Por Afonso Almeida Brandão
Não nego que possa haver alguns jovens jornalistas licenciados em diversas áreas e com melhor formação do que no Passado, mas, de acordo com a minha experiência profissional, devem ser os que emigram. Porque em relação aos restantes tenho todas as razões para pensar o contrário, a começar pelas empresas de Comunicação Social que é o sector que conheço melhor. O número de falências de Jornais desde 1990 cresceu significativamente, em particular dos pequenos jornais semanais e de uns tantos “on line” que são mais de 40% do total, o que não revela grande melhoria na qualidade da gestão (ou da falta de investimento para aguentar o “embate” inicial). Quanto às grandes empresas jornalísticas, nomeadamente, do Estado e também das Televisões e Rádios Privadas TV-Sucesso e MIRAMAR aceito que o panorama geral existente tem uma melhor formação entre os jovens que ali consigam empregos na Redacção e que não são muitos, porque se trata de um sector da economia, nomeadamente de feição indústrial, em estagnação. Isto, apesar de tudo...
Entretanto, vejo sinais preocupantes em geral, na Economia e na Sociedade Moçambicana, no que respeita aos jovens que chegam actualmente ao Mercado de Trabalho e procuram emprego não só na Comunicação Social mas também nos mais diversos sectores profissionais, pois a verdade é que uma boa parte desses jovens apresentam e têm mesmo enormes deficiências de formação e estão longe da tão apregoada Geração mais bem preparada. Desde logo a maioria da percentagem desses jovens a que o Partido FRELIMO (dito «chuxalista») e o seu Governo têm dado “alguns” empregos nos jornais que lhes estão afectos, é bom reconhecer que de uma forma geral são mal pagos, os resultados da sua formação não são brilhantes e tem resultado em serem paus mandados dos menos jovens que chegaram antes deles, sem ideias diferentes e com uma enorme tentação de transformar as fantasias governativas em realidade virtual. Além de trazerem para a vida política e económica a falta de exigência existente no sistema da profissão exigente que é a Imprensa.
Acompanhei, de perto, esta realidade — inicialmente no matutino NOTÍCIAS, de Outubro e Dezembro de 1994, a convite do saudoso jornalista e querido colega Augusto de Carvalho e, posteiormente, na RTK, entre Janeiro de 1995 e Agosto de 1996, como Director de Informação, a convite do Eng. Carlos Klint.
Também na minha experiência resultante do contacto com a Comunicação Social, em termos profssionais desde 1968, quando dei os primeiros passos como Jornalista no ex-DIÁRIO, à época, em Lourenço Marques (actual Maputo), a verdade é que, no geral, só vi até meados de Janeiro de 1976, desorganização, péssimo serviço aos Leitores e aos Anunciantes, arrogância despropositada e um grave desconhecimento das normais regras da boa educação. Temos os exemplos do José Catorze do então «Notícias da Beira» e do Mia-Mia Couto do jornal NOTÍCIAS, ambos como Directores.
Nomeadamente os experientes como nós e já com “tarimba” suficiente naquela altura, a verdade é que NÃO éramos tratados como incapazes e inúteis como são agora os estagiários; e basta estes jovens que estão a dar os primeiros passos no jornalismo tentarem telefonar para uma qualquer Empresa Oficial do Estado ou Privada, ou de qualquer outra entidade ou Organismo — onde possamos incluir os diversos Ministérios do nosso Governo —, para tentar recolher informação necessária à concretização de uma qualquer notícia ou marcação de uma entrevista ou reportagem, para se perceber do que estamos a falar...
Pessoalmente não vou aos jogos de futebol, mas vejo Televisão e não poucas vezes dou comigo a ver hordas de jovens e outros menos jovens, certamente muitos deles licenciados, a caminharem encurralados como animais entre os agentes da PRM e a comportarem-se nas mais diversas ocasiões como “selvagens analfabetos”, sem culpa para os que realmente o são por nascimento. Não sei contar quantos destes jovens pertencem à Geração mais bem formada dos últimos anos, mas alguns serão.
