Por Edwin Hounnou
Foi notória e muito estranha a ausência do Presidente da República, Filipe Nyusi (FN), na despedida das Forças Militares da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SAMIM, na horade saída de Cabo Delgado, para onde haviam sido chamadas para lutar contra o terrorismo, em 2021. A SAMIM ajudou a combater o avanço do terrorismo, mapeou as suas posições e apoiou na contenção do forças inimigas, porém, na hora do regresso para as pátrias.
FN não esteve presente nas cerimónias de despedida. FN limitou-se, apenas, a fazer-se representar pelo seu ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Artur Chume. Essa atitude ajuda a consolidar a ideia, ora em voga, segundo a qual as autoridades moçambicanas apartaram-se da SAMIM e aproximaram-se das forças do Ruanda a tal ponto que é o Governo de FN que anda à procura de recursos para as forças ruandesas. A percepção de simpatias para com Ruanda colou.
FN poderia ter uma agenda bastante carregada, porém, não poderia ignorar a disponibilidade dos países da SADC (Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral) em apoiar Moçambique na luta contra as incursões terroristas, em Cabo Delgado. Tombaram soldados, em defesa do povo e da integridade do nosso país.
Chegada a hora de despedida, FN não se dignou estar presente e desejar um bom regresso à proveniência desses homens bravos e solidários. FN preferiu mandar o seu ministro da Defesa enquanto ele vai para uma visita à Tanzânia. Essa atitude se não revela a falta de consideração para com a SADC, só pode ser um gesto de uma grande ingratidão. Nada justifica esse tipo de "gazeta". A SADC merecia um pouco mais de gratidäo. A atitude de FN está a esconder algo muito profundo que o tempo se encarregará de revelar.
O ambiente de animosidade entre a SAMIM e os posicionamentos do governo de FN nunca constituíram segredo para ninguém. A SAMIM queixava-se da exiguidade de fundos para a sua permanência em Moçambique e o governo de FN saíu à busca de fundos, apenas, para as forças ruandesas.
O governo deixou que a SAMIM se virasse como podesse. A SAMIM acabou saindo de Moçambique e vai, como se diz, apoiar o governo da RDC (República Democrática do Congo) que está sendo fustigado pelo M23, terroristas apoiados pelo governo de Kigali. O governo de Paul Kagamé (PK) apoia os terroristas que devastam a RDC e é o mesmo executivo de PK fornece militares para combaterm o terrorismo em Moçambique que inviabilizam a exploração do gás natural, em Cabo Delgado, provocam deslocados e queimam aldeias. Matam, decapitam moçambicanos.
A SAMIM sempre se queixou de que era vista como militares secundários pelas autoridades moçambicanas e as forças ruandesas como imprescindíveis. Que era atirada para a mata enquanto as forças ruandesas viviam em quartéis com o mínimo de condições. Essas queixas são do domínio público o que deve ter concorrido para o regresso da SAMIM. Para mostrar que não se tratava de mentiras, FN foi. às corridas, pedir ao seu amigo PK mais efectivos. Chegaram para acrescer aos 2.500 que já se encontravam. A presença de tropas estrangeiras, em qualquer país, é sempre um problema muito constrangedor quando se desconhecem os seus fundamentos.
Sem pestanejar, se predipôs a tapar o furo aberto pela saída da SAMIM com o envio de mais tropas, ficando, com esse gesto, confirmado que se tratava de um "combino" entre FN e Paul Kagamé mostrarem cara de poucos amigos à SAMIM a fim de provocarem a sua retirada. FN teria "gazetado" se fosse a saída das forças ruandesas?
A França, o país que suporta o regime de PK e a pátria da multinational TotalEnergies, que explora o gás natural do Rovuma, faz muito tempo que preparando essa jogada. Podemos nos recordar sempre que o CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, vem a Moçambique, antes passa por Kigali para receber o competente reporte do que estâ a acontecer cá connosco e, só depois, escala Maputo. Ou seja, Maputo virou como a segunda capital de Moçambique. A primeira capital é Kigali.
FN não se sente incomodado pela sua subalternização, porém, para o povo que se bate pela libertação do país, fica muito arreliado. Muito chateado. Ninguém pegou em armas para se libertar do colonialismo português para se entregar ao neocolonialismo francês.
A ideia de se ter iniciado com a exploração dos recursos naturais sem a preparação técnica parece ter sido má. O governo mostra que não tem capacidade para enfrentar os problemas derivados da exploração dos recursos. Se essa hipótese for verdadeira, é melhor interromper o "game" até que o país esteja em condições, sem ter que mergulhá-lo no neocolonialismo e subalternização, por interesses de grupo. Moçambique deve ser defendido, em primeiro lugar, pelos moçambicanos. Os outros poderão ajudar. Não entreguem a nossa pátria a ruandeses, franceses onem aos americanos.
Nós temos o orgulho da nossa pátria, do nosso povo. Os nossos recursos estão sendo saqueados pelas multinationais com o apadrinhamento das elites do partido Frelimo. O negócio de gás, rubis, grafite, areias pesadas, ouro, etc., serve para engordar um grupo e não ao povo moçambicano. Assim, não dá, Senhor Presidente Filipe Nyusi!