Por Edwin Hounnou
Na vida, há dois tipos de ladrões. Um é ocasional e o outro é escolhido pelas suas vítimas. No dia 09 de Outubro, iremos escolher o nosso ladrão ou aquele que desejamos para nós, nossa família e para o país. Se nos distrairmos, vamos escolher os que não têm solução para os nossos problemas.
As eleições, se forem livres, justas e transparentes, ajudam ao povo a encontrar o remédio da sua doença.
Num passado longínquo, o povo opunha-se à opressão colonial e à exploração recorrendo-se à fuga para as minas da África do Sul, para as farmas de tabaco, na Rodésia do Sul (hoje Zimbabwe), Malawi (antiga Nyassalândia), Tanganyka (hoje Tanzânia) e Zâmbia (antiga Rodêsia do Norte).
Os camponeses torravam sementes de tabaco e de algodão para não germinarem, como forma de resistir à imposição das culturas a que eram obrigados pelo sistema colonial.
Em 1962, os moçambicanos organizaram-se numa única frente de luta armada e ganharam. Em 1974, venceram o colonialismo. Aos poucos, começou a destruição das infraestruturas e a decâdencia da economia se alastrou até aos dias de hoje.
Todos esperavam que a libertação do povo da opressão, da exploração e do roubo pelos colonialistas tivessem chegado ao fim. Pensavam ainda que a proclamação da independência, o içar da nova bandeira do país fossem o início da liberdade, progresso, desenvolvimento e da paz. Nada disso. Era o começo de um novo colonialismo, mais subtil e perigoso por vir associado à gente da terra, daqueles que haviam pegado em armas na luta contra a ocupação estrangeira.
A independência nacional não se resume na mudança de governador-geral de cor branca por um presidente de cor preta, nem do içar da nova bandeira nacional nem da troca do escudo colonial pelo medical.
A independência é muito mais que tudo isso. A nossa independência é como caril sem sal. Não tem sabor nenhum. À independência lhe falta a democracia, paz e desenvolvimento. O desenvolvimento é como o vértice maior do triângulo formado pela paz, democracia e desenvolvimento.
Reparando para o nosso percurso histórico, notamos, com amargura, que fomos, copiosamente, ludibriados pela Frelimo. Em 50 anos nunca tivemos uma paz efectiva. Andamos em guerras uns contra os outros.
O desenvolvimento socioeconómico continua uma miragem. Não conseguimos imprimir o desenvolvimento que almejamos. Não conseguimos assegurar o que o colono deixou de bom.
Moçambique está sem estradas, não tem indústria nem agricultura, ainda que se tivesse propalado que a agricultua seria o motor do desenvolvimento da economia. Isso seria muito bom que assim fosse, porém, não passou de uma declaração de boas intenções.
A democracia é pisoteada todos os dias. É atropelada na prática quotidiana da acção governativa. As eleições que se realizam periodicamente ignoram o preceito democrático - mudanças.
A vontade do povo não é tomada em conta. Os órgãos de gestão eleitoral não estão para validar a vontade popular expressa nas urnas. Estão ao serviço dos corruptos, fraudulentos e ladrões, abençoados por algum bispo.
As eleições, se forem democráticas, dão oportunidade ao povo de escolher por quem deseja ser governado. Não servem só para o cumprimento do calendário a fim de impressionar a comunidade internacional que dá migalhas que mantêm os corruptos no poder.
As nossas eleições não proporcionam ao povo a ocasião de se livrar de indivíduos perniciosos que destroem o país. É preciso que a gente não vote em ladrões e assassinos comprovados.
Uma eleição livre e justa serve para o povo afastar o partido e seu candidato, em nome da justiça. O povo pode evitar o ladrão que rouba o seu futuro e do país. Serve para afastar os que baixaram a qualidade da Educação e dos serviços da Saúde. Travaram o desenvolvimento socioeconómico, roubam a paz e pugnam contra a democracia.
O ladrão que vem entregando os nossos recursos como gás natural, rubis, areias pesadas, grafite, ouro, carvão às multinationais a preço de banana, pode ser evitado, não votando nele e na sua organização. Só um louco se deixa enganar por uma capulana, um t-shirt, boné ou um copo de sumo para confiar o seu voto em indivíduos que dizem não ter solução para os problemas do país e sua gente.
Atravessamos nossas fronteiras à procura de frangos, um saco de batata, um pacote de cenoura, uma caixa de tomate, feijões, manteiga, queijo, etc., como sinal de que o país está falido. O governo não tem solução para estradas e transporte público condigno. Não há solução para médicos, enfermeiros, professores nem para juízes e procuradores?
O ladrão que nos rouba a carteira, peruca, pulsera, o celular e, à noite, nos rouba o plasma, o relógio, etc., pode ser evitado, através de vigilância e policiamento.
O ladrão que nos roubo o futuro, dos nossos filhos e do nosso país só triunfa quando assim o consentirmos e agraciado pelos órgãos de gestão eleitoral, protegido pela polícia.
O nosso problema são os "carpinteiros" de Daniel Chapo, ele que é simples madeira como ele se identificou. Nós não somos madeira de ninguém nem permitimos que nos talhem.
Canal de Moçambique, 07.08.2024