Por Edwin Hounnou
A família do Doutor Eduardo Chivambo Mondlane (ECM), o primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO e não Frelimo) e herói nacional, emitiu um controverso comunicado, no dia 31 de Agosto, nos termos seguintes que passamos a transcrever na íntegra: "A Família de ECM, reconhecendo que os seus ideais, valores, princípios e legado histórico constituem um patrimônio inalienável de toda a Nação Moçambicana e uma fonte de inspiração para todos os moçambicanos de boa fé, constata com bastante preocupação, nas fases de pré-campanha e campanha do pleito eleitoral de 9 de outubro de 2024, alguns cidadãos de má-fé e com fins meramente eleitoralistas, têm vindo a fazer uso indevido do nome de ECM, dentro e fora do país". Não entendemos a real motivação dessa postura. A baboseira não termina por aqui.
Continuando, acrescenta a família de ECM que "Neste contexto, a Família sente-se na obrigação de esclarecer o seguinte: 1.A Família de ECM distância-se e repudia o uso indevido do nome de ECM. 2.A Família de ECM, reafirma e reitera o seu apoio total ao Candidato Presidencial Daniel Francisco Chapo e a FRELIMO organização da qual ECM foi o fundador e primeiro Presidente . 3.É convicção da Família de ECM que o manifesto eleitoral da FRELIMO e do seu Candidato Presidencial Daniel Francisco Chapo, é o garante da continuidade do legado de ECM, sendo, por isso, merecedor do apoio da Família de ECM". Nós não sabíamos que na família de ECM havia gente assim tão obtusa e incapaz de ver a nação moçambicana arco-íris.
Eduardo Chivambo Mondlane deixou de ser uma referência do círculo da sua família e passou a estar acima de todos os moçambicanos. Ele é, apenas, um herói da frente de libertação que liderou. É herói da nação moçambicana que, hoje, militam em diversos partidos como Frelimo, Renamo, MDM, CAD, PDD, PIMO, Podemos, ND, etc. ECM não é herói para, apenas, a gente da Frelimo.
ECM é herói de todos os moçambicanos, fundamentalmente dos excluídos e oprimidos, por quem ECM abraçou a luta e deu a sua própria vida. Para tomar ECM como referência da sua organização política não é preciso autorização da sua família restricta nem mesmo do partido Frelimo. Nem a família de ECM nem a Frelimo possuem o título de propriedade de ECM. ECM nunca pertenceu ao partido Frelimo.
Em Moçambique, não temos heróis de uma família, de um partido nem de uma aldeia, de um distrito ou de uma província. Não há heróis particulares nem privados. Não há heróis de um partido, seja ele qual for. Os heróis são de dimensão da nação. São de todo o país. Eles se confundem com o povo. Não há heróis da Frelimo. Não há heróis da Renamo. Não há heróis do MDM. Não há heróis de um só partido.
ECM é herói de Moçambique. Afonso Dhakama é herói de Moçambique. Uria Simango é herói de Moçambique. Samora Machel é herói de Moçambique. Mateus Gwengere é herói de Moçambique. Josina Machel é heroína de Moçambique. Celina Simango é heròína de Moçambique. Todos são heróis do povo moçambicano do Rovuma ao Maputo.
Quando a FRELIMO proclamou ECM herói nacional pediu autorização a quem? Porquê a figura de ECM distoa para uns e fica bem para outros? A Frelimo pode evocar a memória de ECM e outros não? A família de ECM não tem decoro. Porquê a família de ECM não se bate para fazer conhecer o projecto da nação que ele tinha e perde tempo juntar-se a bandidos e malandros que têm vindo a destruir o nosso país? ECM morreu para implantar uma minoria que vive da corrupção ou morreu para que o povo e o país fossem livres?
Quem leu o livro LUTAR POR MOÇAMBIQUE, escrito por ECM pôde perceber o objectivo final da sua luta. Não lutou para substituir o colono branco pelo colono preto. ECM não deixou a vida tranquila (professor universitário) que levava nos Estados Unidos da América e sujeitar-se a privações da vida de um guerrilheiro para ver a sua pátria tomada e escangalhada pelos seus antigos colegas de luta. Temos certeza de que se ECM estivesse vivo não aceitaria ver o que Moçambique e seu povo estão a passar.
Se ECM pudesse ressuscitar, depois ver o que está a acontecer na sua pátria, morreria de desgosto logo a seguir. Ninguém nos pode impingir que foi por isso, que os melhores filhos da nossa pátria derramaram o seu sangue. Se uns não devem evocar o nome nem a memória de ECM, então, isso deveria ser extensiva à Frelimo que tem vindo a destruir Moçambique, de forma bem grave, e viola o pensamento de ECM.
O Moçambique que vivemos não tem nada com o que ECM sonhou, projectou e derramou o seu sangue, porém, isso não preocupa o "clã" Mondlane. A mã governação que persiste desde 1975, quando o país se tornou independente, limpou a indústria da face da nossa terra e extinguiu a produção agrícola. Para nada nos servem os mais de 60 rios com curso permanente de água e os 360 milhões de hectares de terra arável.
Continuamos de mão estendida a pedir esmola e a nos enganarmos com falsos projectos de agricultura. Quem não se lembra dos grandes projectos como JATROPHA, MOZAGRIUS, SUSTENTA, etc., que só serviram para encher os bolsos de alguns gatunos? Um país sem estradas está condenado. Nós estamos, irreversivelmente, num plano inclinado e vamos deslizando até ao abismo para onde o país foi parar.
O nosso país tem 2700 quilómetros de costa desaproveitada e ao alcance de toda a pirataria marítima que saqueia os nossos recursos e serve de estrada aberta para tráfego da droga pesada que beneficia as elites do regime político. É muito tempo - 50 anos - para o país sair do chão. Estamos empobrecidos não pelo colonialismo mas pelas políticas erradas seguidas até hoje e a corrupção, que é adorada pelo partido no poder, é câncer que nos corrói por dentro e por fora.
Ninguém acredita no modelo da sociedade que está construído. Nem os próprios dirigentes da Frelimo acreditam, por isso, mandam os seus filhos estudar fora do país e, quando precisam de assistência médica, entram no avião e vai o estrangeiro nem mesmo para um check-up de rotina. As escolas nacionais são para o povo. Os centros de saúde, incluindo os hospitais, são para o povo. Eles não precisam disso para nada.
A corrupção está oficiosamente instalada no Estado. Na função pública é roubar fundos e bens públicos e, por isso, é uma excepção à regra. Porquê a família Mondlane não se insurge contra esse crime? Compactua com o banditismo? ECM ajudou a expulsar o colono branco para colocar no pedestal o colono preto? Nada! Nada disso!
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 11.09.2024