(Hotelaria e Artesanato: dois cartões de visita do Turismo Moçambicano)
Por Afonso Almeida Brandão
Estamos em época alta. Não é só calor e férias. Há todo um sector que está no pico do ano por agora, mas onde não faltam relatos de descontentamento. Moçambique é um País conhecido pelas suas praias deslumbrantes, cidades históricas e gastronomia rica, e tornou-se um destino de eleição para turistas do Mundo inteiro.
No entanto, este crescimento explosivo do turismo tem trazido à tona uma série de problemas, como tem sido noticiado, e cujas soluções urgem para que consigamos garantir a sustentabilidade e crescimento do sector, mas também, e principalmente, o saudável equilíbrio com os que vivem as cidades diariamente.
É fundamental trabalhar para garantir a sustentabilidade e melhorar a qualidade do turismo. É urgente implementar estratégias que equilibrem o crescimento económico com a preservação ambiental e cultural, além de melhorar a experiência dos visitantes e a qualidade de vida dos residentes.
O fenómeno do sobturismo, ou “overtourism”, é um dos problemas mais graves que Moçambique enfrenta, impactando negativamente a qualidade de vida dos residentes locais. Cidades como Maputo e Beira, assim como regiões turísticas como Ilha de Moçambique, Quelimane, Inhambane, Nacala, Nampula, Pemba e Tete, têm visto um aumento exponencial no número de visitantes. Este influxo massivo de turistas tem levado à superlotação de determinadas áreas e aumentou a pressão sobre infra-estruturas locais, como transportes públicos — que continuam a ser uma vergonha na maioria das nossas cidades — e sistemas de saneamento e por isso mesmo, vemos alguns dos sectores principais, designadamente Unidades Hoteleiras e Rastauração a aumentar o seu valor, como consequência directa da sobrelotação e da necessidade emergente de mais recursos para gerir os impactos do sobturismo.
Para enfrentar estes desafios, é necessário implementar estratégias de turismo sustentável que equilibrem o crescimento económico com a preservação ambiental e a qualidade de vida dos residentes. Um dos anteriores Presidentes da Câmara Municipal de Maputo, Dr. David Simango, definiu cinco eixos estratégicos para o desenvolvimento do Turismo (Estratégia Turismo 2009/10): — valorizar o território; — impulsionar a economia; — potenciar o conhecimento; — gerar conectividade; — projectar a Capital e o País no seu todo.
Eixos que nos pareceram consensuais, à época, mas, acima de tudo, insuficientes se não forem definidas acções concretas para realização desses eixos — o que veio a acontecer em alguns aspectos nesse período. E, afinal de contas, queriamos ou não queriamos já naquela altura, desenvolver o Turismo em Moçambique? Nós acreditamos que mais do que querer, precisavamos e continuamos a precisar. É crucial para o Desenvolvimento Económico do nosso País, mas mais parece um diamante em bruto. Deixamos andar sem grande estratégia, como se fosse maioritariamente um sector de menor importância. Mas não é. Desengane-se quem assim pensa. E se de facto não é maior, é porque nós (politicamente falando), moçambicanos, não paramos para pensar e definir uma estratégia de acção e de competitividade para desenvolvimento do sector. É mais do que um sector, é o desenvolvimento do País através:
1 — Diversificação de destinos turísticos: promover destinos menos conhecidos pode ajudar a aliviar a pressão sobre as áreas mais populares. Incentivar o turismo rural e em regiões menos exploradas pode distribuir de forma mais equitativa os benefícios económicos do turismo. Além das tradicionais áreas de sol e mar, é importante promover regiões menos conhecidas que possuem grande potencial turístico, como o interior do país, as aldeias históricas e as áreas naturais protegidas. Incentivar o turismo rural, cultural e de natureza pode ajudar a distribuir melhor os fluxos turísticos e evitar a sobrelotação dos destinos mais populares.
