Tal como não era de domínio público a informação sobre a devolução ao Estado moçambicano dos sete milhões de dólares desembolsados pela Privinvest para subornar a Manuel Chang, o antigo Ministro das Finanças, foi ocultada informação de que, na verdade, esse valor não foi devolvido por Manuel Chang, como deixaram transparecer, recentemente, o vice-Procurador Geral da República e o Governador do Banco de Moçambique.
Manuel Chang está a ser julgado no Tribunal de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, e, a acompanhar o processo, lá estão dois jornalistas moçambicanos (os únicos da imprensa nacional), nomeadamente, Borges Nhamire, também investigador do Centro de Integridade Pública (CIP), e Fernando Lima, do portal Zitamar.
De acordo com Borges Nhamire, que falava, esta quarta-feira (07), numa conversa via vídeo com o Director-Geral do CIP, Edson Cortês, há muitas informações do desconhecimento da maioria em Moçambique. Entre as tantas – e como atesta um documento do CIP –, destaca-se o facto de o valor de subornos a Manuel Chang ter sido devolvido ao Estado moçambicano, através do depósito em uma conta do Ministério das Finanças domiciliada no Banco Central, em Novembro de 2019. Tal foi feito por empresário do sector de automóveis em Moçambique, Luís Filipe Pereira Rocha Brito, que fornecia viaturas de marca Ford às instituições do Estado.
Como foi bolado o esquema?
Dos sete milhões de dólares de subornos, dois milhões foram pagos através da transferência para uma empresa denominada Genoa Asset, SA, e os cinco milhões transferidos para contas de outra empresa, de nome Thyse International. Foram utilizados bancos de correspondência americana, em Nova Iorque, para os pagamentos. No documento do CIP, consta que Luís Brito é acusado de ter recebido parte dos valores de subornos.
Citando as transcrições do julgamento, o investigador do CIP referiu que “foi interessante ver que o dinheiro de Chang foi pago para uma empresa, a InterAuto, que vende carros da marca Ford, em Maputo”.
Ele também situou que se trata da empresa que fornecia a maioria de veículos, da marca Ford, para o Estado, durante a governação de Armando Guebuza.
“Agora, começaram a entrar Mahindras. Mas, no Governo de Guebuza, quase todos os funcionários públicos usavam carros da marca Ford Ranger, na altura”, recordou.
Segundo Borges Nhamire, a InterAuto é a empresa que recebeu quase todo o dinheiro de subornos, sete milhões de dólares, para Manuel Chang. “[Foi o senhor Luís Brito] que recebeu os sete milhões da Privinvest, e no dia 29 de Novembro de 2019, [o mesmo] devolveu sete milhões para o Banco de Moçambique. É esse dinheiro que se diz que Chang devolveu”, disse.
Borges criticou o facto de, há algumas semanas, o vice-Procurador Geral da República, Ângelo Vasco Matusse, confirmar que Manuel Chang devolveu o dinheiro, depois de ter sido questionado sobre a veracidade da informação. Da questão “é verdade que o dinheiro de Chang foi devolvido”?, o procurador Matusse respondeu “sim, confirmo”. “O que é revelado aqui em Nova Iorque é que quem devolveu o dinheiro foi um empresário ou proprietário lá da InterAuto”.
Recorde-se que, recentemente, Rogério Zandamela, perante jornalistas, anuiu, e procurou precisar datas, a questão sobre se fazia fé o facto de Manuel Chang ter devolvido o dinheiro de subornos.
O jornalista entende que os moçambicanos foram enganados ou ocultados informação durante cinco anos, pelo facto de o Governo, o Ministério Público e o Banco de Moçambique (salvo entendimento de sigilo bancário) não terem avançado a informação.
“Os americanos têm todos esses dados. Mostram até o número da conta bancária para onde o dinheiro foi devolvido, as empresas através das quais o Sr. Luís Brito veio a receber o dinheiro da Privinvest. E a defesa nega que esse dinheiro seja de Chang”, referiu.
Segundo Borges, nos corredores do Tribunal onde decorre o julgamento de Manuel Chang, andam informações sobre Luís Brito estar a ser investigado pelas autoridades americanas por este envolvimento na linha do suborno de sete milhões de dólares.
MZNews – 08.08.2024