Por Tomás Vieira Mário
Daniel Francisco Chapo e Venâncio Bila Mondlane foram os dois candidatos presidenciais mais votados nas eleições de 9 de Outubro.
Este facto, sobre o qual penso não haver polêmicas, diz -nos que ambos têm responsabilidades particulares sobre o devir mais próximo de Moçambique, em nome do eleitorado que neles votou.
Nessa medida, e independentemente do veredicto a ser proclamado pelo Conselho Constitucional, a conduta de ambos, doravante,conta! Os seus actos ou omissões contam!
Nos últimos dois dias (Sábado e Domingo), dias muito tensos, os moçambicanos estiveram atentos, para ouvir o que um e outro iriam dizer, na sequência do baleamento cobarde de Elvino Dias e Paulo Guambe, figuras muito associadas à candidatura de Venâncio Mondlane.
Daniel Chapo veio a terreiro na tarde de Sábado, com um comunicado inequivocamente pessoal (Isto é distinto e separado do partido Frelimo), escrito na primeira pessoa (eu) e sem qualquer menção ou símbolo do seu partido. Um documento relativamente longo, marcado por declarações (ou reafirmação)de princípios e de valores de ética política e de democracia.
O documento qualifica esta morte como um "brutal assassinato"; um acto que "não é apenas um ataque contra indivíduos comprometidos com o Estado de Direito Democrático, mas uma "afronta à democracia". Além de exprimir "total repúdio a este crime e a qualquer tipo de violência e intolerância", Daniel Chapo declara o seu "compromisso em defender a verdade e a justiça em Moçambique".
É uma declaração pessoal extremamente forte, de gênero inédito entre a classe política moçambicana de um modo geral. Num período de grande volatilidade social, o valor e o alcance desta declaração podem ter várias leituras.
Mas a minha leitura individual é a seguinte: com esta declaração Daniel Francisco Chapo quis marcar uma posição de distanciamento perante este tipo de condutas criminosas, com feições de terrorismo de Estado. A conclusão lógica desta minha leitura é um pre-anúncio de que, se ele for declarado Presidente da República, este tipo de crimes vai ser estancado. Caso esta minha interpretação seja um equivoco...então que ela sirva como um forte apelo nesse sentido.
Por seu lado, hoje, Segunda-feira, Venâncio Mondlane tomou, na minha opinião, uma atitude responsável e encorajadora: mobilizou os seus apoiantes para se absterem de manifestações de rua. Independentemente de como tal "desconvocação" possa ser politicamente interpretada, o mais importante é o seu efeito final: evitar a violência e possíveis actos de desacato à autoridade, perante uma Polícia como a nossa: uma Polícia ávida de violência e francamente despreparada para defender a ordem constitucional democrática.
Colocados lado a lado, estas posições dos dois candidatos presidenciais mais votados, constituem factores de desanuviamento criando expectativas sobre um objectivo em que a Nação deve, doravante, concentrar-se: o futuro!
Para quem quiser saber: era "pegando" cada palavra, frase ou gesto motivador dos "beligerantes" que os mediadores logravam, passo a passo, acordos entre as partes nas históricas negociações de paz de Roma!
Daniel Chapo e Venâncio Mondlane são ambos anunciantes de uma nova era na História Política de Moçambique - e esta é uma grande responsabilidade geracional, perante a qual têm ambos vários obstáculos por transpor.
O passado, de tão pesado e obscuro, deve ser deixado sobre os ombros dos seus autores e sequazes: só eles podem por ele responder! Para já...é para a frente que se deve marchar. Com diálogo honesto: sem exclusões, sem "esquemas" nem "espertezas"."