2 — Infra-estruturas: uma boa rede de transportes a nível Nacional é fundamental para permitir a realização do ponto anterior. Boa rede ferroviária, mas também um aeroporto com dimensão para receber a carga que pretendemos e igualmente uma boa rede de transportes desde esse mesmo aeroporto até pontos chave, de ligação, pelo País que permitam uma rápida e fluida circulação de pessoas.
3 — Infra-estruturas digitais: investir em tecnologia, como “Wi-Fi” gratuito em áreas turísticas e aplicações móveis que forneçam informações úteis aos visitantes. Pode servir vários propósitos: conectividade, cultural, comercial. Acesso rápido a informação, permite melhorar e muito a experiência de descoberta da região a visitar.
4 — Regulamentação e planeamento urbano: implementar políticas de controle do número de visitantes em determinadas áreas e épocas do ano pode ajudar a gerir o fluxo turístico. Ou até mesmo cobrar acesso a determinadas áreas que hoje são de livre acesso. Cidades como Joanesburgo ou Zimbabwe já adoptaram medidas semelhantes com algum sucesso.
5 — Recursos humanos: a sazonalidade da actividade é uma barreira, mas a aposta em recursos humanos qualificados, que saibam falar várias línguas, que saibam atender e deixar boa imagem de marca do país, assegurando claro o desenvolvimento da actividade sem precariedade.
6 — Incentivos para turismo sustentável: apoiar e incentivar negócios que adoptem práticas sustentáveis, como hotéis ecológicos e restaurantes que utilizam produtos locais, pode fomentar um turismo mais responsável.
7 — Promoção cultural e patrimonial: a valorização e promoção do património cultural e histórico de Moçambique são essenciais. É preciso investir na Conservação de Monumentos e restauro de monumentos históricos (a título de exemplo citamos a Fortaleza da Ilha de Moçambique e de Maputo) bem como sítios arqueológicos, mas também na realização de mais eventos culturais e aumentar as parcerias locais para desenvolver experiências turísticas autênticas que beneficiem economicamente os residentes.
8 — Envolvimento da comunidade: envolver a comunidade local no desenvolvimento turístico é crucial para garantir que os benefícios do turismo sejam compartilhados aumentando o empreendedorismo local.
9 — Marketing e promoção: uma estratégia de marketing eficaz pode atrair turistas com o perfil específico mas que seja de maior interesse para Moçambique, quer porque podem consumir mais, ou consumir em determinado segmento (enoturismo ou turismo de bem-estar, por exemplo), ou até porque podem investir no país. Também a colaboração internacional, que hoje é muito reduzida, tem que aumentar: participar em feiras (é bom não esquecermos da FACIM, agora com uma dinâmica mais activa que tivemos este ano), e eventos internacionais para aumentar a visibilidade de Moçambique como um destino turístico de alta qualidade.
«O turismo em Moçambique continua a ter um imenso potencial» — quem o diz é Noor-Momade, da Agência de Viagens COTUR — «mas se por um lado traz inúmeros benefícios económicos, por outro apresenta desafios significativos que precisam ser enfrentados de forma proactiva para evitar um declínio e desgaste das pessoas em relação à actividade» (sic).
Melhorar a qualidade do turismo em Moçambique requer um esforço conjunto de todos os stakeholders, incluindo o Governo, Empresas Turísticas, comunidades locais e turistas. Acreditmos que com a implementação de políticas adequadas e uma abordagem equilibrada, é possível mitigar os impactos negativos e garantir que Moçambique continue a ser um destino atractivo, tanto para turistas, como para residentes. Se queremos Turismo, temos que redefinir a estratégia e ter um plano de acção concertado entre as várias áreas: Economia, Cultura, Desenvolvimento do Território, Habitação e Infra-estruturas.
A sustentabilidade deve estar no centro de qualquer estratégia de Turismo para assegurar que este sector vital continue a prosperar no Futuro. De que estamos à espera, afinal de contas?■