Por Gabriel António da Silva Gorongosa
Mia Couto, renomado escritor moçambicano, tem sido apontado repetidamente como um forte candidato ao Prémio Nobel de Literatura. Contudo, em 2024, ele novamente não foi proclamado vencedor. Este artigo explora as possíveis razões para sua exclusão, desde questões estilísticas até tensões no meio literário moçambicano.
A Estratégia de Periferia e o Marketing Literário
Nos últimos anos, Mia Couto preferiu se distanciar do circuito literário europeu, permanecendo em Maputo. A criação da Fundação Fernando Leite Couto, dedicada ao apoio de novos talentos literários, é vista como um gesto estratégico para centralizar sua influência. Essa ação, além de fortalecer seu controle sobre o cenário literário moçambicano, também é interpretada como uma tentativa de atrair “marionetas” literárias, enquanto reforça sua posição perante contemporâneos hostis.
Obras como Terra Sonâmbula (1992), Vozes Anoitecidas (1986) e O Outro Pé da Sereia (2006) fizeram de Mia Couto uma figura de destaque. Entretanto, contemporâneos como Ungulani Ba Ka Khosa, Suleiman Cassamo, Marcelo Panguana e Nelson Saúte não receberam a mesma atenção internacional. Khosa, com o marcante Ualalapi (1987), Cassamo com O Regresso do Morto (1989), Panguana com Como um Louco ao Fim da Tarde (1996), e Saúte com Rio dos Bons Sinais (2008) foram relegados ao esquecimento em grande parte dos círculos editoriais internacionais, evidenciando as disparidades de tratamento no cenário literário.
O Papel da "Máquina Editorial"
A ascensão de Mia Couto foi facilitada por uma eficiente máquina editorial, especialmente em Portugal. Contudo, enquanto Mia atingiu notoriedade, seus contemporâneos como Khosa, Cassamo, Panguana e Saúte acabaram excluídos do circuito de prestígio internacional. Isso levanta questões sobre as dinâmicas editoriais que favorecem certos autores em detrimento de outros, mesmo aqueles de qualidade equivalente ou superior.
Simultaneamente, Mia Couto também se posiciona ativamente para promover o escritor angolano José Eduardo Agualusa ao Prémio Camões, tendo já defendido publicamente Agualusa quando este foi preterido. Hoje, ambos colaboram em obras coletivas, tanto em prosa quanto em teatro, consolidando sua presença no cenário literário lusófono e evidenciando a aliança que reforça a projeção de suas obras.
As Sombras de Mia Couto
O que muitos ignoram é que Mia Couto, cujo nome verdadeiro é António Emílio Leite Couto, tem um passado vinculado ao Partido FRELIMO. Após a constituição da Organização dos Jornalistas de Moçambique, Mia desempenhou um papel central no Departamento de Trabalho Ideológico do partido, onde era responsável por promover palestras sobre o jornalismo monolítico, alinhado com a linha oficial da FRELIMO.
Sua lealdade ao partido permitiu-lhe usufruir de diversas benesses, incluindo a nomeação como diretor da Agência de Informação de Moçambique e do jornal Notícias, cargos que reforçaram sua posição privilegiada. No entanto, Mia mantém silêncio sobre os crimes ideológicos da FRELIMO, especialmente em relação à gestão dos Campos de Concentração, onde mais de cem mil moçambicanos morreram por discordarem da linha do partido.
Mia Couto também sempre se posicionou contra a oposição política em Moçambique, assinando abaixo-assinados e criticando opositores do regime. Contudo, nunca adotou uma postura vigorosa contra o autoritarismo da FRELIMO, que mantém mais de vinte milhões de moçambicanos abaixo da linha da pobreza absoluta. Esse silêncio conivente com os abusos do partido contrasta com sua imagem de escritor engajado e é um dos fatores que mina sua reputação entre críticos mais atentos.
