Agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, dispararam contra cinco indivíduos que não participavam nas manifestações. Destes, dois perderam a vida no local, outros contraíram ferimentos causados pelas balas na perna, mãos, peito e órgãos genitais.
O primeiro caso de baleamento envolvendo quatro cidadãos aconteceu no bairro de Namicopo, o maior da província de Nampula.
Testemunhas contam que o incidente aconteceu quando a PRM tentava dispersar manifestantes que em jeito de protesto incendiaram pneus no meio da via pública condicionando a transitabilidade de pessoas e bens.
“Alguns manifestantes correram para o quintal e a polícia foi até lá. Aos olhos deles, todos ali presentes eram manifestantes. As balas acabaram atingindo tanto os que estavam a manifestar como os residentes que nada fizeram”, contou uma das testemunhas em anonimato.
Entrevistado familiar de uma das vítimas, frisou também que os baleados não estavam a manifestar e nem sequer queriam dirigir-se à rua.
“Não estavam na manifestação aqueles miúdos, eles estavam no quintal de um tio, os polícias entraram lá e foram regar eles com tiros”, contou Nelinha Abudo, tia de uma das vítimas.
No segundo caso, o baleamento aconteceu dentro do recinto do Hospital de Nacala quando um jovem tentava ajudar feridos na manifestação. A vítima foi baleada no peito e nos órgãos genitais pelo Comandante Distrital da PRM.
“Eu estive em casa, saí porque dispararam para um moço e eu fui espreitar. Eu tirei a carrinha e levei com outro jovem para o hospital. Quando chegamos ao hospital, o comandante distrital disparou para mim”, contou a vítima num vídeo que a “Integrity” teve acesso.
Em retaliação aos baleamentos que culminaram com mortes, a população do bairro de Namicopo tentou linchar um agente do Serviço de Investigação Criminal. Ainda nesta tarde a população “visitou” casas de alguns agentes da PRM.
Com a situação de instabilidade em Nampula vários militares foram vistos a patrulhar em diferentes pontos da província de Nampula. Lembre-se que ontem (12.11) o Comandante-Geral, Bernardino Rafael, orientou que cada moçambicano seja guardião da democracia e da ordem pública na sua comunidade contribuindo com o policiamento local para defesa do País, por isso declarou ponto final às manifestações.
“Queremos convidar todos aqueles que trabalham, vamos trabalhar. As crianças vão fazer os exames, porque aqueles que atacam a ordem e segurança pública estão a nos ouvir e nós estamos a dizer basta”, disse.
O comandante garantiu que estão criadas condições para o funcionamento pleno de todas as instituições públicas assim como privadas. E em caso de ameaças à segurança pública há equipas em prontidão para responder a essas situações.
Em relação a denúncia enviada pelo partido PODEMOS ao Tribunal Penal Internacional e outras organizações de relevância, pedindo uma série de sanções a 15 servidores públicos incluindo o Comandante-geral. Bernardino Rafael mostrou não estar intimidado, porém disse que os promotores da manifestação deverão igualmente ser sancionados.
“Se for necessário um processo nós vamos responder, mas eles também vão responder. Temos que responder a todos, se o caminho é o Tribunal Penal Internacional, eles também devem ir para lá. Em nenhum País do mundo se permite um cidadão dizer quer golpear, nem na democracia mais antiga da Grécia não há isso”, declarou.
Bernardino Rafael falava numa conferência de imprensa dada no âmbito do anúncio da quarta fase das manifestações convocadas por Venâncio Mondlane cuja primeira etapa durará três dias iniciando nesta quarta-feira (13 de novembro) até sexta-feira (16 de novembro).
Quarta etapa que provavelmente será de 15 dias está dividida em fases
Com o fim da terceira etapa de manifestações totalizam dez dias de protesto faltando 15 para somar os 25 anunciados por Venâncio Mondlane depois da morte de Elvino Dias e Paulo Guambe.
Na época, o candidato presidencial disse que as manifestações inicialmente programadas para reivindicar os resultados eleitorais serviriam também para pedir justiça pelos assassinatos de dois membros de extrema importância na sua candidatura e do partido PODEMOS.
Segundo a comunicação de Venâncio Mondlane, feita na noite de segunda-feira, a quarta etapa das manifestações será dividida em fases e causará maior impacto para a economia moçambicana. A primeira fase durará três dias, de quarta a sexta-feira.
No que diz respeito a marcha Venâncio Mondlane afirmou que as mesmas serão concentradas nas capitais provinciais, nas fronteiras e nos portos.
Ao longo da sua declaração o promotor das manifestações disse que os camionistas, de todo o país, deveriam paralisar as actividades.
Ademais disse que não há obrigação alguma na participação das marchas ou nas outras formas de protesto. Entretanto apelou aos manifestantes a não vandalização de bens públicos ou privados, caso se registem situações do género deverão ser denunciadas. (Ekibal Seda)
INTEGRITY – 13.11.2024