Por Damião Cumbane
A Campanha Eleitoral caminha rapidamente para o fim. No caso dos candidatos à Ponta Vermelha, se me perguntarem o que tenho a dizer sobre ela, direi que ela teve um vencedor inquestionável: Venâncio Mondlane.
Como candidato independente, sem qualquer máquina eleitoral, fez o que mais ninguém, jamais fez ou poderá fazer, num futuro próximo.
Com todas as adversidades que lhe foram criadas pela Renamo, pelo STAE, pela CNE e pelo Conselho Constitucional, Venâncio Mondlane e somente ele, conseguiu sobreviver, a tudo e todos, incluindo sabotagem dos seus princípios adversários e da PRM que não lhe facilitou a vida e chega ao fim da Campanha Eleitoral como um candidato com popularidade temida e assustadora.
Queiramos ou não ele conseguiu impor-se no meio de duas poderosas máquinas eleitorais: a Frelimo e a Renamo.
Ele nunca permitiu que nas hostes dos dois principais partidos políticos moçambicanos houvesse sono ou sossego, ele fez multiplicar os deveres de cuidado que, sem ele, nem a Frelimo, nem a Renamo teriam tido.
À par desses lógicos e necessários deveres de cuidado dos seus adversários, o que é óbvio, em paralelo, multiplicaram esquemas fraudulentos da parte dos partidos que dominam e manietam os órgãos de administração eleitorar e o Conselho Constituconal.
A Frelimo valeu-se da sua poderosa e inquestionável máquina eleitoral super implantada em todo o território nacional e em todas as esferas das instituições do nosso país, para vender e revender, sobremaneira, a imagem do seu candidato, DanielTchapo.
A Renamo, igualmente valendo-se mais ela do que o seu candidato, igualmente lutou com os recursos de que dispõem para não ser atrapalhada pelo desconhecido e emergente Podemos, depois de ela própria ter tomado parte activa para fazer desmoronar a CAD e, por essa conduta, a Renamo vai pagar um preço extremamente pesado nas eleições do dia 9. Essa conduta da Renamo, aliada ao tratamento que deu ao Venâncio Mondlane no congresso de Alto Molocué, bem como à impopularidade de Ossufo Momade, são factores que, se as minhas previsões não falharem, farão a Renamo chorar, chorar de verdade, numa mistura de lágrimas e ranho.
Nesta análise, não deixarei de elogiar a postura de Lutero Simango que, tendo iniciado a sua campanha eleitoral com uma mão cheia de nada, foi crescendo à medida que a campanha ia decorrendo e agora, no fim, vê-se um Lutero Simango diferente, mais ambicioso e com discurso mais aguçado, de um verdadeirolutador. Pena que ele não se tenha dado mais tempo de vasculhar ainda mais o Sul do Save e, dessa forma perturbar um pouco mais os seus adversários.
Quanto ao candidato Daniel Tchapo, ele apesar de contar com uma máquina esmagadoramente bem calibrada e poderosa, ele há-de ter pago ou, há-de estar a pagar o preço do erro que a Frelimo cometeu, ao ter protelado até ao limite do prazo, a indicação do seu candidato.
Daniel Tchapo, tendo sido indicado candidato naquele espectáculo do Comité Central que todos nós vimos, não teve tempo para se preparar. Ele, comparado com Armando Guebuza e o próprio Filipe Nyusi, foi o candidato que não lhe foi dado tempo para nada: ele não preparou o partido à sua imagem, ele não conhece a Comissão Política ou, está a conhece-la sob pressão, ele não conhece o actual governo e, se conhece os seus colegas do Comité Central, o certo é que nunca os liderou, ele não conhece os Comités Provinciais e os respectivos Primeiros Secretários, para não falar dos Distritais. Daniel Tchapo foi colocado na posição de um condutor que vai à oficina levantar uma viatura que sofreu uma grande reparação e assumir o risco de, de seguida, meter o carro na estrada para fazer uma viagem de longo curso.
A Frelimo inventou desnecessariamente um trabalho adicional e espinhoso ao Daniel Tchapo, ao lhe ter indicado em cima da hora. Ele está-se comportando como um estudante que vai fazer um teste sem ter estudado o suficiente. Tchapo está aprendendo, correndo.
Entretanto, todas as vénias e louros desta campanha eleitoral vão para Venâncio Mondlane que, diferentemente dos seus 3 rivais, que têm máquinas eleitorais já calibradas, ele praticamente inventou um suporte chamado Podemos, em cima da hora, no minuto 90 e, perante essa contingência, tal como na Inglaterra, onde o jogo só termina quando o árbitro apita e, enquanto isso não acontece, ainda há jogo e, cada minuto pode ser fatal. Foi assim como a aliança de Venâncio Mondlane é Podemos nasceu e, quer queiramos, quer não, a contragosto dos seus adversários e detratores, ele é um fenómeno de massas, ele faz inveja a qualquer político. Ele, mais do que ninguém, conseguiu aglutinar a juventude, principalmente a desfavorecida, à sua volta e, do Rovuma ao Maputo, foi o que se viu. Ele é vencedor inquestionável da Campanha Eleitoral que, entretanto, não deve ser confundida com o vencedor das Eleições do dia 9 de Outubro pois, estas, têm muitas premissas até a proclamação do vencedor.
Ignorar ou pequenizar Venâncio Mondlane no actual cenário político nacional seria a pior estupidez ou farsa de qualquer um que acompanha os eventos políticos nacionais dos tempos em curso.
Venâncio Mondlane arrastando consigo uma enorme popularidade, acabou dando boleia ao Podemos e, introduziu incógnitas ao desfecho final das eleições.
LO Podemos vai, inevitavelmente à Assembleia da República à custa da corrosão da Frelimo, Renamo e MDM.
Tomara que eu esteja equivocado.