Por Edwin Hounnou
Viabilizado pelo voto da bancada parlamentar maioritária (169 votos) da Frelimo, na sessão de 20 de Março de 2024, Moçambique acaba de jogar os cidadãos do Ruanda refugiados que procuram abrigo, paz,sossego e pequenos negócios, em Moçambique, às garras de um regime antidemocrático de Paul Kagamé.
Mesmo antes da assinatura do Acordo de Extradição, os cidadãos ruandesas sempre viveram sob temor de rapto e assassinato, no nosso país.
Desde que o presidente Filipe Nyusi foi solicitar ajuda militar ao governo de Kigali, na luta contra o terrorismo, em Cabo Delgado, os esquadrões da morte do Ruanda começaram a caçar, de forma livre, e a matar cidadãos ruandeses refugiados em Moçambique. Antes da viabilização deste acordo, ruandeses eram alvos de assassinatos. A oposição (Renamo e MDM com 51 votos) não foi capaz de impedir o negócio.
O governo de Nyusi nunca se preocupou com assassinatos/desaparecimentos de ruandeses que ocorrem no nosso país. Nunca mandou investigar quem estaria por detrás desses assassinatos.
Os cidadãos ruandeses continuam desaparecendo ou aparecem mortos. Nem a polícia investiga o que está a acontecer com cidadãos ruandeses. O regime de Kagamé já vem fazendo caça política contra refugiados ruandeses e ninguém se preocupou como caso de violação dos direitos humanos.
Com esse acordo de sangue já no papel, os esquadrões da morte do regime de Kigali podem perseguir e matar, de forma aberta, o que faziam às escondidas. Já têm m a carta branca para perseguir, prender, deportar qualquer cidadão ruandês considerado hostil ao regime de Kagamé. A Frelimo vendeu a ruandeses refugiados, em Moçambique, ao regime de Kigai.
Cidadãos ruandeses são assassinados por esquadrões da morte de Ruanda com a cumplicidade do regime da Frelimo. Já foram mortos, no país, cidadãos ruandeses tais que Rebocatt Karemandigo que era vice-presidente da Associação dos Refugiados Reuandes em Moçambique, (ARRM) foi assassinado, na Matola a 13 de Setembro de 2021. Até hoje, os seus assassinos não são conhecidos e ninguém os procurou.
O jornalista Ntamuhanga Cassien foi detido por oito homens, na Ilha de Inhaca onde, para sobreviver, vendia produtos de primeira necessidade. Soubemos, mais tarde por agências internacionais de notícias, que Cassien já se encontrava enjaulado, em Kigali.
A 21 de Outubro de 2021, TheogeneTuratsinze, antigo director do Banco de Desenvolvimento do Ruanda e vice-reitor da Universidade São Tomás de Maputo, foi raptado, crivado de balas e seu corpo jogado ao mar, na Praia da Costa do Sol, em Maputo.
O secretário-geral da ARRM, Byiringiro Wells foi morto, em Maputo. Niyonteze Baziga, presidente da ARRM, foi morto em 2019, no Bairro T3, arredores de Maputo. Dioméne Tunganeyeze, empresário ruandês, foi despachado por esquadrões da morte de Kagamé. Benjamin Ndagijimana, outro ruandês perseguido pelo regime de Kigali, teve a mesma sorte.
Agora, os ruandeses se apercebem de que Moçambique já deixou de ser aquele país que lhes podia oferecer um abrigo seguro. Se os então regimes políticos de Tanzânia, Zâmbia e um pouco de Malawi, de Kamuzu Banda, tivessem tomado a postura igual à do governo de Nyusi, Moçambique não teria alcançado a sua independência, em 1975.
Os combatentes da FRELIMO (não partido Frelimo) não eram entregues ao regime colonial de Portugal. Se isso tivesse acontecido, a nossa luta pela iindependência teria fracassado. Julius Nyerere, presidente da Tanzânia, Kenneth Kaunda, presidente da Zâmbia, transformaram os seus países em abrigos dos patriotas moçambicanos que procuravam a independência. Kamuzu Banda, então presidente do Malawi, à sua maneira, ajudou a luta dos moçambicanos.
Os acordos de extradição, geralmente, se fazem com países vizinhos e com vantagens mútuas. Para o nosso caso, não há notícias de haver dissidentes ou delinquentes de crimes comuns moçambicanos nas cadeias do Ruanda. Os ruandeses que estão refugiados em Moçambique não são delinquentes de crimes comuns. São cidadãos que discordam do regime de Kagamé.
Os cidadãos ruandeses que Nyusi entrega, à força, não são bandidos nem criminosos. As autoridades moçambicanas agem de tal modo como recompensam pela ajuda militar que Kigali presta na luta contra o terrorismo, em Cabo Delgado.
O Presidente da Turquia, Recep Ordogan, havia solicitado a extradição de turcos que vivem em Moçambique, porém, o governo não aceitou. Porquê? É simples para entender. Os cidadãos turcos estão envolvidos com as elites da Frelimo no sector imobiliáro e escolas. Uma possível extradição desses cidadãos deitaria por terra o negócio em que os frelimistas estão envolvidos.
Essa recusa ao pedido de Ordogan não foi por humanismo, mas por interesses económicos entre as elites frelimistas e os empresários turcos. Os ruandeses não têm nada a partilhar com os que decidem na Frelimo, por isso, são jogados aos crocodilos.
O dinheiro, aos olhos desses frelimistas, está acima de quaisquer outros interesses. É o centro do mundo. Já não há solidariedade entre os povos oprimidos, perseguidos por regimes ditadotoriais e carrascos.