A Fly Modern Ark (FMA) denunciou, esta segunda-feira (12), em Maputo, esquemas de desvios milionários nas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), através de pontos de venda (POS); recolha de dinheiro em espécie, sobrefacturação; e uso indevido de dinheiro.
Foi durante uma conferência de imprensa que o Gestor de Projectos da FMA, Sérgio Matos, revelou as falcatruas que já veem lesando a companhia de bandeira nacional há anos para fim pouco claros, incluindo pessoais.
Ele disse que há dinheiro que está a entrar na companhia, mas o montante global não é reflectido nas contas da LAM.
“Iniciamos com algumas operações, há duas semanas, por conta de desvio de dinheiro que não está a entrar nas contas da companhia, para saber para onde está a ir o dinheiro. Está-se a vender, mas a empresa não está a ter todo o dinheiro. E, nos últimos três meses, das avaliações que fomos fazendo, o diferencial que estávamos a ter estava na ordem de dois a três milhões de dólares. Só no mês de Dezembro estamos com um défice de 3.200.000 dólares”, revelou.
Esta incongruência levou a “investigações relâmpago” que desvendaram o uso de pontos de venda (POS) em nomes de terceiros, através dos quais os clientes pagavam os serviços da LAM.
“Decidimos fazer algum rastreio para percebermos o que está a acontecer. Fizemos um trabalho relâmpago com a segurança interna da LAM de recolher quase todas POS. E, dos 20 pontos de venda de bilhetes da LAM, recolhemos até o dia de ontem [domingo] 81 POS. E há algumas lojas onde os próprios chefes não conhecem a pertença da POS”, avançou.
De acordo com o gestor de projectos FMA, empresa contratada para reestruturar as dívidas da LAM, alguns dos domicílios dos POS que recebiam os pagamentos estão fora da cidade de Maputo.
“Antes de nós [FMA] estarmos aqui, acontecia de alguns POS estarem em nomes de bottle store que estão em Xai-xai, Beira, ect., a pagar a partir daqui [Maputo], mas isso não foi no nosso tempo” referiu.
Ele disse que será realizado um trabalho junto de cada banco, nomeadamente a análise de cada POS, para saber o que se está a passar, pois, para já, ainda não foi possível identificar as pessoas por detrás do esquema.
Outro indício de desvio de fundos é o depósito dos valores em numerário nas contas bancárias da LAM, que ocorre três dias após a sua recolha nos pontos de venda da instituição.
“A recolha de dinheiro em cash (espécie/físico) é feita pelas empresas de segurança nos pontos de venda da LAM. E quando procuramos saber dessas empresas de segurança como é que é feita e quando recebem os borderôs [ficha de registos das operações financeiras], vemos que os depósitos são feitos três dias depois. Isto quer dizer que se recolhe dinheiro na companhia e depois fica guardado algures por dois ou três dias e depois disso é que vem o borderô”, clarificou.
Por outro lado, ou ocorre a sobrefacturação, desvio de fundo ou mesmo de combustível na LAM, dado que há requisições para abastecimento de aeronaves acima das suas capacidades.
“Mesmo em relação aos abastecimentos, estamos a notar que alguns são feitos acima da capacidade [dos aviões]. Se uma aeronave tem capacidade máxima de combustível na ordem de 80 mil litros (toneladas), a mesma é abastecida a 95 toneladas (mil litros). A questão é, as 15 toneladas (mil litros) estão a entrar aonde”?, questionou Matos.
Por outro lado, as operações da FMA demonstraram que funcionários da LAM utilizaram dinheiro da empresa em benefício próprio.
“Temos a situação de alguns funcionários da LAM que utilizam ou utilizaram fundos da companhia para compra de casas próprias. E estes funcionários, quando foram contactados, cada um está a tentar arranjar uma justificativa”, revelou.
A FMA, que já levou a LAM a retomar algumas rotas, está a reabrir a rota Moçambique-Maláui. E, neste trabalho, descobriu uma conta da LAM encravada com mais de um milhão de dólares naquele país.
“Há cerca de três semanas, porque estamos para abrir a rota do Maláui, descobrimos que lá existe uma conta com 1.200.000 dólares e que ninguém sabe como movimentar este valor”, revelou.
Questionado se a FMA ainda vai continuar a trabalhar na reestruturação da LAM, uma vez que o contrato termina em Abril próximo, e neste ambiente de sabotagem, Matos disse que o foco agora é encontrar as razões para existência do diferencial entre a adesão de passageiros e os números reais nas contas da LAM.
“Nós ainda estamos preocupados, neste período, em saber como é que com o incremento de passageiros que estamos a ter os números não reflectidos nas contas bancárias. Juntando as contas o valor não está lá”, frisou.
MZNews - 23.07.2024