EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (188)
O torpor, diante dos últimos acontecimentos, não está só com o Laurindos. Ou melhor: o optimismo que se gera na saída de Moçambique da lista cinzenta é ofuscado pela realidade, pelo que sabemos deste Governo.
O Governo, através do Comité Executivo de Coordenação de Políticas de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e Combate ao Terrorismo, disse esta semana estar optimista de que em 30 dias vai tirar Moçambique da lista cinzenta do Grupo de Acçao Financeira (GAFI), em que se encontra há dois anos.
Temos até 19 de Julho próximo. E carregamos às costas o peso de alcançar três resultados imediatos, cruciais para a retirada de Moçambique da lista retromencionada. Caso isso não aconteça, o pior que nos pode acontecer é o bloqueio dos cartões de crédito e a verificação da conformidade de todas as transacções com o Estado moçambicano.
Quer dizer, o dinheiro pode nos faltar- e de que maneira? O Governo diz que vai a tempo de resolver o problema. Não tenho nada contra, mas este momento de incerteza faz-me recordar os antigos mágicos que se apresentavam na tevê, nas noites de domingo.
Com recursos a luzes, tecidos e muita habilidade, enganavam a plateia diante de espectáculos de ilusão de óptica que deixavam muita gente intrigada até o dia seguinte. A versão televisiva tinha como objectivo gerar entretenimento.
Mas a nossa versão dessa ilusão de óptica não tem nada de prazerosa ou interessante. Pelo contrário: gera insegurança política, económica e social, o que é péssimo para o País.
Ao cardápio das incertezas soma-se toda a insegurança que a situação acarreta e muitos empresários, por precaução, podem estar a tirar o seu dinheiro de Moçambique para outras paragens- se é que ainda não o fizeram.
Estamos neste emaranhado precisamente porque aqui não se trabalha, ou porque as pessoas que deviam fiscalizar essas situações encontraram nelas o seu celeiro.
Leis não nos faltam. As pessoas é que preferem servir-se antes de servir Moçambique. E, estranhamente, é com as mesmas pessoas que contamos para sair desta vergonha. É como deixar o lobo para guarnecer as ovelhas!
Mas bom: quisera eu que tudo isto fosse apenas uma ilusão de óptica.
DN – 14.06.2024