Por Edwin Hounnou
Para quem esteve atento, na entrega e recepção, da documentação da candidatura de Venâncio Mondlane, ao Conselho Constitucional, CC, deve ser apercebido do sinal de hostilities e rancor que emitiu. Em cerimónias similares anteriores, perfilam, para além da presidente do órgão, Dra. Lúcia da Luz Ribeiro, rodeada dos demais juízes da Frelimo e da Renamo. Desta vez, porém, esteve, completamente, sozinha, cercada de um deserto medonho, emitindo sinais de um mau desfecho desta desafiante e épica novela de rebeldia.
À partida, os grandes e poderosos - partidos Frelimo e Renamo - devem ter instruídos os seus juízes para desertarem daquela cerimónia. Daqui se pode concluir que a candidatura de Venâncio Mondlane venha a ser chumbada, pois, o sinal de exclusão, nesse sentido, já foi emitido pelos juízes do CC. Só não viu isso quem não quis ver.
Sempre denunciamos que a partidarização dos órgãos de gestão eleitoral é um problema muito grave na democratização da nossa sociedade e a atitude do CC provou, por a+b que, afinal, nós estamos cobertos de razão. Venâncio Mondlane foi visto e considerado como um intruso na festa daqueles que decidem o destino das eleições e de quem deve vencer uma eleição ou de quem tem que perdê-la.
Os vencedores das eleições, em Moçambique, é segredo do STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), da CNE (Comissão Nacional de Eleições) e, em última estancia, do Conselho Constitucional. O voto que os cidadãos depositam nas urnas nem sempre decide alguma coisa. As eleições que têm ocorrido entre nós deixam muito claro que o voto é acessório. Arriscamo-nos a afirmar que Venâncio Mondlane não vão deixá-lo concorrer.
As razões para a exclusão que se prevê estão à vista : desafiou os grandes e poderosos. Desafiou a Renamo que sempre tem facilitado as vitórias retumbantes, qualquerizantes e convincentes que a Frelimo vem somando de eleição em eleição. A Frelimo tem a consciência de que Venâncio Mondlane não vai fazer vida negra apenas à Renamo mas o seu desafio vai, também, atingir à Frelimo e tantos outros actores. É, de todo, errado pensar que só a Renamo vai sofrer sozinha com o fenómeno venancista.
Aos que dizem que o venancismo, somente,, se circunscreve nas cidades e vilas, gostaríamos de lhes dizer que estão equivocados. Venâncio Mondlane é um exímio player das redes sociais, em particular do WhatsApp. Ele vem fazendo política activa há bastante tempo e o povo sabe disso.
Em tempos de enxurradas e ciclones, VM tem aparecido ao lado das vítimas, prestando-lhes ajuda. O povo, em particular a juventude, o conhece, por isso, o segue com muito fervor.
O grosso dos votantes nas nossas eleições não tem nada a ver com a heróica luta de libertação nacional nem da guerra pela democracia. Os jovens querem ver os problemas do desemprego e do subdesenvolvimento do país resolvidos. Não querem saber quem atravessou o rio Rovuma, Zambeze, Lúrio, Luenha ou Púnguè a nado e com sacudú às costas e AKM numa mão.
Ninguém deseja saber quem perdeu a juventude na Serra da Gorongosa a combater o sistema communista. Para os jovens isso tudo pertence ao passado e não um motivo suficiente para obter votos. A luta de libertação do colonialismo e da luta contra o comunismo não mantêm o povo refém. A Frelimo e a Renamo ainda não entendem esta dinâmica. Estão agarradas ao passado.
Os jovens querem saber como se pode ter escola de qualidade para todos, saúde para o povo, boas estradas que liguem o palisa de uma ponta a outra, uma agricultura que permita que nao se continue a atravessar a fronteira à busca de um saco de batata, de cebola. Quer uma indústria forte que produza enxadas, catanas, tractores. Quer ver a têxtil e de calçado reactivada para que o povo deixe de vestir roupa velha e andar de sapatos de segunda mão. Os jovens têm dor de coração de ter que conviver com corruptos que roubam fundos públicos para seus bolsos.
Os jovens sentem o peso do fardo de assistir os recursos do país a serem saqueados por multinacionais que deixam buracos na nossa terra, em conluio com os corruptos do governo. Os jovens estão cansados de viver como refugiados na sua pátria. A Frelimo deu provas bastantes de que não tem solução para o país.
A Frelimo e a Renamo terão um "combino" para excluir a candidatura de Venâncio Mondlane, a preferência da juventude e dos excluídos pelo regime. A Frelimo tem medo de ver o seu poder reduzido. A Renamo, que nunca se apresentou como alternativa ao poder, teme ser vulgarizada. O povo deve exigir a imparcialidade dos órgãos de gestão eleitoral, como a acabamos de ver como as coisas funcionam na África do Sul.
Não nos admiremos quando voltarmos a ver a Frelimo e a Renamo numa unica frente - FRENAMO -, para travarem os ventos da História. Os juízes do CC já deram o pontapé de saída. Eles se submeteram a um comando político e não às leis. Não foram equidistantes. Não perdemos nada por esperar para vermos o desfecho desta comédia.