Por Damião Cumbane
Estamos perante dois casos em que se deve dizer, com absoluta certeza, que a sorte existe.
Um cidadão desconhecido, o Albino Forquilha, apenas com o rótulo de presidente de um partido político totalmente desconhecido e mal organizado, pelos resultados eleitorais que vão sendo publicados, colocam Albino Forquilha numa posição privilegiada para vir a ser um possível Líder da Oposição, "um sonho com o qual Forquilha nunca sonhou".
É como morrer num acidente de avião, sem nunca ter viajado de avião, simplesmente porque um avião caiu em cima da casa dele e ele foi uma das vítimas.
O Podemos também é outro partido político que, desconhecido, senão apenas nos papéis, coube-lhe duas sortes, a começar pelo facto de, do nada, ter de ir ocupar uns bons e privilegiados lugares na Assembleia da República, por um lado e, por outro, estar bem alinhado para ser a segunda bancada mais bem representada na Assembleia da República caso não haja reversão dos resultados, à medida que estes vão sendo anunciados.
Tudo sorte, tudo casualidade nos seus extremos.
Podemos nem conseguiu concorrer a todos os círculos eleitorais para as Assembleias Provinciais porque nem estrutura local para o efeito tem entretanto, quis a sorte que o Podemos, por estes dias esteja a sonhar em vir a ser a segunda força parlamentar mais poderosas do país.
Sendo um partido político que nem estrutura tem, resta-me saber com que qualidade de deputados nos vai presentear na Assembleia da República.
Estou na expectativa de ver a qualidade de deputados e de debate que o Podemos vai levar à Assembleia da República.
Só espero que não decepcionem os eleitores.
Todos este mar de sorte tem 3 culpados: o STAE/CNE e o Conselho Constituconal por um lado, que coartaram a participação da CAD nas eleições, uma coligação de partidos que estava melhor organizada e estruturada para, com melhor e maior qualidade tomar parte nas mesmas, a todos os níveis e, na mesma proporção levar deputados mais qualificados à Assembleia da República. O STAE/CNE é o Conselho Constituconal negaram a participação de uma força política melhor organizada para, no seu lugar, ter de entrar uma menos organizada e qualificada, numa coligação de esforços que, no lugar de fazer crescer a qualidade de debate político no país, reduz-o ao nível dos seus protagonistas. Ganham as forças políticas e agendas partidárias mas perde o país/Estado como uma colectividade que a todo interessa.
A outra vertente da culpa vai para Venâncio Mondlane que teima em continuar, quanto a mim, o cidadão mais famoso do país, no actual cenário político nacional.
Pela primeira vez, um candidato independente, sem qualquer tipo de suporte partidário, fora o desconhecido e incipiente Podemos, conseguiu embaraçar a Frelimo e toda a sua máquina partidária, desde o início.
Pela primeira vez, viu-se uma Frelimo em verdadeiro estado de emergência.
Negar este facto, só aconteceria em mentes poluídas de politiquices putrefactas.
Venâncio Mondlane é um verdadeiro fenómeno de massas, não sei se é natural ou político mais aquela capacidade para chamar a sim seguidores, só ele mesmo.
Uns o comparam a Samora Machel e Afonso Dlhakama mas eu prefiro não lhe comparar a ninguém pois, enquanto os 2 tinham máquinas estatais e partidárias bem inseridas, do Rovuma ao Maputo, Venâncio Mondlane não tem nenhuma máquina que lhe suporte. É somente ele mesmo.
É a este fenómeno humano que Albino Forquilha e o Podemos tiveram a sorte de se atrelarem.
Só espero que, quer o Forquilha, quer o Podemos, assim como os Deputados que irão ao Parlamento, em nome do Podemos, não tenham ilusões e, com os pés assentes nunca se esqueçam de onde e como saíram para terem ido parar na Assembleia da República. De contrário, candidatam-se a entrar agora, na Legislatura que entra em funções em 2025 e, desaparecerem nas eleições de 2029, num movimento de entra e sai.
Enquanto isso, estão de parabéns, Albino Forquilha e o Podemos.