Geração Intermédia: Talentos Ofuscados
Além de seus contemporâneos, uma geração de escritores intermédios tem sido igualmente ofuscada pela máquina editorial e mediática de Mia Couto. Autores como Lucílio Manjate, com Rabhia (2013), Adelino Timóteo, com Nós, os do Macurungo (2012), e Pedro Pereira Lopes, com O Livro do Homem Líquido (2017), enfrentam grandes dificuldades em obter o mesmo reconhecimento. Embora barrados em Portugal, estes escritores têm encontrado uma recepção digna no Brasil, onde suas obras são mais valorizadas.
Os "Livros Maus" de Mia Couto
Apesar de sua grande notoriedade, algumas obras de Mia Couto receberam críticas menos favoráveis, o que pode ter influenciado sua não proclamação como vencedor do Nobel em 2024. Entre essas obras, destacam-se:
"A Confissão da Leoa" (2012): Embora seja amplamente lida, foi criticada por sua narrativa simbólica e por vezes confusa, que alguns julgam não atingir a profundidade emocional de obras anteriores.
"Sombras da Água" (2003): Considerada por muitos críticos como uma obra menor, carecendo de personagens complexos e uma narrativa consistente.
"Vagas e Lumes" (2014): Um livro de crônicas que, embora com seus méritos, não tem a densidade dos romances de maior impacto de Mia.
"O Último Voo do Flamingo" (2000): Embora muito apreciada por alguns, outros consideraram a trama dispersa e excessivamente experimental, com um realismo mágico que pareceu forçado.
Essas obras mostram que, embora Mia Couto tenha uma obra vasta e amplamente elogiada, nem todos os seus livros mantêm o mesmo nível de qualidade, algo que pode pesar na avaliação de um prêmio de prestígio como o Nobel.
Fragilidades Literárias e a Não Proclamação do Nobel
Apesar do grande impacto de Mia Couto, sua escrita apresenta certas fragilidades. Críticos apontam para uma repetição estilística e uma tendência de explorar temas locais de forma hermética, o que limita o alcance de sua obra. Essa abordagem pode não ter atingido a universalidade necessária para um reconhecimento como o Prémio Nobel. Além disso, o distanciamento de Mia em relação a seus pares literários e a sua postura de controle sobre o cenário editorial podem ter contribuído para sua não seleção.
Mesmo assim, Mia Couto crê-se estranhamente elegível ao Prémio Nobel, muito graças à máquina editorial que o favorece, e que anualmente lhe atribui prémios, inclusive os mais insignificantes, como forma de manter seu nome em evidência na mídia internacional.
Conclusão
A ausência de Mia Couto entre os laureados do Nobel de 2024 reflete um conjunto de fatores. A repetição estilística de sua obra e a falta de universalidade, aliadas à marginalização de seus contemporâneos como Ungulani Ba Ka Khosa, Suleiman Cassamo, Marcelo Panguana, Armando Artur, Paradona Roque, e Nelson Saúte, bem como de autores da geração intermédia como Lucílio Manjate, Adelino Timóteo, Sangare Okapi, Aurélio Furdela, Pedro Pereira Lopes, revelam tensões significativas no cenário literário moçambicano. Ao lado de José Eduardo Agualusa, Mia também parece empenhado em consolidar sua influência, ampliando o círculo de poder que ele e seus aliados controlam na literatura lusófona.
PS1: Este artigo foi censurado pela imprensa portuguesa (Visão, observador, Público, Expresso, Diário do Notícias e Correio da manhã, daí o autor ter solicitado encarecidamente que o fizesse publicar na mais independente publicação, Moçambique Para Todos, ao serviço dos moçambicanos, na terra e na diáspora.
PS2: Hoje mataram um jornalista em Maputo e o autor pede que lhe publique para afirmar que se Mia Couto (em Maputo) e Agualusa (a fazer fotografias na ilha de Moçambique) se tivessem empenhado em criticar a FRELIMO pelo recurso de balas verdadeiras para reprimir acompanhantes de Venâncio Mondlane a violência não chegaria a tal extremo, de a mesma FRELIMO assassinar o advogado Elvino Dias. Mia Couto, como sempre, ficará calado porque recebe muito dinheiro do regime, através da sua firma IMPACTO, de consultoria ambiental. Obviamente, ao acomodado Agualusa toca outro quilhão.