Abstrato
Esta obra trata da história moderna, mas os debates historiográficos que conduz têm interesse que vai muito além deste período da história. Vemos isso na introdução (p. 7-14) de F. Bethencourt: “Numa perspectiva da história mundial, a expansão portuguesa é [muitas vezes] reduzida ao carácter simbólico da viagem do Gama, mas também é definida como a forma tardo-medieval de um processo que seria finalmente desenvolvido um século depois, com contornos capitalistas, pelas Companhias Holandesas e Inglesas das Índias Orientais.
[...] Na verdade, a história da expansão portuguesa ainda é hoje relativamente compartimentada no espaço de uma historiografia nacional, até mesmo nacionalista. A única área que mostra um fôlego mais aberto às realidades inter-regionais e internacionais é a do Brasil colonial, justamente porque o Brasil se tornou independente há quase dois séculos e sua posição geoestratégica atrai pesquisadores de vários países. Noutras áreas, apesar dos esforços de vários historiadores entre os quais destaco Magalhães Godinho, que souberam inserir a história da expansão portuguesa num contexto global, os estudos desenvolvem-se em grande parte num sistema de auto-referências muito distante de qualquer perspectiva comparativa. (p. 8) [...] É verdade que estamos perante um profundo problema sociológico e histórico: a expansão ultramarina desempenhou um papel essencial na história do país e na criação da identidade nacional no século XIX, um papel muito mais importante do que no caso de Espanha ou no caso de Inglaterra.