Por Stélio Biriba
Hoje estive em Ressano Garcia, num trabalho jornalístico por conta das manifestações que têm acontecido há mais de um mês um pouco por todo o país. É incrível a união e determinação daquela gente que jura de pés juntos que não quer mais a FRELIMO na liderança dos destinos do país, aliás, não foi fácil trabalhar em Ressano, a população não quer outra coisa que não seja alternância do poder, e a justiça eleitoral decorrente do escrutínio de 09 de Outubro. Na nossa à Ressano, a população disse que a única forma de nos deixarem trabalhar era de mostrarmos todo o ambiente que se vivia naquele instante, que filmássemos tudo e sem censuras, e nós respondemos que sim, que era para isso que ali estávamos, reportar a situação de Ressano. Após o diálogo e posterior entendimento, recebemos aval dos nativos para trabalhar. Durante o trabalho, houve algo que me chamou a atenção durante a reportagem, foi exactamente neste momento do vídeo, quando dou por mim, já estava sob protecção dos manifestantes, eles seguiam-me ininterruptamente e acompanhavam-me para tudo quanto fosse lugar e não permitiam sequer que se colocasse em causa à minha integridade física. Confesso, nunca me senti tão amado e protegido pelo povo, foi indescritível e surreal.
Com cânticos, empunhando dísticos e cartazes, Ressano desabafava à sua maneira, dizendo que “o povo está cansado”, os militares, quase todos eles, juntaram-se em algum momento aos manifestantes, levantaram os braços, acenaram e partilharam o mesmo espaço passificamente: quão humanos estão sendo estes militares que pelo menos não esquecem da promessa que lhes foi feita, o famoso RETROACTIVO... o ambiente ficou uma espécie de “juntos e misturados”, não obstante cenários de alguma agitação e violência protagonizada pela polícia.
Em Ressano, a população dita às suas leis, lá quem manda é a população, a estrada que dá acesso à fronteira está bloqueada, ao longo dela, mesas e cadeiras plásticas, cerveja e água sobre a mesa, música nas barracas e um DJ super talentoso... eu, deslumbrado e assustado com o cenário ouvia os aplausos do povo pelo trabalho, povo este que garantiu que nada nos iria acontecer durante o nosso exercício, foi maravilhoso... enquanto eu gravava e caminhava, o atacador da minha sapatilha preta soltou, apareceu uma jovem, inclinou-se e atacou-os novamente, na euforia do momento, não pude ver o seu rosto, a única coisa que sei dizer é que usava um vestido branco.
Em meio o cenário CALAMITOSO de Ressano, vão os meus mais sinceros agradecimentos à população e, principalmente aos dois jovens que me escoltavam durante a reportagem.
MUITO OBRIGADO POVO DE RESSANO! VOCÊS SÃO INCRÍVEIS!!!