entravam em buracos para escapar ao tormento dos ataques portugueses, a soldadesca da Frelimo no norte de Moçambique tenta também estar perto das populações para utilizá-las como escudo de proteção contra os ataques rebeldes.