Por Afonso Almeida Brandão
Está a chegar ao fim “a corrida” dos quatro candidatos à Presidência da República do próximo dia 9 de Outubro e as “promessas” que cada um dos Partidos Políticos representa e que concorrem (também) ao “poleiro” da AR mais cobiçado da Democracia de Moçambique. E a verdade é que o balanço a efectuar é francamente pobre e confrangedor.
Os intervenientes têm, de um modo geral, evidenciado uma postura pessoal pouco edificante. Ao nível verbal, a falta de respeito pelos adversários e a população entre si, em termos de revalidades tem sido uma constante, bem como a utilização de uma linguagem nem sempre polida e que, por vezes, roça mesmo a falta de educação.
Ao nível gestual também não se pode dizer que a cortesia, o respeito pelo outro e a cordialidade tenham sido as tónicas dominantes. Trejeitos de menosprezo, olhares de ódio e poses de altivez e arrogância têm-se evidenciado com frequência, à excepção da campanha de Venâncio Mondlane — temos de reconhecer e evidenciar.
Os candidatos a representarem os Moçambicanos na Presidência da República de Moçambique para os próximos cinco anos, quer para o Governo e/ou no Parlamento têm estado manifestamente preocupados em menorizar os seus adversários, ao invés de se dirigirem(também eles) aos Eleitores, apresentando-lhes propostas concretas e distintivas, sem menosprezar as eventuais pontes de convergência com os seus oponentes.
O exemplo de urbanidade tem estado arredado das intervenções e também dos eventuais apelos aos cidadões, pelo que, no dia 9 de Outubro, qualquer comentário pós-resultado eleitoral destes políticos sobre um eventual nível elevado de (?) abstenção será um puro acto de hipocrisia e estupidez.
Os intervenientes no apelo ao Voto têm tido, em geral, uma fraca prestação, deturpando, omitindo e/ou mentindo descaradamente, sem apresentarem um real caminho novo para o País. Daniel Chapo, da FRELIMO, é um dos exemplos mais flagrante. Propostas soltas, com um fito tacitamente eleitoralista, tem sido a pedra de toque deste candidato. Um cidadão mais atento e/ou exigente, tem sérias dúvidas sobre o Futuro de Moçambique nos próximos quatro anos! Nenhum dos políticos em questão apresentou uma estratégia devidamente estruturada para o desenvolvimento do País. Nenhum clarificou, no quadro da CPLP e mesmo Europeu em que nos situamos, qual o papel próprio e específico que pretende para Moçambique! Do que se tem conseguido depreender das intervenções dos quatro candidatos às Eleições Presidenciais é que o País irá continuar a pedir dinheiro aos Duadores Intrernacionais para levar a cabo algumas mudanças ou iniciativas, mantendo-se ou mesmo reforçando-se a lógica da subsídio-dependência face àqueles que nos têm ajudado financeiaramente. Em concreto, eis aqui alguns domínios relevantes da vida do País que foram negligenciados ou mal aflorados:
—Energia: quais as soluções técnicas potenciadoras da independência do País e diminuição da factura dos cidadãos… voltar ao carvão, priorizar a energia verde ou tentar o nuclear?
—Transportes: iremos manter um País com importantes capitais de Distrito sem comboios e transportes públicos em condições? Qual o plano rodoviário para a ligação rápida aos principais Aeroportos ao interior do País, designadamente, Beira, Quelimane, Nampula, Nacala, Pemba, Tete e Cabo Delgado e à Capital, por exemplo? Será que Maputo, Beira e Nampula continuarão a ser “um elefante branco” perante os interesses do lobby e das “confusões” que a LAM atravessa, a nossa (dita) Companhia de Bandeira?!
—Água; qual a ideia para tornar o País e a generalidade das populações menos dependente dos cursos de água e dos poços com origem em quintais, Bairros e Povoações Limítrofes? Para quando uma vincada aposta nos projectos de dessalinização com distribuição/irrigação subsequente?
—Reforma do Estado: para quando a diminuição drástica do número de Concelhos e Freguesias num país como o nosso onde raramente ninguém se entende? E a eliminação de Institutos, Fundações e outras entidades inúteis, sugadoras do dinheiro dos contribuintes? Para quando deferimento automático dos diferentes requerimentos dos cidadãos face à falta de resposta atempada dos diferentes serviços do Estado Central e Local?
—Saúde: qual a configuração a dar ao Serviço Nacional de Saúde e às nossas Unidades Hospitalares? E a responsabilização real dos seus dirigentes políticos e operacionais? Para quando a uniformização do sistema de assistência? Aposta-se ou não em força no cheque-saúde ou similar, deixando ao cidadão a liberdade de escolha da sua opção assistencial?
—Educação: a recuperação do tempo de serviço dos professores, dos enfermeiros, dos médicos e dis advogados, sempre prometida por todos (até pelos que sempre a negaram ou nunca ligaram!…), se bem que mais do que justa e urgente, esgota a intervenção do Estado neste domínio? Aparte uma ou outra referência à necessidade de reposição da disciplina e da dignificação dos Docentes, o que está na agenda dos candidatos em termos curriculares e de relação da Escola com o mundo real? Vai continuar a negligenciar-se o saber-fazer em prol dos muito discutíveis saber, saber-ser (ou “ser feliz”)? Será que vamos continuar a ter aulas a Céu aberto, com os alunos sentados na esteira e sem carteiras, além de resguardados por árvores?!?
—Justiça: vai continuar a saga da produção legislativa pelos grandes gabinetes de advocacia, e dos grandes e influentes empresários clientes do sistema Frelimista? Continuará a permitir-se que os cidadãos morram sem lhes ser aplicada ou reconhecida a justiça, tal é a sua inadmissível morosidade? Os mais poderosos irão poder continuar a usufruir de circunstâncias especiais? Haverá mão dura para os Juízes que produzem sentenças à la carte? E para os Procuradores que acusem sem o devido fundamento? E para os advogados litigantes de má-fé? Em suma, o que mudará em Moçambique nos próximos quatro anos? Que País teremos após o novo ciclo Presidencial e mesmo Governativo, admitindo-se que o mesmo se cumpra, a partir de 2025? Os políticos em Campanha para as Eleições Presidenciais e não só, pese uma ou outra pontual excepção, não se comprometem com medidas vincadamente disruptivas, eventualmente inconvenientes para alguns sectores da Sociedade, mas, a termo, estruturantes e potenciadoras de crescimento económico e do bem-estar social. Aparte as acusações que fazem uns aos outros, o que os move verdadeiramente? O poder pelo poder? Ou o poder servir? Ou simplesmente o “poleiro” e as “mordomias” pelo poleiro-mordomias?!...
Em suma: as campanhas em curso dos quatro candidatos às Presidenciais de Outubro próximo, correm muito ao estilo dos programas de futebol, do tipo os “donos da bola” — que poderão ser televisivamente bons para as Audiências, mas têm sido de um vazio completo de ideias e soluções consequentes... E a verdade é que Moçambique precisa de mudandas profundas e urgentes. A ver vamos como as coisas vão correr a partir do próximo Ano.