(É urgente redefinir as estratégia para ter um Plano de acção concertado entre
as várias áreas)
Estamos em época alta. Não é só calor e férias. Há todo um sector que está no pico do ano por agora, mas onde não faltam relatos de descontentamento. Portugal é um país conhecido pelas suas praias deslumbrantes, cidades históricas e gastronomia rica, e tornou-se um destino de eleição para turistas do Mundo inteiro.
No entanto, este crescimento explosivo do Turismo tem trazido à tona uma série de problemas, como tem sido noticiado, e cujas soluções urgem para que consigamos garantir a sustentabilidade e crescimento do sector, mas também, e principalmente, o saudável equilíbrio com os que vivem nas cidades diariamente.
É fundamental trabalhar para garantir a sustentabilidade e melhorar a qualidade do Turismo. É urgente implementar estratégias que equilibrem o crescimento económico com a preservação ambiental e cultural, além de melhorar a experiência dos visitantes e a qualidade de vida dos residentes.
O fenómeno do sobturismo, ou “overtourism”, é um dos problemas mais graves que Portugal enfrenta, impactando negativamente a qualidade de vida dos residentes locais. Cidades como Lisboa e Porto, assim como regiões turísticas como o Algarve e a Ilha da Madeira, têm visto um aumento exponencial no número de visitantes. Este influxo massivo de turistas tem levado à superlotação de determinadas áreas e aumentou a pressão sobre infra-estruturas locais, como transportes públicos e sistemas de saneamento e por isso mesmo, vemos as Taxas Turísticas a aumentar o seu valor, como consequência directa da sobrelotação e da necessidade emergente de mais recursos para gerir os impactos do sobturismo.
Para enfrentar estes desafios, é necessário implementar estratégias de turismo sustentável que equilibrem o crescimento económico com a preservação ambiental e a qualidade de vida dos residentes. O anterior Governo definiu cinco eixos estratégicos para o Desenvolvimento do Turismo (Estratégia Turismo 2027): — valorizar o território; — impulsionar a economia; — potenciar o conhecimento; — gerar conectividade; — e projectar Portugal.
Eixos que me parecem consensuais, mas, acima de tudo, insuficientes se não forem definidas acções concretas para realização desses eixos. E, afinal de contas, queremos ou não queremos desenvolver o Turismo em Portugal? Eu acredito que mais do que querer, precisamos. É crucial e urgente para o Desenvolvimento Económico do nosso País, mas mais parece um diamante em bruto. Deixamos andar sem grande estratégia, como se fosse maioritariamente um sector de menor importância. Mas não é. Desengane-se quem assim pensa. E se de facto não é maior, é porque nós (politicamente falando), portugueses, não paramos para pensar e definir uma estratégia de acção e de competitividade para desenvolvimento do sector. É mais do que um sector, é o desenvolvimento do País através:
1 — Diversificação de destinos turísticos: promover destinos menos conhecidos pode ajudar a aliviar a pressão sobre as áreas mais populares. Incentivar o turismo rural e em regiões menos exploradas pode distribuir de forma mais equitativa os benefícios económicos do turismo. Além das tradicionais áreas de sol e mar, é importante promover regiões menos conhecidas que possuem grande potencial turístico, como o interior do país, as aldeias históricas e as áreas naturais protegidas. Incentivar o turismo rural, cultural e de natureza pode ajudar a distribuir melhor os fluxos turísticos e evitar a sobrelotação dos destinos mais populares.
2 — Infra-estruturas: uma boa rede de transportes é fundamental para permitir a realização do ponto anterior. Boa rede ferroviária, mas também um aeroporto com dimensão para receber a carga que pretendemos e igualmente uma boa rede de transportes desde esse mesmo aeroporto até pontos chave, de ligação, pelo país que permitam uma rápida e fluida circulação de pessoas.
3 — Infra-estruturas digitais: investir em tecnologia, como “Wi-Fi” gratuito em áreas turísticas e aplicações móveis que forneçam informações úteis aos visitantes. Pode servir vários propósitos: conectividade, cultural, comercial. Acesso rápido a informação, permite melhorar e muito a experiência de descoberta da região a visitar.
4 — Regulamentação e planeamento urbano: implementar políticas de controle do número de visitantes em determinadas áreas e épocas do ano pode ajudar a gerir o fluxo turístico. Ou até mesmo cobrar acesso a determinadas áreas que hoje são de livre acesso. Cidades como Barcelona e Veneza já adoptaram medidas semelhantes com algum sucesso.
5 — Recursos humanos: a sazonalidade da actividade é uma barreira, mas a aposta em recursos humanos qualificados, que saibam falar várias línguas, que saibam atender e deixar boa imagem de marca do país, assegurando claro o desenvolvimento da actividade sem precariedade.
6 — Incentivos para turismo sustentável: apoiar e incentivar negócios que adoptem práticas sustentáveis, como hotéis ecológicos e restaurantes que utilizam produtos locais, pode fomentar um turismo mais responsável.
7 — Promoção cultural e patrimonial: a valorização e promoção do património cultural e histórico de Portugal são essenciais. É preciso investir na Conservação de Monumentos e restauro de monumentos históricos bem como sítios arqueológicos, mas também na realização de mais eventos culturais e aumentar as parcerias locais para desenvolver experiências turísticas autênticas que beneficiem economicamente os residentes.
8 — Envolvimento da comunidade: envolver a comunidade local no desenvolvimento turístico é crucial para garantir que os benefícios do turismo sejam compartilhados aumentando o empreendedorismo local.
9 — “Marketing” e promoção: uma estratégia de “marketing” eficaz pode atrair turistas com o perfil específico mas que seja de maior interesse para Portugal, quer porque podem consumir mais, ou consumir em determinado segmento (enoturismo ou turismo de bem-estar, por exemplo), ou até porque podem investir no país. Também a colaboração internacional, que hoje é muito reduzida, tem que aumentar: participar em feiras e eventos internacionais para aumentar a visibilidade de Portugal como um destino turístico de alta qualidade.
O Turismo em Portugal continua a ter um imenso potencial, mas se por um lado traz inúmeros benefícios económicos, por outro apresenta desafios significativos que precisam ser enfrentados de forma proactiva para evitar um declínio e desgaste das pessoas em relação à actividade.
Melhorar a qualidade do turismo em Portugal requer um esforço conjunto de todos os “stakeholders”, incluindo o Governo, empresas turísticas, comunidades locais e turistas. Acredito que com a implementação de políticas adequadas e uma abordagem equilibrada, é possível mitigar os impactos negativos e garantir que Portugal continue a ser um destino atractivo, tanto para turistas, como para residentes. Se queremos Turismo, temos que redefinir a estratégia e ter um plano de acção concertado entre as várias áreas: Economia, Cultura, Desenvolvimento do Território, Habitação e Infra-estruturas.
A sustentabilidade deve estar no centro de qualquer estratégia de turismo para assegurar que este sector vital continue a prosperar no futuro. Resumindo e concluindo: Turismo SIM ou NÃO?