Por Edwin Hounnou
Tenho estado atento aos debates do programa "Noite Informativa" da STV e, com muita tristeza, noto que as actividades de campanha de Venâncio Mondlane, mais conhecido pela sigla VM7, candidato às eleições presidenciais, nâo passam. Muitas vezes, os apresentadores se limitam a dizer que o VM7 está no lugar X ou Y e não mostram as imagens dos trabalhos.
Se as eleições visam repôr a justiça que vem sendo violada desde que o país se tornou independente, isso repugna a consciência de quem se bate pelo equilibrio. Tem que ser o povo a escolher o que quer. Ninguém tem a prerrogativa de dizer que aquele seja bom e outro seja mau. O povo não é criança que precisa de tutor para lhe mostrar o caminho. A STV está nada a pautar pelo princípio da imparcialidade.
Não vamos falar da TVM (Televisão de Moçambique) - uma televisão pública que sobrevive através dos impostos dos cidadãos - comporta-se como se fosse a genuína voz do partido no poder. Sempre agiu de tal modo. É desconfortável um partido tomar uma estação televisiva ou uma estação de rádio públicas para beneficiar um grupo que defende interesses privados.
A Frelimo tem o direito de ter prioridade numa estação emissora ou televisão públicas. Os cidadãos não pagam impostos para só fortalecer a Frelimo em detrimento das demais forças políticas. A Frelimo pode criar uma estação emissora sua, até já tem a Rádio Índico, e deixar a TVM e a RM (Rádio Moçambique) para o público. Nem todos se revêem na Frelimo. A isso se chama respeito pelo público e é respeito pela diferença.
Discordamos com o que se diz sobre o manifesto do PODEMOS - partido que suporta a candidatura de Venâncio Mondlane - de que vai repôr a pena da morte e de "mandar passear" os direitos da mulher, jovem e criança, isso não dá direito seja quem for para sufocar a campanha de um candidato. Um democrata esclarece o que acha correcto e apela ao povo para se precaver do candidato ou partido propõe a morte caso vença as eleições. Não cabe ao concorrente nenhum mandar boicotar a campanha do outro.
Ao proceder de tal forma, a PGR toma partido e induz aos demais órgãos do Estado a posicionarem-se para prejudicar algum partido ou candidato. A notificação que a PGR (Procuradoria-Geral da República) move contra Venâncio Mondlane visa intimidá-lo. Essa perseguição não é nova. A rejeição da CAD baseou-se para afastar Venâncio Mondlane da corrida. A Frelimo não descansa enquanto não o enterrarem em definitivo.
A canção que preocupa a PGR diz "SUCA". Desde quando isso é "impropério"? A PGR nunca notificou a Frelimo que usa meios do Estado como viaturas, combustíveis, funcionários do Estado na sua campanha. Membros e simpatizantes da Frelimo pisoteiam símbolos de outros partidos e a PGR nunca tugiu nem mugiu. A PGR está a fazer interferência grosseira para refrear a dinâmica de um candidato que tem tido aderência generalizada através de uma canção que soa a vontade do povo.
Contrariamente ao que se podia esperar numa sociedade que se pretende democrática, o partido no poder tomou de assalto todas as instituições públicas. Os tribunais estão sufocados pelo partido no poder. Os órgãos de gestão eleitoral são dominados pelo partido no poder. Os órgãos de comunicação social públicos são como a Frelimo.
Em época eleitoral, os funcionários públicos são tomados como membros do partido no poder e os meios do estado como viaturas estão envolvidas em campanha do partido governamental. Já não há necessidade de tentar esconder porque a violação da lei é aberta. É público que o Estado - todo ele - está dominado pelo partido no poder. Trata-se de um segredo aberto. Até a polícia está ao serviço do partido no poder. Prende a quem incomodar o seu patrão.
Um estado submisso não serve os interesses da maioria. A Frelimo impôs uma sociedade submissa, conformada para que tenhamos gente que só sabe obedecer. Anda por aí um discurso de um alto dirigente do partido Frelimo que tenta negar que a qualidade do ensino tenha baixado, no país. Pergunta ele que, se no passado a qualidade era boa, porquê não havia doutores. É ridícula a persistência de um pensamento desse nível tão baixo quanto pobre.
Negar que o ensino que temos embrutece as nossas crianças é o mesmo negar que o Sol é centro da vida. Já estamos na recta final do ano lectivo e as crianças ainda não têm o livro de distribuição gratuita. Que país é o nosso? É o mesmo que negar que a Terra gira em volta do Sol. Negar que um povo que não encontra um paracetamol no hospital ou centro de saúde, vira um eterno doente. É um prisoneiro incapaz de quebrar as algemas que o aprisiona. É recusar que a Terra leva 24 horas para girar em volta do seu próprio eixo.
Esse é o tipo de dirigentes que o nosso país tem. Por isso, não ficamos admirados pelo retrocesso a que fomos vítimas. Não podíamos, de forma alguma, escapar a essa calamidade com dirigente dessa jaez. O nosso atraso socioeconómico não é por algum azar, ou é predestinação, mas à má qualidade de dirigentes que temos tido desde a independência nacional. Uma mangueira não pode dar a abacate, pois, seria um milagre.
Estamos a colher os frutos da árvore que a Frelimo plantou - um Estado fraco que discrimina os seus cidadãos em função da sua militância partidária. Em resultado disso tudo, temos uma das economias mais fracas do mundo onde a corrupção impera e domina. Temos um país desindustralizado e onde predomina a agricultura atrasada. Não estradas nem cabotagem. Para sobreviver, importamos até do que bem locamente poderíamos produzir.
Pode-se reparar para um importante pormenor que, desde que a campanha começou, os raptos pararam. Os raptores entraram de férias colectivas ou adormecidos. A camada mais perseguida pelos raptores gostariam que todos os dias fossem de eleicões. Todas as semanas aconteciam raptos. Pelo menos um por semana. Por onde andam os raptores ou seus cabecilhas ? Já extorquiram o suficiente? Os cabecilhas dos raptos andam em campanha?
Isso nos permite concluir que os raptos sejam um fenômeno político-económico que emponderam os bandidos. Os raptos não param nem são esclarecidos por beneficiarem alguns indivíduos. Há 12 anos que ocorrem os raptos nas cidades da Beira, Chimoio, Nampula e, com realce, na Cidade de Maputo, mas nunca são esclarecidos. A polícia sempre diz que os raptores estão a monte. Um dia, o tal monte vai desabar por albergar raptores, malfeitores e bandidos.
O nosso problema não está na renovação. Deve incidir na remoção do que está podre. A Frelimo está apodrecida. A renovação o problema.
VISÃO ABERTA - 20.09.2024