Por Edwin Hounnou
Enganam-se os que consideram que o fenómeno Venâncio Mondlane (VM) seja uma ameaça unicamente à Renamo e ao seu reeleito presidente Ossufo Momade. As pessoas que corriam atrás de VM ou com ele corriam, nos protestos contra os fraudulentos resultados das eleições autárquicas de Outubro de 2023, não eram apenas seguidores da Renamo, mas o conjunto de moçambicanos desiludidos pelas políticas seguidas pelo partido no poder e de outros militantes e de gente sem qualquer militância partidária que viram em VM a sua bússola que indicava o caminho de salvação do abismo e a estrada do futuro.
Aqueles jovens que corriam atrás dos seus sonhos espezinhados pela má governação do partido no poder, por montes de promessas não cumpridas, contra a habitual violência policial e pela justiça eleitoral sempre negada ao povo pelos órgãos eleitorais arregimentados ao partido Frelimo. Os mais novos ensinaram aos mais velhos, nas eleições autárquicas de 2023, que para lutar não é preciso ser de um partido. Precisa ter a cabeça, consciência e a alma para pensar no futuro do país.
Os jovens que corriam e cantavam com VM querem um líder para continuarem a lutar contra um regime corrupto e ineficaz, capaz de lhes garantir momentos de sonharem que, um dia, as coisas possam mudar para o melhor. A Renamo ao rejeitar VM provocou um enxame de abelhas contra si que lhe vão ferrar muito mal nestas eleições. Igualmente, se equivocam aqueles que dizem que VM sejam um mero fenômeno de gente fina que se ilude pelos bonecos das redes sociais.
Os factos demonstram que o fenômeno VM chega bem longe. Chega tanto às vilas de Chiúre e de Marromeu assim como faz vibrar nas cidades de Maputo e Matola. Os jovens sentem-se traídos pela forma como o imbróglio eleitoral terminou. Dizem que foi a Frelimo, através da voz de Ossufo Momade, que disse para que os protestos terminassem imediatamente. De facto, nunca mais houve manifestação. Tudo terminou assim como havia começado.
A presença activa de VM na política doméstica põe meio mundo de calças pelo joelho. Os mais ameaçados serão os que se encontram mais próximos do pólo do poder e os demais que fazem política estomacal que, hoje, em plena praça pública são detestados devido ao seu conformismo de que nasceram para ser oposição.
Ora, as camadas jovens pensam que podem mudar a situação bastando, para tal, haver líder para lhes indicar o caminho a seguir de luta. Nada é impossível quando a gente, muda o sistema que descaracteriza o nosso povo.
As eleições autárquicas, mais do que em qualquer outro momento, mostraram que, afinal, é possível vencer e as coisas se tornam mais fáceis ainda quando se tem um bom líder com visão. Os que correm a dizer que o VM seja um fenômeno citadino, podem continuar a sonecar e serão surpreendidos pelo comboio da História que não fica à espera dos que não se entregam à luta pela democracia e liberdade. O povo não vai ficar à espera dos que se deixam dormir debaixo da mesa do poder.
As barreiras inventadas por notários devem ser denunciadas. Há noticias que sugerem que já começaram a despontar nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Sofala. Até os de Sofala, terra que se bate pela diversidade, também faz parte dos sem-carácter?!
A luta dos fracos é fechar as portas para que os maus, os vendidos triunfem, a mediocridade e a preguiça se sobreponham ao curso da corrente normal da História que não se pára com as mãos. Os ventos da mudança já sopram com muita intensidade, com fortes rajadas.
Os fortes e destemidos não jogam baixo, como dizem os brasileiros : "matam a cobra e mostram o pau". A luta que se aproxima não é para a gente fraca. Não é para os que lançam a pedra e correm para se esconder debaixo da mesa. Os notários não são chamados a participarem das batalhas políticas. Os que aderirem as disputas políticas devem ser afastados.
A função pública não é um sector do partido governamental, como vem acontecendo desde os tempos do monopartidarismo.
A função pública deve servir a todos independemente da crença política e militância partidária de cada um. Quem quiser fazer política que seja fora do Estado.
Como consequência disso, a força do povo vai arrastar para as margens os políticos de brincadeiras e dos esfomeados. Não ficaremos admirados quando o poder, para evitar chatices maiores, chumbe a pretensa candidatura de VM às eleições presidenciais, alegando questões insanáveis e mentiras. Tudo isso será na tentativa de parar o vento com as mãos.
O povo está cansado de esperar por um líder capaz de fazê-lo atravessar o deserto. VM é visto como aquele homem de bastão mágico que divide as águas do mar, segundo a uma estória bíblica, para o povo oprimido passar e salvar-se da hecatombe que se vive.
Nunca tínhamos visto antes tanta gente a correr, todos os dias, de cima para baixo e vice-versa, pela justiça eleitoral que sempre lhe foi negada. Isso é sinónimo de luta pela mudança. É persistência e vontade férrea de vencer. Não existe nenhum obstáculo capaz de barrar um povo decidido a vencer, seja qual for a dificuldade. Todos os obstáculos do mundo são vencíveis quando o povo estiver decidido a lutar pelo seu sonho. O povo já deu o sinal de saturação.
O fim do colonialismo foi um sinal equívoco de que é possível vencer. O fim do sistema de opressão é um outro sinal de que o povo pode vencer. O sistema que submete o povo à probreza e o joga na vergonhosa arte de mão estendida pode ser bem vencido.
O obstáculo maior é a nossa oposição política que não luta nem tem estratégias para alterar a situação que se vive. A Oposição gosta de ser simples oposição. No nosso país, ser oposição vale a pena. Ganha muito dinheiro e tem muitas regalias. A Oposição não se importa, nemi que seja rejeitada, ou mesmo odiada pelo povo, sempre pensa que representa algo sublime.
Quem não trabalha para derrotar a Frelimo é a Oposição. Com uma oposição como esta, tão conformada e preguiçosa, que não acorda do sono, é melhor render-se antes da disputa iniciar.
VISÃO ABERTYA – 28.05.2024