Vou frequentemente a cafés, pastelarias, restaurantes, supermercados, bem como a repartições públicas, além de conhecer bem o ambiente dos Órgãos de Comunicação Social e respectivas Redacções existente por essa vasta Imprensa espalhada pelo nosso País, e vejo alguns jovens entre os restantes funcionários de outros sectores, que tento evitar porque, por experiência, prefiro o conhecimento e a atenção dos mais velhos relativamente à ignorância demonstrada por muitos jovens jornalistas ou repórteres estagiários — ou mesmo outros jovens ligados a outras áreas profissionais que conheci — mas falo sobretudo da área da Imprensa com quem convivi diariamente — através de diversos jornais, rádios e televisões por onde passei e trabalhei, ao longo de cinco décadas e meia de actividade initerrupta.
Penso, apesar de tudo, não ser um velho jornalista rabugento e complicado — como alguns já me “baptizaram” e que não gosta da Juventude. Para quem não sabe devo adiantar que tenho netos que adoro e convivo com jovens das mais diversas profissões a quem tento explicar os problemas da nossa Sociedade e, acima de tudo, da profissão à qual estou ligado como Jornalista sério e de carácter. Não poucas vezes, quando me pedem uma opinião sobre como encontrar uma futura carreira profissional seja ela qual for, aconselho aos jovens e às suas famílias sempre a mesma receita: façam uma Licenciatura numa boa Universidade Europeia da área da vossa escolha e depois prossigam, se puderem pagar, o Mestrado numa Escola da Especialidade escolhida no estrangeiro, porque se forem pelo menos alunos razoáveis os empregos chegarão até vós, bem pagos e sem grandes problemas. Trata-se, em princípio, de passar a ter uma melhor qualidade de vida, melhor salário, melhor sistema de segurança social, reforma certa e filhos integrados em sociedades mais avançadas e mais justas. Evidentemente que para grande parte dos jovens de Moçambique este sonho (digamos assim) é para muito poucos, pois não há dinheiro suficiente para ir para fora do País... e cá dentro a miséria é bem visível e do conhecimento de todos...
Sempre gostei muito de Moçambique, onde nasci na cidade da Beira, mas posso adiantar que na minha juventude e na vida adulta lutei modestamente pela Democracia e pela Justiça Social, dei algum contributo para o desenvolvimento da economia, adoro os cantos e recantos do nosso País, mas não sou estúpido e vejo com clareza cristalina que a (des)governação de grande parte dos últimos 50 anos que o Regime da FRELIMO nos condenou à pobreza e ao atraso no contexto dos países da CPLP e também dos PALOP´s deitaram por terra muitas esperanças. E este factor é a causa principal de muitos jovens, que também não são estúpidos, mas que acabariam por optar por emigrarem para a Europa (aqueles que puderam, naturalmente), correndo riscos imprevisíveis. Conheço vários casos de jovens (hoje homens crescidos e chefes de Família), mas não vou aqui mencionar nenhum desses exemplos nem nomes.
Hoje a única contribuição que dou ao meu País como jornalista e cidadão Luso-Moçambicano são os meus escritos, o meu saber e conhecimento, onde há muitos anos defendo um sistema de educação que privilegie as creches e o pré-escolar de qualidade com alimentação e transporte, com o objectivo de todas as crianças chegarem ao ensino oficial aos seis/sete anos com níveis de desenvolvimento semelhantes. Depois, é a pedagogia da exigência e do trabalho, a meias com os conhecimentos, os comportamentos e as competências que todo o sistema de Ensino deve garantir, já que na maioria das famílias mais pobres e mais ignorantes isso não é provável.
Não será culpa nossa que os nossos governantes ou (des)governates, como queiram chamar, não compreendam nada dessa estratégia e prefiram continuar a “apelidar” de «a fantasia da Geração mais bem preparada de sempre» — que não corresponde de maneira nenhuma à verdade da Realidade da generalidade dos jovens Moçambicanos. Nota curiosa: alguém afecto ao Ministério da Educação disse recentemente, na Assembleia da República, que os problemas da Educação são antigos. Que grande descoberta, sim senhor!
Aqui chegados temos de reconhecer que é obra que passados quase cinco décadas da (des)governação do Partido FRELIMO e dos três últimos Presidentes da República e respectivos “Metralhas” de “poleiro” e de “bancada” destes “chuxalistas” da “treta”, apenas a antiguidade dos problemas tenha crescido, principalmente com destaque para os dois últimos mandatos de Filipe Nyuse. Será este o LEGADO que ele nos deixa?!... Provavelmente é, quem sabe!!!...