EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (198)
Ontem, revisitei o seu discurso de tomada de posse para este mandato prestes a terminar. É de Janeiro de 2020 e nele retive estas promessas: o Presidente prometia- passe a repetição- ser o Presidente de todos os moçambicanos; disse que nenhum moçambicano devia impingir aos outros o que é meramente sua convicção pessoal; disse que apesar de a Frelimo (o seu partido) ter maioria qualificada no Parlamento não iria reduzir a importância do debate de ideias, pois a Assembleia da República representa todos os moçambicanos; na saúde, a promessa foi da melhoria das condições de trabalho e salários dos funcionários, bem como fazer vincar o projecto “um distrito, um hospital”; na Justiça, prometeu expandir a construção de infra-estruturas e reforço das liberdades de expressão e imprensa, para a garantia da pluralidade de ideias; disse, para todo mundo ouvir, que não haveria tréguas na luta contra a corrupção e que iria dar passos decisivos rumo à fome zero.
E agora, senhor Presidente? Se eu lhe pedisse para fazer o mesmo que eu, revisitar as suas promessas, qual delas acha que foi concretizada? Há-de concordar comigo- se for minimamente sensato- que, em dois mandatos, não conseguiu ser Presidente de todos os moçambicanos. assumiu-se mais como Presidente dos membros da Frelimo.
Afora isso, concentrou-se em questões do seu nicho. A sua preocupação, repito, foi integralmente a defesa dos interesses do partido. Diariamente, o Presidente diz algo que contraria o espírito das suas promessas ou contradiz o que disse. De manhã, afirma uma coisa, de tarde, diz outra.
Navega por qualquer tema com a mesma superficialidade que o faria um bêbado ou alguém cuja sanidade mental é questionável. Todavia, não há nenhuma surpresa nisso. Por que seria um Presidente diferente do ministro que foi?
Contudo, o facto é simples: o Presidente não sabe governar. É essa a razão da sua performance tão errática nestes quase dez anos. A sua relação tumultuada com muitos quadros que este País tem (como foi com o Rosário Fernandes) resulta da falta de aptidão para qualquer tipo de diálogo.
Não sabe ouvir, não entende os projectos, não tem interesse em estudá-los. Repete frases feitas, porque são mais fáceis de decorar, como: “Capim que cresce sozinho” e outras monótonas repetições.
Bom, acho que hoje vou terminar aqui. Mas aborrece-me o facto de os que detém o poder, para além de incompetentes, sejam tratantes, mentirosos e mintam sobre coisas sérias da vida do Estado, sob o olhar sereno de todos, principalmente do partido político que os dá cobertura que é quem os deveria chamar à razão, mas contenta-se em criar monstros!
DN – 06.09.2024