No mais recente “Democracy Index da The Economist”, só Portugal, Cabo Verde, Timor-Leste e Brasil são considerados democracias entre os países lusófonos.
Não deixa de ser um alerta para o caso de Moçambique (do mesmo modo que em Angola) onde os moçambicanos foram, em 9 de Outubro de 2024, chamados às urnas para eleições gerais para PR, AR e assembleias e governadores provinciais.
Certamente que a resolução dos muitos problemas de Moçambique, não se resolvem com uma mera mudança no poder. Mas basta olhar para Cabo Verde para se perceber que a alternância política, com a transferência pacífica do poder, diz muito mais sobre o futuro de um país, do que uma espúria descentralização (tribal) defendida pela Frelimo – depois de três presidentes oriundos do sul (changanes), um do norte (maconde), agora a “vez do centro” (chisena), Daniel Chapo que obviamente será entronizado como PR – partido que domina o poder nestes 50 anos pós-independência, num primeiro momento através de um regime ditadorial, e depois da introdução do multipartidarismo, com recurso a sucessivas fraudes eleitorais, que à semelhança da corrupção, se transformou numa forma de ser e estar no poder político frelimista em Moçambique.
A este propósito, permito-me citar um excerto do artigo do analista moçambicano Alexandre Chiure “Os caminhos melindrosos da fraude eleitoral no país”, publicado aqui no MPT (https://macua.blogs.com/files/evidencias-ed-179-08.10.2024.pdf) no jornal “EVIDENCIAS”, 8 de Outubro de 2024 (um dia antes das eleições):
«Hoje, a fraude é um adversário com quem os políticos devem contar, em particular os na oposição, nos seus sonhos ou projectos políticos de governar Moçambique. Instalou-se e ganhou patente. É reconhecida dentro e fora do país com a sua capacidade de viciar os resultados e onde a vontade dos eleitores não tem importância. Cresceu aos olhos de todos os moçambicanos e da comunidade internacional, também.
(…)
As eleições deixaram, por isso, de ter interesse no país quando alguém pode concorrer e ganhar, mas não governar porque, semelhança do que aconteceu em algumas autarquias em 2023, cujas eleições foram as mais fraudulentas da história da democracia moçambicana. Alguns dos importantes municípios caíram nas mãos de partidos na oposição. Toda a gente acompanhou, mas foi-lhes negada a possibilidade de governar. A fraude tomou conta do assunto. O resto, é só ficar calado.
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A fraude começa com o processo de recenseamento eleitoral, cujos resultados são manipulados para atingir alguns objectivos políticos por parte de quem está no poder. A prova disso foi o que aconteceu em Gaza, bastião da Frelimo. Os dados do censo, apurados e tornados públicos pelos órgãos eleitorais, correspondiam às projecções do INE para 2040. Números que davam conta de que naquela província todos eram adultos e em idade eleitoral, o que foi estranho.
(…)
Já nas eleições propriamente ditas há os que optam pelo enchimento das urnas e outros, no fim, na fase decisiva, pela manipulação estatística dos resultados eleitorais em que os dados de uns, passam para os outros concorrentes e vice-versa, resultando daí falsos vencedores e falsos vencidos e ponto e final. Para dificultar a produção de provas de ocorrência da fraude, há quem encarrega-se de fazer sumir editais originais sob guarda dos órgãos eleitorais e ninguém é responsabilizado no meio disso. No lugar destes, aparecem cópias e com dados manipulados e são os que, no fim do dia, ditam o resultado.
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Por isso, meus senhores, vai ganhar o partido Frelimo e Daniel Chapo.»
Pasme-se, Alexandre Chiure, qual sublime prestigiador, conseguiu adivinhar o resultado das eleições.
Se calhar, sabendo de antemão que depois da instauração do sistema multipartidário, a Frelimo sempre ganhou fraudulentamente as eleições com o recurso à velha máxima do ditador russo Joseph Staline "Não importa como se vota e nem quem vota. O importante é quem conta os votos".
Carlos Antunes