Por Edwin Hounnou
Para poupar os fundos públicos, propomos que não se continue a perder dinheiros dos impostos dos cidadãos a financiar eleições de brincadeiras, sem competiçao alguma. Ninguém gastará o seu pouco dinheiro pagando o bilhete para ir assistir a uma partida de futebol entre o Manchester United ou Sport de Lisboa e Benfica contra o Atlético de Mafalala ou Chipangara Sport Clube ou ainda Sport Clube de Namicopo.
A comparação que fazemos é bastante próxima da realidade das eleições de 09 de Outubro do corrente ano. A Oposição não se tem preparado o suficiente para disputar as eleições, taco-a-taco deixando desse modo, o caminho aberto para uma goleada. A Oposição é a grande responsável pelas vergonhosas derrotas que vem sofrendo, desde que foram introduzidas as eleições multipartidárias, no país. Referimo-nos aos fatigantes discursos sobre as vitórias retumbantes, sufocantes e "qualquerizantes" que a Frelimo tem vindo a cantar. Uma disputa só anima e dá prazer de ver quando se joga de igual para igual.
O actual figurino das forças oposicionistas é, por demais sombrio. O povo está descontente pela maneira como a Frelimo tem dirigido o país. A corrupção tomou de assalto a administração pública, os recursos naturais estão a ser roubados todos os dias por empresas estrangeiras e transformados fora das nossas fronteiras. Roubam a madeira, o carvão, o ouro, grafite e gás natural. O que o povo ganha pelo facto de o país albergar, no seu solo e subsolo, tanta riqueza á volta? - Nada.
Temos as nossas crianças a estudarem ao relento e encurvadas ao chão. Para quê nos serve a cerca de 2770 quilómetros de extensão da costa marítima? - Para nada. Temos os corredores de desenvolvimento de Maputo, da Beira e de Nacapa-Porto que não servem os interesses dos moçambicanos.
Temos mais 36 milhões de hectares de terra arável e cerca de 66 cursos de rios com água permanente e não produzimos o suficiente para nos alimentarmos. Algo deve estar muito mal, cá entre nós. É urgente mudarmos a equipa que nos vem governando desde 1975. O povo precisa de gente nova com nova mentalidade.
Não temos estradas, nem mesmo a Estrada Nacional Número Um, a (EN1)está toda intransitável, cheia de buracos em toda a sua extensão. Não há transporte condigno tanto urbano, quanto interurbano e o governo pouco ou mesmo nada tem feito para alterar a situação de caos em que o país se encontra. Com a Frelimo, ficou provado que não basta um país possuir recursos naturais para se desenvolver.
O mais importante recurso que um país poder e do qual se pode orgulhar é o homem bem formado, educado e treinado. Entre nós a formaçäo e treinamento do homem nunca foi prioridade. Quanto as nossas crianças, estudam em escolas que nem os pais passaram. Esses que hoje são ministros, vice-ministros, secretários de estado e governadores nunca estudaram encurvados ao chão e ao relento. É legítimo que a gente se pergunte o que está errado?
O declínio da economia iniciou com a chegada ao poder de gente sem experiência governativa e o espírito altivo de ter vencido o sistema colonial, deu no colapso de toda a sociedade. Muitos não tiveram a humildade de aprender como as coisas devem ser feitas correctamente.
Se tivéssemos andado com mais calma, o nosso país não estaria, hoje, de barriga, a indústria estaria a produzir e ninguém atravessaria a fronteira à busca de uma caixa de frangos, de um saco de cebola ou de batata. Moçambique produzia tudo isso, mas alguns confundiam a independência e a liberdade com a violência contra os cidadãos.
O povo precisa de gente com sabedoria, inteligência e a calma necessária para aglutinar vontades a fim de alavancar a economia, moralizar a sociedade e emitir sinais de uma verdadeira inclusão de todos os moçambicanos.
Não podemos continuar sendo uns moçambicanos pelo simples facto de sermos detentores de um simples BI (Bilhete de Identidade) enquanto outros ficam com ouro, minas de grafite, rubis, etc. Se o país é rico, vamos abrir as portas da casa para todos. Se o país não tem recursos naturais, vamos criar condições para que o pouco que houver chegue às mãos de todos, sem as injustiças que agora prevalecem em que para se estar na roda impõe-se lhe a condição de ser avermelhado.
A discriminação tem criado grandes problemas no nosso país. O colono teve sérios problemas, para além de ter estabelecido um sistema de segregação com base na cor. A discriminação era a coluna vertebral do colonialismo e como resultado disso tivemos a guerra de libertação.
A seguir à independência, tivemos um regime marxista-leninista, chamado ditadura da maioria, não foi preciso esperar tanto tempo para o país se mergulhar nos horrores da guerra dos 16 anos cujas consequências até ao memento ainda se fazem sentir.
A intolerância é como um cancro - corrói por dentro a sociedade e acaba-a derrubando. Ainda persiste, entre nós, a dificuldade de conviver com o pensar diferente. O surgimento dos esquadrões da morte que actuavam com bandeiras bem levantadas no mandato de Filipe Nyusi em que membros dos partidos da oposição (Renamo e MDM) pagaram uma pesada factura, incluindo a vida. Nem mesmo os académicos e jornalistas escaparam à chacina. O caso de Gilles Cistac aparece como um sinal vermelho que nos persegue.
Não entendemos as razões que levam a oposição a não capitalizar todas essas fragilidades que o partido governamental apresenta. Está satisfeita sentada eternamente no banco da oposição? É ser partido da segunda ou terceira categoria que recebe as migalhas que caiem debaixo da grande mesa do poder e se vai arranhando e mordendo-se uns aos outros, aliás, como ficou,
suficientemente, demonstrado na Vila de Alto Molócuè, que o tacho é o interesse maior de muitos. Um partido que não luta para chegar ao poder não vale para nada.
A oposição que pulula na nossa praça vale muito pouco porque não apresenta nenhuma estratégia para atingir o poder, ainda que as condições objectivas estejam criadas. A vontade pela mudança atinge todo o povo porque o partido Frelimo se tornou intragável a todos os níveis. O caminho para mudanças profundas está aberto.
Não basta estar insatisfeito, é preciso agir. As mudanças acontecem quando tomamos uma atitude forte e enérgica. É isso que falta em partidos da oposição. Os únicos que ainda não entendem que o povo está cheio e já não aguenta mais são os partidos da oposição.