ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Afinal existe alguma ética em tempos de guerra?
Os tempos são muito complicados, a guerra da Rússia contra a Ucrânia 'atiça' vários problemas internacionais, problemas políticos e também problemas filosóficos; muitas pessoas tentam fazer uma 'análise' filosófica ou política da situação, tentam 'intender' um pouco melhor esse contexto e… uma dessas questões que surgiu, surgiu inclusive duma “provocação”, de uma sugestão na verdade de um escrito meu aqui no Canal de um amigo nosso, ele questionou-me ou melhor mandou essa sugestão dizendo que queria saber se… há alguma ética em tempos de guerra se… há alguma coisa nesse sentido. Pois, bem para responder essa preocupação eu preparei esta Carta para dizer se há ou não ética em tempos de guerra e se é possível ter uma ética em tempos de guerra.
Bom, vamos aqui tentar 'analisar' a pergunta que o nosso amigo fez. Tem ou não tem ética em tempos de guerra? Antes de falar se há ou não ética em tempos de guerra é bom que agente definir o quê que agente está chamando de ética, porquê há uma 'confusão' normalmente muitas pessoas cometem o erro que é 'confundir' ética com moral. Então, agente vai dizer que moral, quando agente fala de moral está-se referindo ao que é certo ou errado, ou seja, os 'valores' duma sociedade.
E ética seria a reflexão sobre essa moral. Ou seja, moral diz respeito ao que você considera certo, errado, bom, mau enfim, aquilo que são os seus 'valores' , os 'valores' duma sociedade. Agente sabe quê os 'valores' de Moçambique, por exemplo, são diferentes do 'valores' de outros países do mundo, mas a ética é essa área da filosofia que reflecte sobre isso, sobre os 'valores' morais duma sociedade. Podemos até dizer que boa parte das mudanças morais duma sociedade 'pressupõe' um debate ético por traz.
Mas, então vamos pegar aqui, há uma reflexão ética sobre a guerra? Há! E…é muito interessante, porque se agente pega lá até os 'escritos' + antigos de Hesíodo e Homero por exemplo, há todo uma 'narrativa' sobre o período de guerra, lembro duma que eu li e conheci que era uma das guerras que havia na Grécia Antiga e que houve uma “pausa” naquela guerra por conta do luto. O quê que aconteceu? Enfim para não ficar aqui me atendo a guerras antigas, havia um costume na Grécia Antiga de toda vez que alguém ou um algum membro importante morria numa guerra havia uma 'pausa' de três dias para que se 'prestasse' o luto, então a guerra era 'pausada' para se 'prestar' esse luto. Ou seja, você havia até um Acordo 'implícito' entre as partes para 'respeitar' o luto alheio.
Veja, o quê que agente tem aqui! Desde a antiguidade existiam Acordos 'tácitos' , Acordos entre as parte que guerreiam sobre o que é certo ou errado sobre até onde agente pode ir ou não. É claro que eu estou a dar o exemplo das guerras antigas, mas as guerras elas tomaram 'proporções' muito grandes nos últimos Séculos, sobretudo no Século passado com a primeira e segunda guerra mundial que teve obviamente um 'lastro' de violência e de mortes muito maior já + vista antes e… isso obviamente 'aumentou', também a reflexão sobre o quê se deve ou não fazer em tempos de guerra.
Por isso, se você está 'pensando' que em tempos de guerra “vale tudo” não é bem por ai não! Existem Acordos internacionais inclusive para tempos de guerra como são as Convenções de Genebra, quatro Convenções que podem ou não ser feitos. Um dos Acordos + aceitos ou que deveria ser aceito e quê muitas pessoas “criticam” quando esse Acordo é rompido é o tratamento que se dá os civis.
Por exemplo, em tempos de guerra, “esperasse” quê na guerra Rússia contra Ucrânia sem tentar entrar em detalhes sobre o quê que agente acha sobre esse conflito; “esperasse” quê as tropas russas batalhem contra as tropas ucranianas, “esperasse” em tempos de guerra quê os civis não vá para linha de front, não seja atacado, porque é assim que é a guerra'; isso é um Acordo 'implícito' ,por isso, que tem um problema deste começo de semana muito grave, o 'ataque' a civis deve ser sempre condenável nos Acordos internacionais.
Mas, para por ai para agente pegar um outro ponto filosófico que é bem interessante. Veja como em tempos de guerra o que é certo ou errado, a moral de um país ela é 'suspensa' por um Acordo intercultural. Em tempos de guerra algumas coisas são 'postas' para além da nossa cultura, as vezes agente acha uma coisa certa, outra cultura acha errada, mas é preciso sempre esses Acordos para além da nossa própria cultura quê sejam 'respeitadas' por culturas diferentes, isso é, o que move por exemplo as Convenções de Relações internacionais, isso é, o que move por exemplo as relações que tem na base da guerra.
