Por Edwin Hounnou
Temos motivos bastantes para ficarmos preocupados com a situação por que o país - o nosso Moçambique - está a passar. Estamos impávidos e serenos a assistir o país a ser entregue pelo governo do Presidente Filipe Nyusi (FN) ao Ruanda e, através deste, à França. Não conhecemos os termos por que o Ruanda meteu seu exército em Cabo Delgado. Só vimos forças ruandesas a chegarem a Cabo Delgado.
Os militares do Ruanda chegaram num momento difícil do nosso país numa altura em que os terroristas haviam ocupado algumas parcelas de Cabo Delgado, como as vilas da Mocímboa da Praia e de Palma. A TotalEnergies havia declarado a clâusula "força maior" o que lhe permitiu paralisar as suas actividades de exploração do gás na Bacia do Rovuma. O país precisa, sim, de se defender, porém, de forma transparente.
O Presidente da República não ouviu o Conselho Nacional da Defesa e Segurança, um órgão de consulta de assuntos da defesa e segurança por excelência. A Assembleia da República não foi ouvida. O parlamento foi surpreendido como qualquer entidade. FN deve ter conversado com o seu círculo de amigos para meter tropa estrangeira no país.
Para um assunto tão delicado como é a presença, no país, de soldados estrangeiros, deve ser discutida com toda a seriedade por que a questão requer. Porém, não foi isso o que aconteceu. Não colocamos em causa a eficiência das tropas ruandesas, mas, Moçambique é um país soberano, logo não pertence ao Presidente ou a seu circulo de amigos tomar uma decisão tão delicada como esta em nome do povo.
Repisamos que, m política, não há almoços de borla, como o Presidente FN nos quis impingir que as tropas ruandesas estão em Moçambique como gesto de solidariedade entre os povos de Moçambique e do Ruanda. Essa era uma mentira grosseira que se procurou vender aos moçambicanos. Agora está claro que as forças ruandesas não estão em Cabo Delgado por os moçambicanos serem bonitos e Paul Kagamé (PK) seja "irmão" de FN, mas foram os nossos recursos naturais que falaram mais alto.
Companhias do Ruanda estão, em Cabo Delgado, ora na exploração dos naturais, ora na alegada protecção através de projectos que abocanham somas astronómicas como de 20 mil milhões de euros. Moçambique está ainda "arrasca" por uma dívida ilegal de apenas dois mil milhões de dólares e a "maka" prevalece desde 2013. Manuel Chang, antigo ministro das Finanças, está na cadeia, nos Estados Unidos, a aguardar julgamento.
Temos uma certeza quase irrefutável - o nosso país está à venda em hasta pública e o cliente que dá a cara é o Ruanda de PK que tem por trás de si a França. Isso de andar a cantar que soberania reside no povo não passa de uma canção para boi dormir, ficou como um refrão para entreter os mais distraídos dos moçambicanos.
O nosso país está hipotecado a empresas estrangeiras. A História dos povos mostra que quando um exército estrangeiro é chamado para intervir num outro país por causa da disputa de recursos naturais, a situação torna-se bastante difícil de se resolver.
Tanto o terrorismo como a presença das tropas estrangeiras e o caso das tropas ruandesas é o mais intrigante, por estar envolvido de secretismo, seja o de mais difícil solução. O povo moçambicano ainda vai pagar bastante caro pelo atrevimento do Presidente da República ter trazido um exército estrangeiro de forma secreta cujos termos são, apenas, do domínio entre o grupo FN e o regime de PK.
Entendemos que a defesa de Moçambique - da sua integridade territorial, da sua gente, da sua cultura, das suas tradições e dos seus recursos - é missão primordial do seu povo e das suas forças de defesa e segurança. Em casos extremos, pode solicitar apoios de países aliados, porém, sem nunca subalternizarmos as forças de defesa e segurança nacionais, como está a acontecer neste momento em que as FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique) são tomadas como simples apanha-bolas.
As autoridades ao invés de providenciarem formação e equipamento das tropas, optaram por contratar mercenários. A contratação de tropas estrangeiras não é nenhum pecado capital. Discordamos do excesso de secretismo até ao ponto de se esquivar das instituições públicas vocacionadas para o efeito. O problema reside nisso.
O "Financial Times" de Londres revelou, nos meados de Julho, que a multinational TotalEnergies contratou uma empresa ruandesa, que é um veículo operativo do partido no poder no Ruanda para proteger as platform's do projecto de gás, na Bacia do Rovuma em Cabo Delgado. Trata-se da "Isco Segurança", uma joint-venture entre a "Isco Global Limited", do Ruanda, e uma SPV (Special Purpose Vehicle), moçambicana, que viabilizou a legalização da entrada em Moçambique da empresa ruandesa. A SPV tem a cara de um desconhecido, mas esconde, por detrás de si, um verdsdeiro tubarão.
A firma ruandesa (Isco Global Limited) detém 70 porcento das acções e os restantes 30 porcento pertencem à firma moçambicana (SPV). Aclarar ainda que a "Isco Global" é detida pela companhia "Intersec Security Company", uma subsidiária da "Crystal Ventures". Esta é uma companhia de investimentos fundada pelo partido no poder no Ruanda e é chefiada pelo antigo director do Fundo Soberano do Ruanda, Jack Kyonga.
Essa joint-venture está em Cabo Delgado a proteger as plataformas de exploração de gâs, na Bacia do Rovuma. Os seus guardas são, na sua maioria, moçambicanos, que se juntan aos quase cinco mil militares ruandeses que se encontram em Cabo Delgado.
Não nos surpreenderá se nos chegarem informações segundo as quais Cabo Delgado já é parte integrante do Ruanda ou ainda já se tornou país independente. O Presidente FN está a conduzir mal o processo da luta contra o terrorismo. Está pessoalizado demais.
O país que se prepare para momentos mais desagradáveis e se assim acontecer, será devido ao alto nível do secretismo e à marginalisação das instituições públicas moçambicanas. Ninguém exige que sejam tornados públicos os acordos firmados mas os moçambicanos devem saber os termos. Há um grande chefe que está a vender o nosso país. Estamos a virar uma colónia da França através do Ruanda.
O Estado não garante segurança dos seus cidadãos. A guerra e raptos fazem parte dos moçambicanos. O Estado não garante o bem-estar dos seus cidadãos e não há educação eficiente. Temos um Estado gangsterizado e fragilizado por altos níveis da corrupção levada a cabo por "carpinteiros".
VISÃO ABERTA – 13.08.2024