(DANIEL CHAPO: o “figurão” que se segue...)
Por Afonso Almeida Brandão
«Toda a História repete-se sempre algumas vezes: a primeira como tragédia e as seguintes como farsa»
Esta frase, atribuída ao filósofo do Séc. XIX Karl Marx, é o ponto de partida para uma análise aturada e exaustiva sobre o estado da nossa situação actual que alguns irão reputar de primária e redutora, mas que se derem uma oportunidade à presente crónica, no final verão quão real e trágica (no verdadeiro sentido da palavra) a comparação é, mais ainda, decalca na perfeição na nossa própria condição de eleitores e, de um modo geral e bem concreto, de cidadãos Moçambicanos que somos.
Dito de outro modo, já estivemos e continuamos a assistir de forma conivente (ainda que uns mais conformados que outros), durante 49 longos anos, a uma verdadeira tragédia que tem culminado na sistemática “caridade da mão estendida” à pedantice financeira dos habituais Duadores Internacionais a que Moçambique já se habituou — e na nossa perda de capacidade de decidir os Destinos do País e de nós próprios e, agora, de quase a dez anos para cá, estamos novamente imersos na mesma peça de teatro, desta vez não mais aquela tragédia vivida ao estilo grego na era de Joaquim Chissano e Armando Guebuza, mas uma verdadeira farsa, réplica das duas anteriores, ainda mais deprimente, sem surpresas já que o protagonista hoje deste terceiro acto (de má gestão) era, então à época, um personagem secundário no início do terceiro mandato, ainda que este tente fervorosamente esconder e demarcar-se dessa sua participação e conhecimento do guião frelimista-(Chuxa)lista, por causa das Divídas Ocultas. Fala-se, claro está, do actual Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, a quem recai as culpas de toda a “embrulhada” desta vergonhosa história de roubo e desvio bem arquitectada... em vias de ser (finalmente) esclarecido.
Depois do Povo moçambicano andar sucessivamente de miséria em miséria dramática, em termos de pobreza absoluta, que tem conduzido milhões de cidadãos para a caridade, a viver no «limiar da pobreza» a verdade é que continuamos com este teatro contínuo e cada vez mais agressivo, tal como alertou Marx, na sua célebre frase que serviu de mote a este artigo, com a história a repetir-se pela terceira vez ipsis verbis em forma de farsa, uma farsa que é na sua base uma réplica da primeira, aquando da Presidência de Joaquim Chissano contendo todos os anteriores “ingredientes” daquela, depois para o seu sucessor Armando Guebuza, desde o drama, comicidade, cumplicidade, arrogância, roubos e desvios, vaidade, muita mentira e, claro, bastante previsibilidade quanto ao seu desfecho, pois igual aos originais roteiros que nos conduziram até aqui.
Mas porquê falar em farsa em vez das anteriores tragédias? Primeiramente porque só cai à segunda quem quer, como diz o ditado e o povo moçambicano imperdoável. Mas cair à terceira é demais, convenhamos. Incompreensivelmente, no fatídico dia em que demos uma maioria absoluta pela terceira vez à FRELIMO, caímos uma vez mais no conto de um vigário e no engodo bem-falante, ainda que o referido guião que enformou a primeira tragédia e depois a segundo tivessem sido exactamente o mesmo, o de distribuição constante com o dinheiro dos Contribuintes e da falta de norte e estratégia, não fomos capazes de o entender e estivemos e voltamos a repetimos os mesmos erros pela terceira vez, logo já não é mais uma tragédia. Segundo, porque tudo foi farsa nos (des)governos de Chissano e Guebuza e agora continua a ser farsa neste governo com Nyusi no “poleiro”, incluindo os crescimentos anómalos do PIB actual, que não resistem a um exame de lógica simples.
Para perceber o cerne da questão, quanto à comparação estrita que faço entre estes três momentos tão aparentemente diferentes e no entanto tão iguais, é necessário remontar na generalidade aos loucos anos de euforia e maioria absoluta, almejada por Joaquim Chissano e Armando Guebuza, e da “festança” que a FRELIMO com os seus Ministros e dirigentes no esbanjar e depois roubar do erário público, mas, muito em particular, aos temas e assuntos que à época estavam em voga, assim como as Reformas que tardaram e nunca chegaram, mas que foram vociferadas aos sete ventos por toda a Comunicação Social e os diversos gabinetes dos dirigentes que propagan(dea)vam novos e brilhantes amanhãs para todos numa base diária. Inacreditável, de bradar aos Céus!
Ao analisar este facto chegaremos a uma breve e, a meu ver, dramática conclusão: não só a Sociedade Moçambicana e o País no seu todo não evoluíram, decorridos todos estes 49 anos na sua totalidade, como cometemos a verdadeira proeza de andar para trás no Tempo, algo que se julgava até agora impossível à luz dos preceitos científicos e do que conhecemos da Física.
Para aqueles a que com este breve trecho já captei a atenção, escusado será entrar em pormenores com tudo que aconteceu desde 1975 até hoje, mas a verdade é que poderiamos apresentar ou aflorar mais exemplos infindáveis, práticos e concretos do que se passou, fazendo os devidos paralelos entre a já referida farsa que vivemos hoje e as tragédias que temos vindo a passar há quase cinco décadas atrás e que, pelos vistos, já esquecemos, se assim não fosse, não iríamos pagar para ver, com o nosso Voto, a mesma peça e as mesma fórmulas teatrais já gastas. E, pelo «andar da carruagem», esperamos muito sinceramente que o Candidadto CHAPO não ganhe as Eleições Presidenciais de Outubro próximo, caso contrário será aconselhável imigrarmos todos para qualquer lado...
Embora, como se vê, o cenário, pouco animador, não tenha mudado e a história esteja efectivamente a repetir-se, mudou algo fundamental: a minha Geração, que assistia à história original sem uma capacidade de reflexão crítica e suficientemente politizada, é hoje trabalhadora e contribuinte, tendo uma das mais altas taxas de impostos da CPLP e formou-se não a um domingo, nem com um papel timbrado da Assembleia da República, e muito menos por passagens administrativas ou equivalências integrais de acordo com a sua vasta experiência profissional. Formaram-se com esforço e dedicação e, sobretudo, Esperança e Optimismo para contribuírem para um País mais Desenvolvido, Justo e Próspero, e para impedir de uma vez por todas que esta história não acabe da mesma forma, se não pior, às tragédias que já foram no Passado. Falta agora a presente farsa orquestrada atingir o seu apogeu para que o que Marx referiu na sua constatação assente que nem uma luva à realidade dos Moçambicanos — infelizmente para todos nós. Esperemos e façamos algo para que o desfecho do quarto acto a caminho, “encabeçado” pelo “figurante” DANIEL CHAPO, não seja igual ao primeiro candidato da FRELIMO ocorrido em 1975. Deus nos Salve de tamanha tragédia! Amém!