Em outras palavras, o que eu quero dizer é o seguinte: há ética sim, existe uma ética em tempos de guerra e… toda guerra 'gera' uma reflexão ética sobre o que deve ou não ser feito. Vou pegar um exemplo aqui actual do Século passado, mas… que até hoje é um 'problema gigante': há uma nova reflexão recente do Século passado para cá, sobre o que se faz, por exemplo com as armas nucleares. Tem um Acordo 'firmado' foi quê as zonas nucleares não devem ser 'atacadas em hipóteses alguma independente da guerra, vou- te dar um exemplo: o Irão, por exemplo, tem uma Central nuclear que mesmo com todos os conflitos ao longo dos anos no Irão, jamais nenhum inimigo do irão quis atacar aquilo, porquê? Porque sabe que um problema numa Central nuclear vai muito além do irão, aquilo pode jogar elementos químicos radioactivos na atmosfera e afectara vários países.
E… não só no irão, assim também foi no Iraque, no Afeganistão, na Coreia do Norte, por isso, há sempre esse 'respeito' ninguém pretende ou almeja 'atacar' em uma guerra uma Central nuclear, porquê sabe que isso 'foge' dos anseios duma guerra e pode colocar toda a população mundial em risco.
Repare, teve esse Acordo 'implícito’, depois duma reflexão filosófica que vê o que é certo ou errado; aqui agente está falando duma ética ou duma moral da guerra quê pode não pode numa guerra. Por exemplo, a Rússia está 'enfrentando' a Ucrânia será que a Rússia pode mesmo ‘atacar’a Central nuclear da Ucrânia e colocar todo o planeta em risco?! Gente quê não tem nada a ver realmente com a questão ucraniana com a Rússia, então ali já é um Acordo 'implícito' na guerra nos últimos anos, há inclusive todo um 'preparo' da guerra para isso e…há um Acordo inclusive quê a Rússia assinou para não 'atacar' Bases nucleares para não colocar todo o mundo em risco.
Então, o quê que agente tem! Que há sim uma ética em tempos de guerra e guerras como essa da Ucrânia, guerras de 'proporções globais' elas sempre nos 'remetem' a uma coisa bastante filosófica que são esses Acordos internacionais.
Por isso, é muito interessante agente concluir um pouco aqui do seguinte: se agente 'consegue' Acordos internacionais para guerra que é um período extremamente complicado, se agente 'respeita' esses Acordos e quando 'não respeitamos' toda a Comunidade internacional nos 'ataca' com sanções económica, com monte de coisas, isso nos da um bom indicativo, porque agente também pode ter Acordos internacionais 'contra' a fome no mundo ou deveria ter ou 'contra' miséria no mundo.
Então é, um bom indicativo e existem vários filósofos que “trabalham” nessa linha o Habermas por exemplo, quando ele vai falar da sua «Ética do Discurso» ou «A Ética do Agir Comunicativo», quê o discurso precisa de ir para além duma cultura específica. Mas, voltando ao tema, respondendo aqui a pergunta; há sim uma ética em tempo de guerra, uma ética para além daqueles que estão 'guerreando' e + do que isso, todo o tempo de guerra 'traz consigo' reflexões novas sobre o que pode e não pode ser feito numa guerra.
Por exemplo, se na primeira guerra mundial poderia ou não usar arma química e na segunda guerra mundial o quê agente faria com armas atómicas. Tem uma frase famosa “atribuída” ao Einstein, quando lhe perguntaram como seria a terceira guerra mundial. Ele teria respondido que “não saberia, mas… a quarta ele saberia quê seria com paus e pedras”, no sentido de que uma terceira guerra nuclear colocaria fim a civilização humana.
Claro que… eu não vou dizer aqui que agente “aprenda” com essa guerra na Ucrânia, acho que essa ideia de “aprender” com uma guerra, “aprender” com o sofrimento é algo muito mau, acho que é bastante ocidentalizado, bastante cristão de certa forma, mas… se agente poder tirar uma 'lição' filosófica disso é como que esses 'laços' internacionais eles precisam ser + fortemente firmados, agente precisa ter um 'aparato melhor' para ir para além desse discurso cultural único e fazer um discurso pluricultural, intercultural, esses Acordos que agente sempre 'suspende' precisa firmar com outras culturas.
Enfim, agente 'roga' para que esse período de guerras passe e acabe logo, logo para que a solução seja dada + breve possível e que enfim… nós possamos ter vida de 'paz perpétua' como diria o Kant, logo.
É, esse o nosso pedido!
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [9] de Julho, 20[24]