Por Edwin Hounnou
O Presidente da República, Filipe Nyusi (FN), exonerou, através de um decreto presidencial, o Tenente-General Bertolino Jeremias Capitine, do cargo de Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, a 04 de Outubro, em pleno Dia da Paz em que se comemora a assinatura, em Roma, do Acordo Geral de Paz.
O que assim tanto pesou para que FN tomasse tal atitude drástica? Perguntas como esta devem andar a pairar nas cabeças das pessoas que continuam sem uma resposta satisfatória.
A posição de FN deixou a gente atónita. Os militares são instruídos a não protestarem ou reclamarem contra uma ordem por muito que seja, claramente, injusta e, abertamente, absurda, como é o caso ora em apreço em que um alto dirigente militar é exonerado por ter dito a verdade e só a verdade que não apodrece nem se enferruja.
Segundo o nosso ponto de vista, existem dois importantes motivos que forçaram a FN agir de tal modo. 1. O General Bertolini Capitine provém da guerrilla da Renamo, talvez, por isso, tivesse sido preterido, ainda que tivesse uma patente militar superior (Tenente-General) e FN preferiu chamar um de patente inferior (Major General), promovendo-o à patente de General do Exército, pelo facto de provir das fileiras das Forças Armadas de Moçambique, antiga designação das forças governamentais. 2. A outra razão (segunda) é a persistência da intolerância política que caracteriza a maneira de ser e de estar de um bom número de militantes do partido governamental.
Nós ouvimos bem o que o General Bertolini Capitine falou e fê-lo num ambiente académico, que exige abertura e sinceridade. Não falou para a imprensa alguma para ter que ocultar algumas verdades. Foi no contexto de uma palestra numa Universidade e não mentiu nada.
FN demonstrou que não é bom comandante ao pautar pela intolerância. Um bom comandante, sabemo-lo por experiência própria, deve ser inclusivo. Deve ser como um bom pai que não se socorre da medida extrema.
Ao exonerar o General Bertolini Capitine, FN mostrou uma caroling vermelha a todos. Não é segredo para ninguém que a presença das tropas ruandesas, em Cabo Delgado, é da responsabilidade única e exclusiva de FN que não consultou a nenhum órgão do Estado.
O Conselho de Estado, um órgão vocacionado para esses assuntos, não foi encontrado nem achado. A Assembleia da República foi surpreendida como qualquer orgão de importância menor.
Todos sabem que muito do que se diz sobre a guerra terrorista, ora em curso em Cabo Delgado, é um conto para boi dormir. As causas desta guerra não são do domínio público. Há muitos indivíduos a comerem à custa desta guerra.
A chegada à Cabo Delgado dos mercenários russos - WAGNER - foi feita em segredo absoluto. Todos foram surpreendidos. Quanto custaram aos cofres do Estado? - É segredo de estado, responderão eles, com os bolsos abarrotados de dinheiro.
O mesmo aconteceu com os mercenários sul-africanos - DAG ( Dick Advisory Group). Os dois grupos entraram e sairam em segredo. É sempre bom que outros nos ajudem a debelar o fogo que esteja a consumir a nossa casa, mas tem que haver regras e princípios.
FN procedeu como tivesse convidado esses grupos para sua quinta ou machamba para não ter que prestar contas. Ele esqueceu-se, de todo, de que Moçambique tem donos - que é o povo moçambicano, o suposto patrão do Presidente Filipe Nyusi, o empregado que pode mentir, enganar, ludibria e fintar o seu patrão.
Não há um pingo de mentira nas declarações do General Bertolini Capitine e a exoneracão que recaíu sobre ele é injusta.
Um Estado de Direito Democrático não se funda nem se consolida sobre práticas injustas ou vinganças. Faltam cerca de dois meses para o fim do mandato de FN como Presidente de Moçambique, por isso, deveria evidar algum esforço para não criar mágoas nas pessoas a si subordinadas.
Ninguém duvida dos poderes de que está revestido pela Constituição mas a contenção deve estar acima de tudo.
Ao agir de tal maneira, FN está a abrir feridas que se julgavam saradas. Essa exoneração não tem nada a ver com qualquer violação da disciplina militar e muito menos ainda com a divulgação de algum segredo militar. Mostra, apenas, que continuamos ainda longe de nos encontrarmos como um povo, uma nação reconciliada e reencontrada. É, tão-somente, uma atitude de vingança.
A exoneração do General Capitine não traz nenhuma mais-valia às FADM e muito menos ainda ao Estado moçambicano. Serviu, somente, para demonstrar que continuamos muito distante da tolerância política e da reconciliação nacional.
O egoísmo e a arrogância de FN falaram mais alto que a razão, o que volta a colocar a paz, que tanto o povo deseja e almeja, num plano inclinado.
FN deu mais ouvido ao coração e à fofoca que à razão. Isso é igual ao que ouvimos de FN, há pouco, que "você não faz bem o seu trabalho", referindo-se ao seu adido de imprensa, Arsénio Henriques, depois de 10 anos contínuos de trabalho conjunto.
É justo que a gente se pergunte o que se passa com Filipe Nyusi? Não encontra um lugar privado para repreender os seus colaboradores? Na nossa Presidência da República, as coisas estão a ir de mal a pior!
A partir desta esquina, queremos endereçar o nosso abraço de solidariedade ao General Bertolini Capitine e ao jornalista Arsénio, vítimas de injustiça e intolerância política e de maus tratos e falta de consideração, respectivamente, por parte do Presidente da República, Filipe Nyusi!
O país pertence a todos os moçambicanos e não podemos fechar os olhos à prática de injustiça.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 09.10.2024